Na semana passada, tomei conhecimento de dois acidentes surpreendentes que ocorreram com pessoas com quem tenho uma amizade viva que se aproxima de cinco décadas.

O primeiro caso ocorreu na quarta-feira, 14/06, quando a amiga descia uma escada em sua casa. Ela usava chinelos, se desequilibrou e caiu sentada, mas bateu o ombro fortemente na parede lateral. A intensa dor veio imediatamente e o jeito foi procurar o pronto atendimento de um hospital que atende ao seu plano de saúde regido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Vale lembrar que, segundo a agência reguladora e fiscalizadora, cerca de 25% da população do país possui algum tipo de plano de saúde, com variados tipos e limites técnicos.

Após 5 horas no hospital, variados exames de imagem e outros procedimentos pertinentes, o profissional médico que liderou o atendimento concluiu que houve 4 fraturas no ombro direito, mas recomendou um tratamento conservador com duração inicial de 6 meses. Disse que é cirurgião especializado em ombros, que adora fazer cirurgias, mas que esse procedimento não era o recomendado para o caso dela. Ainda assim, ela procurou um segundo especialista, que ratificou o tratamento indicado pelo colega.

Na quinta, 15/06, a outra amiga tropeçou numa pequena saliência na área de serviços do seu apartamento, em fase final de obras, onde será instalado um armário. Ela bateu a cabeça no chão e com impacto maior no lado direito, na parte logo acima do olho. O local ficou bastante roxo, o suficiente para chamar a atenção de pessoas, que querem saber o que aconteceu.

Sentindo dor de cabeça, tendo náuseas e em busca de uma melhor compreensão para os efeitos do acontecido, a amiga procurou imediatamente um hospital próprio do seu plano de saúde, que é da categoria empresarial e tem cobertura máxima para todos os serviços.

Na triagem do início do processo de atendimento, uma jovem profissional médica indicou a necessidade de se fazer alguns exames de imagem, principalmente devido ao fato da cabeça ter batido no chão. Na etapa seguinte do processo, ela foi atendida por um profissional médico mais idoso, especializado em traumatologia, que discordou totalmente da indicação da jovem colega e iniciou um discurso equivocado na forma e no conteúdo. Ele disse à minha amiga que as pessoas procuram médicos por qualquer coisa. Afirmou que no caso dela não valeria a pena se expor à radiação dos exames solicitados pois eles não eram relevantes para o caso.

Em seguida, pediu que ela fizesse alguns movimentos com a cabeça, falou que estava tudo bem e disse num tom de comando que estava lhe dando alta. Nesse instante, entrou na sala um jovem médico com a ficha da próxima pessoa a ser atendida e informando que era um caso de queda. O traumatologista retrucou dizendo que a sua jornada de trabalho estava próxima do fim e bradou para a minha amiga que provavelmente seria mais um caso semelhante ao dela.

Enquanto a cabeça da amiga ainda dói e o roxo do rosto começa a clarear após 5 dias do ocorrido, fico pensando no conflito entre as decisões tomadas no processo de atendimento que ela recebeu no hospital. Será que está em curso uma política de redução de custos por decreto em nome do equilíbrio financeiro do plano de saúde e do seu hospital próprio?

Por que a direção do hospital não consegue fazer um alinhamento entre os profissionais médicos, jovens e mais experientes, segundo o padrão técnico dos processos?

O fato é que todo cliente, ao contratar um plano de saúde, tem como expectativa receber um serviço conforme as características de qualidade especificadas, preço compatível e atendimento civilizado, respeitoso na relação entre o fornecedor e o cliente.

Como se vê, estamos longe da excelência na gestão da saúde, também no setor privado. Que peleja para enfrentar qualquer problema com a nossa saúde!