BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) removeram nos últimos dias os principais obstáculos e ampliaram o favoritismo para chegar ao comando do Congresso a partir de fevereiro.

Os dois parlamentares já reúnem uma lista formal de apoios que, no caso de Hugo, soma mais de 60% das 513 cadeiras da Câmara. Alcolumbre tem até agora o apoio formal de bancadas que somam menos parlamentares, mas a tendência é que nos próximos dias ele anuncie publicamente adesões que, nos bastidores, já estão acertadas.

Hugo é o candidato do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e nesta semana conseguiu o apoio formal do oposicionista PL e do governista PT, as duas maiores bancadas da Casa, o que praticamente sepultou as chances de seus dois adversários diretos, Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA).

O candidato de Lira já tem a adesão formal de oito partidos (PL, PT, PP, MDB, Republicanos, Podemos, PC do B e PV), que somam 324 das 513 cadeiras da Câmara.

O União Brasil, que tem 59 deputados, também já decidiu apoiar Hugo e deve fazer o anúncio oficial nos próximos dias.

A corrente pró-Hugo foi motivada não só pela ascendência de Lira, mas mediante uma série de acordos de bastidor que incluem divisão de poder nos cargos de comando da Câmara e em comissões e promessas de análise de projetos à esquerda e à direita, entre eles o da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro e ao próprio Bolsonaro.

A eleição para o comando do Senado e da Câmara ocorre no início de fevereiro e os vencedores cumprirão mandato de dois anos. A votação é secreta, ou seja, pode haver traição nos partidos que formalmente declararam apoio.

No Senado, Alcolumbre já é há meses o favorito para suceder Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que foi o nome escolhido por ele próprio em 2021 para o cargo após ver sua tentativa de reeleição frustrada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Alcolumbre comandou o Senado de 2019 a 2021 após derrotar Renan Calheiros (MDB-AL) em uma acirrada disputa.

O único pequeno obstáculo do senador para conseguir seu terceiro mandato à frente do Senado estava na bancada do PL, que tem 14 das 81 cadeiras.

A ala mais bolsonarista tem como principal bandeira a aprovação do impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal, em especial Alexandre de Moraes.

Pela lei, cabe ao Senado analisar eventual destituição de integrantes da corte, embora nunca um magistrado da mais alta corte do país tenha perdido o cargo por esse meio.

É preciso para isso o voto de ao menos 54 dos 81 senadores, em caso de sessão com quórum completo.

Os bolsonaristas enfrentaram Pacheco em 2021, ocasião em que o atual presidente do Senado disputou a reeleição e tinha como principal articulador da campanha o próprio Alcolumbre. A dupla venceu a eleição, mas por um placar não muito confortável –49 a 32.

Ao anunciar o apoio ao candidato do União Brasil, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), afirmou nesta quinta-feira (31) que espera o avanço de projetos como o pedido de impeachment de Moraes, que segundo ele já conta com o apoio de 36 senadores.

"Se por acaso tivermos a possibilidade de termos as 41 assinaturas, nós queremos que seja respeitado esse direito da maioria da Casa."

Alcolumbre tem o apoio formal de quatro partidos (PL, PP, PSB e PDT), que somam 28 das 81 vagas, mas é praticamente certo também o suporte de ao menos o seu próprio partido, o União Brasil, além do PSD de Pacheco e do PT de Lula, ou seja, mais 31 senadores.

Hoje Alcolumbre conta apenas com um rival que formalmente se lançou na disputa, Astronauta Marcos Pontes (PL-SP).

O senador bolsonarista se lançou candidato na terça-feira (29) em um discurso para um plenário esvaziado. Ele não conta nem com o apoio do seu próprio partido.

Dizendo ser um vencedor improvável, tanto por sua ida ao espaço, em 2006, como por sua eleição ao Senado, em 2022, Pontes afirmou ter feito uma escolha pessoal pela necessidade de o Senado "ouvir a população".

Enquanto ele discursava, a poucos metros de distância Bolsonaro combinava a portas fechadas, no gabinete do PL, o apoio da legenda a Alcolumbre. Na longa entrevista que deu após deixar o gabinete, Bolsonaro não citou em nenhum momento o nome de Marcos Pontes, que foi seu ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações.