Para Yara de Novaes, o teatro não se limita a fazer uma revisão de suas crenças, podendo ser também porta aberta para acessar outros lugares e públicos. Essa concepção sintetiza a direção de “Neblina”, peça protagonizada por Leonardo Fernandes e Fafá Rennó que estreia sexta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil.

“Quis fazer um espetáculo mais ritualístico, que, ao tratar da inexorabilidade da morte, pudesse evocar uma certa orientalização”, observa a diretora mineira, que trabalhou sobre um texto inédito de Sérgio Roveri, escrito a pedido de Fernandes. Este dá vida a um senhor que, durante uma noite de forte neblina, recebe em casa uma desconhecida. Depois de passar com o carro sobre uma pedra numa estrada deserta, Sofia (Fafá) caminha mais de uma hora em busca de socorro, encontra uma casa com as luzes acesas onde reside Diego (Fernandes), homem solitário e de personalidade pouco amistosa. O frio e a neblina obrigarão Sofia a esperar até o amanhecer para poder partir. 

“É um texto muito interessante, cheio de camadas e metáforas. A principal questão dele é como lidar com a imprevisibilidade da vida, especialmente em relação ao fim das coisas”, registra Yara, que teve como guia “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, de Sogyal Rinpoche, que traz ensinamentos baseados no budismo sobre como conduzir a vida.

“Nos ensaios, todos dias a gente lia um trecho do livro, fazendo dali um lugar de meditação, tentando compreender de outra forma algo tão assustador e indesejado como a morte. A saída para todos nós, no sentido de entender o sofrimento da perda, talvez esteja na simplicidade da vida, na inspiração e na expiração”, analisa a diretora.

A montagem, que ficará em cartaz até 17 de fevereiro, tem nomes premiados nos créditos. Roveri é ganhador do Shell de melhor autor por “Abre as asas sobre nós”. Fernandes, por sua vez, é o primeiro ator mineiro, em 60 anos, a receber o prêmio APCA de melhor ator (2017), da Associação Paulista dos Críticos de Artes, pelo solo “Cachorro Enterrado Vivo”.
 

Leonardo Fernandes lança neste ano “Pérola”, segundo filme dirigido por Murilo Benício, em que interpreta o dramaturgo brasileiro Mauro Rasi. O longa é estrelado por Drica Moraes
 
O convite para Yara de Novaes dirigir a peça coincidiu com um momento em que ela encerrava temporada de “Neste Mundo Louco, Nesta Noite Brilhante”, ao lado de Débora Falabella. “Deu tudo certo. Tive a possibilidade de passar um mês em Belo Horizonte com pessoas com quem queria muito trabalhar”, salienta. Ela retornará a “Neste Mundo Louco” um dia após a estreia de “Neblina”.

Serviço
“Neblina” – Em cartaz de 10 de janeiro a 17 de fevereiro, de sexta a segunda, às 20h, no CCBB (Praça da Liberdade, 450). Ingressos: R$ 30 (R$ 15, a meia).