POLÍTICA EXTERNA

BRASÍLIA - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sugeriu nesta quinta-feira (15) que a Venezuela faça uma nova eleição presidencial, diante do impasse político desde o pleito de 28 de julho, que oficialmente tem Nicolás Maduro como reeleito, mas não é reconhecido pela oposição nem por diversos países e organismos internacionais.

“Ainda não [reconheço que ganhou a eleição]. Ele [Mauro] sabe que está devendo uma explicação para o mundo. Ele sabe disso”, afirmou, em entrevista à Rádio T, do Paraná, na manhã desta quinta-feira. Em seguida, o petista afirmou que se o presidente venezuelano tiver “bom senso” poderia convocar novas eleições.

“O Maduro ainda tem seis meses de mandato, só termina ano que vem. Se tiver bom senso, poderia fazer uma conclamação ao povo, quem sabe convocar uma nova eleição e deixar que entre olheiros de todo mundo pra ver as eleições”, afirmou Lula. Ele se referiu às atas que estão com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Lula já havia dito que só decidirá quem vai reconhecer como vencedor da eleição na Venezuela quando forem tornadas públicas as atas do CNE, entidade controlada pelo regime de Maduro. Os documentos que comprovariam a vitória de Edmundo González, e não de Maduro, podem até ser recebidos, mas não seriam avalizados pela diplomacia brasileira, segundo integrantes do governo Lula.

Em entrevistas, María Corina Machado, líder da oposição na Venezuela, disse que entregaria os dados eleitorais ao Brasil e a “todos os governos do mundo”, para que sejam analisadas. Segundo ela, a oposição tem 83,5% das atas, que estão protegidas. Machado garante serem documentos oficiais, originais, impressos pelas máquinas do CNE, e com assinaturas das testemunhas, integrantes de mesa e trabalhadores do conselho eleitoral.

“Estive com Colômbia e México, pra ver se encontrava uma saída. Tem que apresentar os dados, por algo confiável, o Conselho Nacional, que tem gente da oposição, poderia ser, mas ele mandou pra Suprema Corte dele. Não posso julgar a Justiça de outro país”, afirmou Lula.

“Sempre digo, não é fácil e bom que um presidente de um país dê palpite sobre um presidente e política de outro país. Tenho relação desde quando tomei posse na primeira vez, e ficou deteriorada porque a situação política lá está ficando deteriorada”, comentou Lula na mesma entrevista à Rádio T.

“Conversei com o Maduro antes das eleições, agora não conversei, mas disse que a transparência e a legitimidade do resultado é o que permitia a gente discutir as sanções contra a Venezuela. O Amorim [Celso Amorim, assessor especial da Presidência] estava lá acompanhando. Durante o dia não houve nada, mas quando começam a divulgar os dados, começa a confusão”, continuou o presidente.

Lula visita fábricas no Paraná e anuncia investimentos

Lula está no Paraná para anunciar a retomada das operações de uma fábrica de fertilizantes em Araucária (PR), e visitar a montadora da Renault em São José dos Pinhais (PR). Ele não voltará nesta quinta para Brasília. Ao fim dos compromissos no Paraná, embarca para o Rio Grande do Sul.

O presidente participa nesta quinta-feira da cerimônia de início da retomada das operações da Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados S.A. (ANSA). A unidade estava parada desde 2020 e será reaberta depois que o investimento na produção de fertilizantes voltou a fazer parte do portfólio da Petrobras. 

“É um absurdo pensar que uma fábrica de fertilizantes ficou anos parada. O Brasil precisa reduzir sua dependência da importação de fertilizantes. Duvido que alguém tenha feito mais pelo agro do que nós. Não faço isso para o fazendeiro gostar de mim; faço porque a agricultura é importante para o país”, disse Lula na entrevista.

Ao ser questionado sobre a vinda de novas montadoras de veículos automotivos para o Brasil, Lula falou em novos investimentos da Renault, segundo ele, motivo de sua visita à montadora em São José dos Pinhais nesta quinta-feira.

“Recebi representantes do setor automotivo, que anunciaram, até agora, R$ 130 bilhões em investimentos no Brasil. Inclusive, a visita à Renault de hoje é para anunciar R$ 5 bilhões. E queremos que a indústria reduza os preços dos carros para o povo”, afirmou o presidente.

O petista destacou ainda investimentos no Paraná durante os dois primeiros anos do seu terceiro mandato. “Eu duvido que, na história do Paraná, tenha havido algum governo que investiu mais neste estado do que nós. Só na área de transportes, serão R$ 50 bilhões investidos. O crédito agrícola chegou a R$ 53 bilhões, e para a agricultura familiar foram R$ 8 bilhões”.

Ainda no Paraná, Lula anuncia nesta quinta-feira investimentos da estatal na Repar, refinaria responsável por aproximadamente 15% do mercado nacional de derivados de petróleo. Seus produtos atendem principalmente os mercados do Paraná, Santa Catarina, sul de São Paulo e do Mato Grosso do Sul.

Presidente tem extensa agendas no RS

O presidente tem uma longa agenda prevista para sexta-feira (16) no Rio Grande do Sul. Na quinta passagem pelo estado desde o início da crise decorrente das enchentes no fim de maio, Lula participa de uma série de atividades conectadas ao esforço de reconstrução e retomada da economia gaúcha.

Primeiro, o presidente acompanha a entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida e a assinatura de acordos para agilizar a conclusão de outros empreendimentos para garantir moradia a quem perdeu tudo nas enchentes. 

Em seguida, ele participa da inauguração de uma nova estrutura para tratamento de câncer em Porto Alegre. Na sequência, segue para São Leopoldo, região estratégica para a logística do estado e que terá um novo complexo viário para beneficiar 3 milhões de pessoas.

Na comitiva com o presidente estarão o ministro da Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, a ministra Nísia Trindade (Saúde), o ministro Jader Filho (Cidades) e o ministro Renan Filho (Transportes), entre outras autoridades federais, regionais e locais.