Engana-se quem pensa que somente diabetes, hipertensão e doenças coronarianas estão associadas à obesidade. A fertilidade também pode ser severamente afetada pelo excesso de peso. É o que mostrou uma pesquisa publicada recentemente pelo Journal of The North American Menopause Society. O estudo evidenciou que, à medida em que o Índice de Massa Corporal (IMC) aumenta, são observados distúrbios férteis, menstruais e ovulatórios.
“As pessoas só vinculam a obesidade às doenças cardiovasculares e ao diabetes, mas há ligação com os cânceres de endométrio, mama, fígado, ovários e outros, além de provocar a anovulação (quando os ovários não liberam um óvulo durante um ciclo menstrual) crônica, por exemplo”, explica a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas (SBEM-MG), Beatriz Soares.
Assinado por cientistas iranianos, o levantamento reuniu trabalhos que analisaram mais de 4 mil mulheres de IMC acima de 25 e 30 Kg/m² e mostrou que os hormônios do sistema de reprodução são significativamente menores nessa população. Esses, chamados de marcadores da fertilidade, são dois: FSH (Hormônio Folículo Estimulante) e LH (Hormônio Luteinizante).
“São registrados em todas as mulheres desde a primeira menstruação, normalmente aos 13, 14 anos, até os 50, com a chegada da menopausa. A partir dos 40, já há uma diminuição deles. São substâncias produzidas na hipófise e responsáveis pela ativação dos ovários. Nas mulheres obesas, com IMC acima de 30 Kg/m², esse mecanismo fica falho”, detalha o ginecologista Márcio Coslovsky, membro das sociedades Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE).
“A paciente obesa apresenta altos níveis de estrogênio, provocando efeitos colaterais no aparelho reprodutivo”
Gustavo Safe
Ginecologista do Hospital Madre Teresa
Gestação
Essa desordem hormonal, que provoca queda na reserva ovariana, explicaria, de alguma forma, uma dificuldade para engravidar, relata Gustavo Safe, ginecologista do Hospital Madre Teresa.
“Ovários de pacientes obesas produzem mais hormônios masculinos causando anovulação hiperandrogênica (distúrbio endócrino gerado pelo excesso de andrógenos, como a testosterona). Além disso, a qualidade do óvulo também é prejudicada”, descreve o médico.
Uma mulher que está bem acima do peso considerado saudável poderá ter uma gestação com complicações, sendo classificada como de risco. “A obesidade é uma doença que gera impacto em diversos contextos. É possível que pacientes nessa condição engravidem sem problemas. Mas, podem vir a ter enfermidades associadas como as cardíacas e o diabetes”, coloca Safe.
Para as com idade fértil e obesas que estão na tentativa de ter filhos, a indicação é a mudança do estilo de vida para provocar a perda de peso e do percentual de gordura – o mais relevante. “Para aquelas que tentam, sem sucesso, há mais de um ano, devem procurar um médico para a estimulação dos ovários ou mesmo a reprodução assistida”, diz o ginecologista Márcio Coslovsky.
Reduzir percentual de gordura ajuda a normalizar ovulação
No último 11 de outubro foi celebrado o Dia Nacional de Combate à Obesidade. A data chama a atenção para o crescimento dos casos da doença no Brasil e para o fato de que o país é o mais sedentário da América Latina. De acordo com dados do Ministério da Saúde, 18,9% da população brasileira está obesa, sendo um milhão de novos casos a cada ano.
A constatação leva à reflexão de que estar saudável é ter equilíbrio, destaca o ginecologista Gustavo Safe, do Hospital Madre Teresa. “Qualquer desequilíbrio atrapalha a saúde, inclusive a reprodutiva. A dificuldade de ovulação está presente em mulheres com alta porcentagem de gordura. Mesmo sem perder peso, é importante mudar hábitos para reduzir a gordura e ter benefícios como ovular normal e naturalmente. Este é o primeiro passo”, diz o especialista.
“Não há fórmulas mágicas ou dietas miraculosas para emagrecer”
Márcio Coslovsky
Ginecologista
Mesmo com o ciclo estável, a mulher obesa pode não estar ovulando, afirma a presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia – Regional Minas, Beatriz Soares. “A gente parte do pressuposto que sim, há ovulação. Mas, é uma cascata de eventos. Com a obesidade, aumenta a quantidade de insulina e a secreção de testosterona (hormônio masculino), o que atrapalha todo o processo”, relata.
A médica coloca que o profissional mais indicado para atuar no cerne da obesidade junto à paciente é o endocrinologista. “Há casos em que a redução de 10% a 15% do peso já pode resultar no retorno da questão ovulatória. É importante ressaltar que dietas da moda não têm fatores que a medicina preconiza. Assim, a avaliação endocrinológica é a indicada”, acredita.
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