Nesta sexta-feira (29/5), o governador cumpriu a segunda parcela de seu acordo com os prefeitos. Até o momento, os repasses constitucionais devidos aos municípios mineiros continuam chegando como prometido. Como já sinalizou Os Novos Inconfidentes, fatos como esse confirmam que Zema se empenha em um padrão municipalista de governar.

Ao menos entre a grande parte dos 740 prefeitos associados à Associação Mineira de Municípios (AMM) não existem críticos à gestão Zema até o momento. Isso porque, ano passado, logo no início do seu mandato, o governador firmou um acordo bilionário com os prefeitos. O trato refere-se aos pagamentos de uma dívida herdada do ex-governador Pimentel, que havia confiscado transferências constitucionais dos executivos municipais.

Pelo pacto, o estado se comprometeu a pagar um pouco mais da metade da dívida total, R$ 7 bilhões. R$ 6 bilhões devem ser pagos em 30 parcelas mensais, que começaram a ser depositadas a partir de abril deste ano. As duas primeiras já foram realizadas. O R$ 1 bilhão devido por Zema, relativo ao não repasse de seu primeiro mês de mandato, começou a ser pago a partir de janeiro deste ano e também está em dia.

Esse acordo serviu como água em um incêndio. A maior parte dos prefeitos são muito dependentes de repasses seja do governo estadual ou federal. Existem cidades em Minas cuja dependência chega a 90% do seu orçamento. Qualquer atraso, portanto, desencadeia uma imediata paralisação nos serviços públicos.

Quando o acordo foi firmado, questionava-se a efetividade dele, em razão da crise financeira. Com o impacto do coronavírus na arrecadação de tributos, o cenário fiscal piorou e a hipótese de calote se fortaleceu. Mas o acordo com os prefeitos é prioridade para Zema. Até mesmo uma redução no dinheiro dos poderes o governador cogitou. Mas com os recursos dos prefeitos não se mexe.

Voluntária ou involuntariamente, o empenho de Zema na pauta municipalista lhe dá um certo prestígio junto aos administradores municipais. Prestígio esse que futuramente pode se traduzir em apoio político. É bom lembrar que os líderes municipais exercem muita influência sobre a Assembleia, onde o governador pretende aprovar projetos importantes para sua administração.

O foco na política municipalista tem deixado em segundo plano os deputados. Algo inédito na política estadual, o governador não tem um parlamentar como líder de governo. Por uma série de fatores, seu antigo líder, o tucano Luiz Humberto, deixou o posto em março. Também não existe uma liderança no bloco governista. E ainda tem outro fato incomum. Pela primeira vez, comanda a área de relações políticas dois novistas que não deputados, Igor Eto e Mateus Simões – mais uma pista do distanciamento de Zema com a Assembleia.

Origem da política municipalista

A aproximação de Zema com os prefeitos pode ser explicada pela sua história de vida. Natural de Araxá e grande comerciante da cidade, o chefe do Executivo mineiro sempre foi muito próximo à política araxaense em razão dos negócios. Jantares e encontros com os políticos do município eram comuns.

A família dele, por exemplo, era muito próxima dos vereadores araxaenses. A relação com os agentes públicos da cidade é que lhe abriu as portas na política estadual.