Um dos maiores enganos brasileiros é achar que a corrupção é a maior causa da crise fiscal no país. Embora popular, a tese é ridiculamente incorreta pois matematicamente impossível: o orçamento público engessado impede isso. As contas públicas mostram, sem margem para dúvida, que o maior responsável pela falência do Estado é o gasto exorbitante com salários, penduricalhos, pensões e aposentadorias.

A estrutura do orçamento público, não só federal, é rígida. Os recursos são comprometidos com servidores e gastos fixos, sobrando cada vez menos para investimentos. E é a contratação de novos projetos que oferece as grandes oportunidades para desvios, especialmente se envolverem obras físicas. Não é por acaso que a maioria dos corruptores e delatores na Lava Jato é de empreiteiros; a corrupção é concentrada nos investimentos.

O desvio de verbas carimbadas pode ocorrer, mas é difícil. E quase todo o nosso orçamento público é carimbado. Em 2020, executivo e legislativo só poderão manobrar cerca de 7% dos recursos, em termos nacionais; nos estados e municípios o quadro não é diferente. Ainda que todo o bolo manipulável seja corrompido, o que não é realista, o desvio não quebraria o Estado considerando a taxa média de propina de 3% praticada no Petrolão. Seriam 3% sobre 7%, ou zero vírgula no total.

Muito maiores que as perdas com a corrupção são os custos do Estado com pessoal. Na última previsão do Tesouro Nacional, na semana passada, o déficit primário nacional (excluídos juros e encargos da dívida financeira) deve fechar 2019 entre R$ 70 e 80 bilhões. Só aposentadorias e pensões contribuirão para esse rombo com um déficit de mais e R$ 200 bilhões. Em Minas, salários e vantagens de servidores já consomem toda a receita com impostos; os estados de modo geral estão arrecadando e existindo apenas para pagar pessoal.

Há números e argumentos à farta para comprovar: o que está quebrando o Brasil é o ‘marajaísmo’, em suas várias versões. A expressão marajá surgiu na campanha presidencial de 1989, criada por Fernando Collor para denunciar o funcionário público ou de estatal com salários e vantagens exorbitantes. Mas, hoje, o conceito deve ser ampliado para abarcar outros tipos. Há por exemplo aqueles que não têm salários altos e mordomias mas, em compensação, não exercem função ou serviço. Ganham sem trabalhar, ou trabalhando muito pouco, em vagas que só existem para afilhados políticos. São os pequenos marajás ou marajazinhos. E existem às dezenas de milhares.

A cultura marajaísta está enraizada na sociedade. O brasileiro sonha com um cargo ou ‘boquinha’ na máquina pública, mamar nem que seja um pouquinho das tetas estatais. É o maior pedido de eleitores aos parlamentares e destes aos chefes dos executivos. Do ponto de vista moral, o marajaísmo é uma forma de corrupção. E uma forma muito mais disseminada, que tem todo amparo ou garantia legal; a maioria dos marajás tem estabilidade no emprego, são intocáveis pela lei atual. Romper com isso será doloroso. Até mais doloroso do que foi abrir a caixa do Petrolão e lavar a roupa suja da política.