array(31) {
["id"]=>
int(127311)
["title"]=>
string(57) "Mandetta: 'O Brasil está sendo governado pelo algoritmo'"
["content"]=>
string(7116) "
A mesma ideologia de grupos internacionais que patrocinam mundo afora a reemergência do neonazismo e de outros grupos de extrema direita – que propõem a ruptura da ordem democrática institucional e o desmanche do multilateralismo – fundamentam parte do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
A avaliação é de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, demitido do cargo em 16 de abril de 2020 quando as mortes por COVID-19 se aproximavam de duas mil. O motivo da demissão foi a discordância de Bolsonaro com as diretrizes ao enfrentamento indicadas pelos especialistas, — como o isolamento social; e também, porque Mandetta se recusou a adotar a cloroquina de maneira generalizada para o tratamento da COVID-19.
Ao acompanhar os bastidores desse embate entre, de um lado a racionalidade, a ciência e, de outro, os adeptos da retórica charlatã focada num projeto disruptivo, Mandetta conclui: “ O Brasil, hoje, é administrado pela internet e por pessoas que não fazem parte do governo. O Brasil está sendo administrado pelo algoritmo”, afirma ele, ao Estado de Minas.
“Fui chamado para fazer um trabalho técnico, e montei uma equipe técnica. Em 2019, nem entrevistas dava. Em 2020, tive que me expor. O que percebo é que há um núcleo militar, de boa formação e boas intenções, mas que, quando mostra-se o caminho da racionalidade e da boa governança, existe em paralelo ao mundo militar um entorno do presidente. E existe um mundo que desconhece — e até agride o núcleo militar. É onde estão os filhos e o que é comumente chamado de gabinete do ódio, mas frequenta (o Planalto) de dentro da sala (do presidente)”, considera.
O uso das redes sociais, com o auxílio dos algoritmos e estratégia retórica sofisticada, explorando as predisposições individuais, para manipular a informação e construir os fatos alternativos, foi amplamente denunciado por ocasião do Brexit e outros eventos como a eleição de Donald Trump. De forma análoga, vem sendo utilizado no Brasil.
“Não é uma coisa ao acaso; é algo fundamentado, que Trump fez nos Estados Unidos e Bolsonaro faz aqui. Teve o Brexit como pano de fundo e está na reemergência de movimentos neonazistas e extremos, que propõem a ruptura absoluta da sociedade e um desmanche do multilateralismo e da tentativa da humanidade de ter um caminhar mais sólido e que se aproveita de toda situação para minar toda e qualquer instituição, colocando tudo em descrédito”, afirma Mandetta.
Sem qualquer compromisso com a democracia, os defensores desta ideologia que tem em Olavo de Carvalho, no Brasil, um dos disseminadores, não se importam se o desfecho for uma ditadura. “Se isso vai terminar em um estado democrático ou ditatorial, na cabeça deles, tanto faz. Se for ditatorial, para eles, melhor. É um risco absurdo que há no mundo. Há grande acesso à informação pelas redes sociais, mas no lado de trás do balcão estão pessoas especializadas em manipular o pensamento. Quem comanda o Brasil hoje é uma banca de internet”, assinala Mandetta.
O ex-ministro é uma das figuras que têm sofrido ataques virtuais por conta das posições contrárias às ideias do governo Bolsonaro.
Armamentos
A obsessão do governo Jair Bolsonaro em disseminar o uso de armas no Brasil está dentro deste contexto. “O país pode entrar em uma crise armada com proporções muito altas”, afirma Mandetta, em referência ao período pós-pandemia.
“Isso não vai — e não pode — acabar bem. No meio de uma pandemia, aumentar impostos sobre itens da saúde e zerar impostos sobre armas, é passar uma mensagem para que as pessoas se armem. Um país que tem tantas diferenças e iniquidades, que se traduzem em uma violência urbana que acomete tanto o cidadão, isso vai acabar em uma situação de conflito”, afirma Mandetta. “É como se o Brasil estivesse sentado em um barril com álcool e pólvora, e o presidente resolveu fumar charuto. Isso, para explodir, é a qualquer momento”, diz ele.
Considerando que o Brasil sairá da crise sanitária muito mais lentamente do que poderia e precisaria, - e na avaliação dele este será um semestre fúnebre – a partir da vacinação da população, quando o país se reerguer da crise sanitária, haverá a mega crise pós-pandemia. Com o agravante: é esta liderança que considera “tóxica” face à crise da saúde que estará diante das múltiplas dimensões da crise social.
“Essa liderança, tão tóxica na crise de saúde, vai ter que dar respostas à essa mega crise que virá na educação, na cultura, no emprego. Temos um país à beira de uma convulsão se não tivermos uma liderança capaz de mostrar um caminho e um projeto de reconstrução, conciliação e reencontro deste país consigo mesmo. Se apostar ainda mais na pancadaria, na divisão, no ódio e nessa coisa maniqueísta de polarização absoluta e não houver a voz do centro, da moderação, do ‘calma, vamos sair disso juntos’ e inserção internacional, o país pode entrar em uma crise armada com proporções muito altas”, sustenta Mandetta.
A entrevista
Jornalistas do Estado de Minas conversaram, por vídeo, com Luiz Henrique Mandetta. Entre esta quinta e a sexta-feira, pílulas da entrevista serão publicadas. No domingo, vão ao ar os trechos que tratam de temas políticos, como a disputa eleitoral em 2022.
"
["author"]=>
string(47) "Bertha Maakaroun e Guilherme Peixoto/ EM.com.br"
["user"]=>
NULL
["image"]=>
array(6) {
["id"]=>
int(576730)
["filename"]=>
string(14) "madadettaa.jpg"
["size"]=>
string(5) "36716"
["mime_type"]=>
string(10) "image/jpeg"
["anchor"]=>
NULL
["path"]=>
string(6) "posts/"
}
["image_caption"]=>
string(88) " Ex-ministro diz que algoritmos ditam os ritmos do pais(foto: Rafael Alves/EM/D.A Press)"
["categories_posts"]=>
NULL
["tags_posts"]=>
array(0) {
}
["active"]=>
bool(true)
["description"]=>
string(190) "Ex-ministro da Saúde afirma que Bolsonaro segue 'pessoas especializadas em manipular o pensamento'. 'Quem comanda o Brasil hoje é uma banca de internet'
"
["author_slug"]=>
string(46) "bertha-maakaroun-e-guilherme-peixoto-em-com-br"
["views"]=>
int(118)
["images"]=>
NULL
["alternative_title"]=>
string(0) ""
["featured"]=>
bool(false)
["position"]=>
int(0)
["featured_position"]=>
int(1848)
["users"]=>
NULL
["groups"]=>
NULL
["author_image"]=>
NULL
["thumbnail"]=>
NULL
["slug"]=>
string(53) "mandetta-o-brasil-esta-sendo-governado-pelo-algoritmo"
["categories"]=>
array(1) {
[0]=>
array(9) {
["id"]=>
int(436)
["name"]=>
string(6) "Saúde"
["description"]=>
NULL
["image"]=>
NULL
["color"]=>
string(7) "#a80000"
["active"]=>
bool(true)
["category_modules"]=>
NULL
["category_models"]=>
NULL
["slug"]=>
string(5) "saude"
}
}
["category"]=>
array(9) {
["id"]=>
int(436)
["name"]=>
string(6) "Saúde"
["description"]=>
NULL
["image"]=>
NULL
["color"]=>
string(7) "#a80000"
["active"]=>
bool(true)
["category_modules"]=>
NULL
["category_models"]=>
NULL
["slug"]=>
string(5) "saude"
}
["tags"]=>
NULL
["created_at"]=>
object(DateTime)#539 (3) {
["date"]=>
string(26) "2021-03-06 12:53:11.000000"
["timezone_type"]=>
int(3)
["timezone"]=>
string(13) "America/Bahia"
}
["updated_at"]=>
object(DateTime)#546 (3) {
["date"]=>
string(26) "2022-03-14 12:29:29.000000"
["timezone_type"]=>
int(3)
["timezone"]=>
string(13) "America/Bahia"
}
["published_at"]=>
string(25) "2021-03-06T12:50:00-03:00"
["group_permissions"]=>
array(4) {
[0]=>
int(1)
[1]=>
int(4)
[2]=>
int(2)
[3]=>
int(3)
}
["image_path"]=>
string(20) "posts/madadettaa.jpg"
}
A mesma ideologia de grupos internacionais que patrocinam mundo afora a reemergência do neonazismo e de outros grupos de extrema direita – que propõem a ruptura da ordem democrática institucional e o desmanche do multilateralismo – fundamentam parte do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
A avaliação é de Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, demitido do cargo em 16 de abril de 2020 quando as mortes por COVID-19 se aproximavam de duas mil. O motivo da demissão foi a discordância de Bolsonaro com as diretrizes ao enfrentamento indicadas pelos especialistas, — como o isolamento social; e também, porque Mandetta se recusou a adotar a cloroquina de maneira generalizada para o tratamento da COVID-19.
Ao acompanhar os bastidores desse embate entre, de um lado a racionalidade, a ciência e, de outro, os adeptos da retórica charlatã focada num projeto disruptivo, Mandetta conclui: “ O Brasil, hoje, é administrado pela internet e por pessoas que não fazem parte do governo. O Brasil está sendo administrado pelo algoritmo”, afirma ele, ao Estado de Minas.
“Fui chamado para fazer um trabalho técnico, e montei uma equipe técnica. Em 2019, nem entrevistas dava. Em 2020, tive que me expor. O que percebo é que há um núcleo militar, de boa formação e boas intenções, mas que, quando mostra-se o caminho da racionalidade e da boa governança, existe em paralelo ao mundo militar um entorno do presidente. E existe um mundo que desconhece — e até agride o núcleo militar. É onde estão os filhos e o que é comumente chamado de gabinete do ódio, mas frequenta (o Planalto) de dentro da sala (do presidente)”, considera.
O uso das redes sociais, com o auxílio dos algoritmos e estratégia retórica sofisticada, explorando as predisposições individuais, para manipular a informação e construir os fatos alternativos, foi amplamente denunciado por ocasião do Brexit e outros eventos como a eleição de Donald Trump. De forma análoga, vem sendo utilizado no Brasil.
“Não é uma coisa ao acaso; é algo fundamentado, que Trump fez nos Estados Unidos e Bolsonaro faz aqui. Teve o Brexit como pano de fundo e está na reemergência de movimentos neonazistas e extremos, que propõem a ruptura absoluta da sociedade e um desmanche do multilateralismo e da tentativa da humanidade de ter um caminhar mais sólido e que se aproveita de toda situação para minar toda e qualquer instituição, colocando tudo em descrédito”, afirma Mandetta.
Sem qualquer compromisso com a democracia, os defensores desta ideologia que tem em Olavo de Carvalho, no Brasil, um dos disseminadores, não se importam se o desfecho for uma ditadura. “Se isso vai terminar em um estado democrático ou ditatorial, na cabeça deles, tanto faz. Se for ditatorial, para eles, melhor. É um risco absurdo que há no mundo. Há grande acesso à informação pelas redes sociais, mas no lado de trás do balcão estão pessoas especializadas em manipular o pensamento. Quem comanda o Brasil hoje é uma banca de internet”, assinala Mandetta.
O ex-ministro é uma das figuras que têm sofrido ataques virtuais por conta das posições contrárias às ideias do governo Bolsonaro.
Armamentos
A obsessão do governo Jair Bolsonaro em disseminar o uso de armas no Brasil está dentro deste contexto. “O país pode entrar em uma crise armada com proporções muito altas”, afirma Mandetta, em referência ao período pós-pandemia.
“Isso não vai — e não pode — acabar bem. No meio de uma pandemia, aumentar impostos sobre itens da saúde e zerar impostos sobre armas, é passar uma mensagem para que as pessoas se armem. Um país que tem tantas diferenças e iniquidades, que se traduzem em uma violência urbana que acomete tanto o cidadão, isso vai acabar em uma situação de conflito”, afirma Mandetta. “É como se o Brasil estivesse sentado em um barril com álcool e pólvora, e o presidente resolveu fumar charuto. Isso, para explodir, é a qualquer momento”, diz ele.
Considerando que o Brasil sairá da crise sanitária muito mais lentamente do que poderia e precisaria, - e na avaliação dele este será um semestre fúnebre – a partir da vacinação da população, quando o país se reerguer da crise sanitária, haverá a mega crise pós-pandemia. Com o agravante: é esta liderança que considera “tóxica” face à crise da saúde que estará diante das múltiplas dimensões da crise social.
“Essa liderança, tão tóxica na crise de saúde, vai ter que dar respostas à essa mega crise que virá na educação, na cultura, no emprego. Temos um país à beira de uma convulsão se não tivermos uma liderança capaz de mostrar um caminho e um projeto de reconstrução, conciliação e reencontro deste país consigo mesmo. Se apostar ainda mais na pancadaria, na divisão, no ódio e nessa coisa maniqueísta de polarização absoluta e não houver a voz do centro, da moderação, do ‘calma, vamos sair disso juntos’ e inserção internacional, o país pode entrar em uma crise armada com proporções muito altas”, sustenta Mandetta.
Aentrevista
Jornalistas do Estado de Minas conversaram, por vídeo, com Luiz Henrique Mandetta. Entre esta quinta e a sexta-feira, pílulas da entrevista serão publicadas. No domingo, vão ao ar os trechos que tratam de temas políticos, como a disputa eleitoral em 2022.