Entrevista Juliano Lopes

Após a eleição pela presidência da Câmara Municipal de Belo Horizonte marcada pelo embate com o então vice-prefeito e prefeito em exercício, Álvaro Damião (União Brasil), no início deste ano, o vereador Juliano Lopes (Podemos) trata o episódio como águas passadas e prega a conciliação com a administração da capital mineira. “Hoje, do que depender de mim como presidente e dos 41 vereadores, tenho certeza de que precisamos ter uma harmonia com a prefeitura.”

Em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal UAI, o parlamentar disse que o imbróglio com o agora prefeito Álvaro Damião ficou no passado. “Fico muito feliz de ter conciliado a relação entre a prefeitura e a Câmara, apesar de serem poderes independentes e harmônicos”, disse.

Com o Executivo sem um vice-prefeito, já que Damião assumiu após a morte de Fuad Noman (PSD), Lopes terá que assumir a gestão da cidade em caso de ausência do titular. “De fato, hoje eu sou o vice-prefeito da cidade de Belo Horizonte, o que aumenta muito a responsabilidade”, afirma.

Juliano Lopes ainda destacou como prioridade do Legislativo municipal o debate sobre o novo contrato do transporte coletivo, a ser licitado em 2028, e alvo de uma comissão especial na Câmara. “É um contrato que tem que ser estudado com uma lupa”, destaca. Leia a seguir a íntegra da entrevista.

Antes de ser eleito, o senhor era o único nome a disputar a presidência da Câmara. Mas surgiu um candidato apoiado pelo agora prefeito Álvaro Damião. O senhor venceu e chegou a haver uma animosidade. Fizeram as pazes na posse?

Na verdade, nós tivemos uma troca de palavras. Eu fiz uma declaração ali porque tinha um combinado com o prefeito Fuad em que seria o candidato único. Nós fomos surpreendidos naquela época, no dia 24 de dezembro, com a candidatura do vereador Bruno Miranda (PDT), com apoio do atual prefeito, que na época era o vice, Álvaro Damião. Foi um momento de desabafo e durante esses três meses a gente vem conversando com a prefeitura, conversando com o Álvaro. Eu fui muito bem tratado por ele [na posse] e fico muito feliz de ter conciliado a relação entre a prefeitura e a Câmara, apesar de serem poderes independentes e harmônicos. Hoje, do que depender de mim como presidente, e dos 41 vereadores, tenho certeza que precisamos ter uma harmonia com a prefeitura.

Harmonia não significa a aprovação de todos os projetos enviados pelo prefeito, correto?

Na verdade, não sou eu que aprovo, são os vereadores que aprovam. Eu só coloco para votar. Cabe ao prefeito, juntamente com o seu líder de governo, que é o vereador Bruno Miranda, conversar com os outros vereadores. Nem votar eu voto. O presidente não vota em nenhum projeto, a não ser que ele queira votar, mas o regimento permite que ele não vote. Então, cabe ao prefeito Álvaro Damião, ao seu líder de governo, ao seu vice-líder de governo, que foi nomeado na semana passada, o vereador Helton Júnior, conversar com os vereadores para que os seus projetos sejam aprovados.

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Juliano Lopes ainda destacou como prioridade do Legislativo municipal o debate sobre o novo contrato do transporte coletivo

ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

 O senhor é um dos integrantes mais destacados da chamada família Aro, a corrente política coordenada pelo secretário de Estado da Casa Civil, Marcelo Aro. Como é a influência dele com esse grupo?

Primeiramente, eu me sinto muito orgulhoso de fazer parte do grupo da família Aro, mais orgulhoso ainda de ter a confiança do Marcelo e de todos os vereadores. As pessoas acham que na família Aro o Marcelo chega determinando uma coisa e todos tem que cumprir. Não é assim que funciona. Tudo que se decide com a família Aro, com os vereadores, é por meio de votação, de conversa e diálogo. Hoje, para sobreviver na política, você precisa ter um grupo político. Eu tive um grupo político quando comecei minha carreira em 2007, fiz parte do grupo do ex-deputado Anselmo José Domingos. Quando, em 2018, ele desistiu da política e não quis mais se candidatar, eu fiquei solto e fui convidado para participar da família Aro pelo Marcelo. E aceitei o convite. Hoje, a família Aro é composta por nove vereadores na Câmara Municipal, lógico que o Marcelo é quem coordena tudo, mas todas as decisões são tomadas em diálogo.

O maior desafio desse Legislativo são os novos contratos de ônibus de Belo Horizonte?

Uma das minhas promessas era fazer uma comissão especial para estudo do novo contrato de ônibus. O nosso contrato vem desde 2008. No último mês da gestão do Fernando Pimentel (PT), foi assinado esse contrato que vale por 20 anos, então está para acabar. Nós criamos uma comissão especial de estudo. Vamos chamar a Sumob [Superintendência de Mobilidade Urbana], BHTrans, vamos chamar os donos de empresa de ônibus, prefeitura, todas as pessoas envolvidas no transporte público em Belo Horizonte para discutir um novo contrato. Essa missão da Câmara é para ajudar a prefeitura, porque nós sabemos que, às vezes, a prefeitura quer fazer alguma coisa, mas fica engessada neste contrato atual.

“Tenho o sonho de disputar uma vaga na Assembleia. Prefiro continuar aqui, em Belo Horizonte, dando assistência para a minha mãe, para a minha família”

O que pode mudar no contrato?

Pode mudar em relação aos reajustes da passagem, pode mudar a nossa frota, ar-condicionado nos ônibus, multa para as empresas. Hoje já tem multa, mas, às vezes, não são pagas, aí prorroga e empurra para a frente. Pode mudar as garagens de ônibus, a bilheteria. Como é que vai ser feito isso tudo? O contrato vence em 2028 e tem que estar pronto para ser licitado. Nós vamos convidar o Tribunal de Contas, o Ministério Público, vamos convidar todos os órgãos responsáveis porque é um contrato que tem que ser estudado com uma lupa. Eu espero que mais tarde, neste ano ainda, já tenhamos algum parâmetro em relação ao novo contrato de ônibus na cidade de Belo Horizonte.

 “Vamos chamar os donos de empresa de ônibus, prefeitura, todas as pessoas envolvidas no transporte público em Belo Horizonte para discutir um novo contrato”

O senhor apresentou um projeto para garantir o serviço de táxi nos chamados megaeventos. Como será isso?

Passamos em primeiro turno esse projeto, e alguns vereadores colocaram emendas que serão debatidas na Câmara. Existem emendas para aplicativos também terem um espaço. Eu frequento eventos em Belo Horizonte e passei por isso muitas vezes. Eu não vou de carro, vou de táxi ou de outro transporte. Que o motorista de táxi tenha facilidade para levar o passageiro e depois voltar normalmente. Eu acho muito importante isso, se essa lei realmente for aprovada no segundo turno e o prefeito sancionar, porque vai ajudar muito o sistema de transporte público e a nossa mobilidade. Outra bandeira também em relação aos taxistas é que acontece uma incoerência enorme. O táxi em Belo Horizonte pode transitar nos corredores do Move com passageiros, mas o táxi não pode transitar vazio. Ele vai sair de Belo Horizonte, vai lá deixar um passageiro em Confins, na hora de voltar ele não pode passar no corredor? Qual é a diferença dele estar com passageiro ou vazio? Eu vou conversar com o prefeito Álvaro Damião, não vai precisar ser feita lei, basta uma portaria da prefeitura autorizando que o motorista de táxi possa passar no corredor do Move vazio.

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O EM Minas é um programa da TV Alterosa em parceria com o Estado de Minas e o Portal UAI
ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

Qual a sua visão sobre a implantação de mais ciclovias em Belo Horizonte?

Eu sou professor de educação física, sou a favor do esporte, sou a favor da ciclovia. Mas as ciclovias têm que ser estudadas. Qual o relevo de Belo Horizonte? Ribanceira. Você vai colocar uma ciclovia na ribanceira? Para descer é tranquilo, mas para subir? Agora, nos corredores que são lineares, largos e que caiba uma ciclovia eu sou a favor, mas não podemos colocar ciclovia onde o relevo não ajuda.

O senhor é favorável à instalação das vias exclusivas para motos no trânsito de BH?

Sou completamente a favor. Você está no seu carro parado, de repente, passam um, dois, três, quatro, cinco, seis, 10motociclistas, quase arrancam o seu retrovisor. A quantidade de motociclistas aumentou muito na cidade de Belo Horizonte. Essa iniciativa da prefeitura, não sei se por lei ou por decreto, tem que acontecer o mais rápido possível. É importante, vai ajudar na mobilidade urbana. Vai diminuir, com certeza, o número de acidentes e vai desafogar nosso sistema de saúde.

O senhor é professor de educação física, virou vereador, mas antes criou a Academia Móvel. Como funciona esse projeto?

A academia móvel é um projeto nosso que já tem 18 anos. Nós atendemos 10 núcleos no Barreiro, não recebemos recurso público. Eu comecei há 18 anos no posto de saúde, com a caixinha de som de forma voluntária, nem vereador eu era. Um dia apareceram três pessoas, no outro foram 50, depois 70 pessoas. E, a partir daí, nós compramos um carro e os comerciantes do Barreiro usam a lateral do carro para divulgar sua logomarca. Tem comerciantes que nos ajudam porque sabem que estão fazendo um benefício para a população. Lógico que eles querem que o cliente da Academia Móvel compre alguma coisa no seu comércio, mas o principal é o social. Hoje, nós temos 900 alunos espalhados em 10 praças. A maioria é da terceira idade, da melhor idade. São pessoas que, às vezes, na academia privada ficam envergonhadas, ela não tem um bom atendimento. E o principal da Academia Móvel não é só a atividade física, o principal é o lado social. Eu dei uma sugestão para o prefeito Álvaro Damião. Algumas cidades já instalaram a creche do idoso. O idoso fica lá de manhã, de tarde e à noite ele retorna pro seu lar. O Álvaro gostou muito da ideia, disse que já era um pensamento do prefeito Fuad e me prometeu. O próximo orçamento, que será aprovado em 2025 para ser executado em 2026, Belo Horizonte terá a creche do idoso.


O senhor é o decano da Câmara. Quais suas aspirações políticas para o futuro?

Eu estou indo para o quarto mandato seguido. Se eu falar que não tenho pretensões políticas, vou estar mentindo. Até as pessoas que votam na gente querem saber para onde vamos. Eu tenho um sonho de disputar uma vaga na Assembleia. Como deputado estadual. Porque eu tenho um carinho enorme pela minha mãe. A minha mãe é uma senhora de 78 anos, então, se eu for para Brasília, vou ter que largar um pouco. Eu prefiro continuar aqui em Belo Horizonte, dando assistência para a minha mãe, para minha família e quem sabe um dia poder disputar uma vaga na Assembleia.