A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF), na terça-feira (10), Ivan Rejane Fonte Boa Pinto pelos crimes de associação criminosa e incitação ao crime por suposto envolvimento com os atos de 8 de janeiro, que culminaram na invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. 

Na denúncia, o procurador-geral, Paulo Gonet, diz haver “prova suficiente de que o denunciado aderiu à associação criminosa e à prática de incitação criminosa no contexto dos atos antidemocráticos que culminaram nos atos violentos”. Caso a denúncia da PGR seja acolhida pelo Supremo, Ivan se tornará réu. 

Morador de Belo Horizonte, Ivan Rejane se intitulava “Terapeuta Papo Reto”. Ele mantinha um canal no YouTube e fazia publicações com ameaças a políticos de esquerda. Ficou preso entre julho de 2022 e outubro de 2023, por divulgar ameaças nas redes sociais contra ministros do STF e outras autoridades, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Ele ganhou a liberdade provisória por meio de decisão do ministro Alexandre de Moraes, mediante o cumprimento de algumas restrições, como não usar as redes sociais. 

Em um dos vídeos que motivaram a prisão, Ivan disse que Lula deveria andar com segurança porque ele iria “caçar” o ex-presidente, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) e o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ). “Anda de segurança armada na rua que nós, da direita, vamos começar a caçar você [Lula]. Caçar você, caçar Gleisi Hoffmann, esse Freixo, frouxo do caralho. Todos eles que te cercam, vagabundo”, disse.

Na mesma gravação, que coloca em destaque a data de 7 de setembro de 2022, ele cita nominalmente ministros do STF: “Sumam do Brasil. Nós vamos pendurar vocês de cabeça para baixo”, disse o homem.

Ele também convoca outras pessoas a se juntarem para “expulsar do Brasil esses juízes corruptos e essa esquerda nefasta”. Ele citou Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux, Luiz Edson Fachin, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e Rosa Weber.

Lista de distribuição para milhares de seguidores

Na denúncia ao STF, feita com base em investigação da Polícia Federal (PF), Paulo Gonet ressalta que Ivan Rejane tinha ao menos nove listas de distribuição em um aplicativo de mensagens. “O denunciado enviava para milhares de contatos as mesmas mensagens e links de vídeos, de sua própria autoria, incentivando uma verdadeira ruptura institucional por intermédio do uso abusivo de plataformas digitais”, escreveu Gonet na denúncia.

A PF tomou depoimentos de pessoas ligadas a Ivan e analisou trocas de mensagens feitas por ele em grupos de aplicativos. Segundo a PF, ele agiu para impulsionar um golpe de Estado. A PGR menciona na denúncia que em 1º de julho de 2022, Ivan enviou para quase 9 mil pessoas uma mensagem de texto com link para ingressarem em um grupo de mensagens chamado “Caçadores de ratos do STF”.

Homem dizia ser 'terapeuta especialista em distúrbios comportamentais'

Apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Ivan Rejane Fonte Boa Pinto tem 47 anos e foi candidato a vereador da capital mineira em 2020, sob o nome “Ivan Papo Reto”, pelo PSL (hoje, União Brasil). Ele não conseguiu votos suficientes para se eleger. Recebeu 189 votos.

Até ser preso, Ivan costumava publicar fotos e vídeos em que exibia o corpo tatuado, para vender seus serviços de coach, personal trainer e “terapeuta especialista em distúrbios comportamentais que levam a obsessão e compulsão: drogas, álcool, tabaco, compras, comida, sexo, jogo e codependencia. Tratamentos baseados em Programação Neurolinguística, Coaching e Hipnoterapia”.

Ele afirmava ter consultório em Belo Horizonte e clínica em Esmeraldas, na região metropolitana de Belo Horizonte. A clínica, segundo ele, era destinada a tratamento de dependentes químicos. No entanto, o nome de Ivan não consta no Cadastro Nacional de Psicólogos, que reúne os dados de profissionais de todo o país, ou no Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais.

Além de anunciar os supostos serviços, Ivan costumava atacar integrantes das Cortes superiores e políticos de esquerda. “Nós vamos pendurar vocês de cabeça para baixo. Vocês são vendidos”, escreveu em uma publicação no Twitter. A defesa afirmou que se manifestará sobre a denúncia no momento processual apropriado.