ENTREVISTA

O presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur), Marcelo Freixo (PT), afirmou ao Estado de Minas, em Belo Horizonte, que duas perguntas precisam ser respondidas sobre o assassinato da ex-vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, que completa seis anos em 2024.

"Tão importante quanto saber quem mandou matar, é saber quem mandou não deixar chegar em quem mandou matar. Para mim, são duas perguntas. Uma define o Caso Marielle e a outra pode definir o Rio de Janeiro. E esta segunda pergunta pouca gente está fazendo", disse.

Ele também destacou que está muito confiante nas investigações. "Conheço a qualidade do trabalho da Polícia Federal, sei da competência. Eles não permitem nenhuma interferência política, então eu não tenho nenhuma informação que eu não possa ter - e nem quero", ponderou.

Antes de ser eleita, em 2016, Marielle foi assessora parlamentar de Freixo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) por dez anos e contou com o apoio do ex-deputado estadual para concorrer. "Eu sempre defendi muito a renovação política, então no meu mandato eu ajudei a eleger gente da minha equipe. A Marielle foi uma delas, mas foram oito assessores meus que foram eleitos deputados ou vereadores", relembrou.

 

Marcelo Freixo tem 56 anos, é graduado em História e se dedicou por 30 anos ao tema da Segurança Pública. Foi deputado estadual no Rio de Janeiro por três mandatos e deputado federal por um, ambos pelo PSOL. Em 2021, filiou-se ao PSB e, em 2023, voltou ao PT - antes de assumir a presidência da Embratur.

Como foi a mudança da Câmara para a Embratur?

É um desafio dado pelo presidente Lula para mim e foi uma surpresa muito agradável. Eu saio de um tema que eu me dediquei por 30 anos, que é o tema da Segurança Pública e dos Direitos Humanos, que é um tema muito pesado e, no Brasil, muito reativo porque a gente geralmente responde a uma tragédia - mas que eu fiz com grande dedicação e muitos resultados também. E venho para um lugar que é propositivo e que eu posso trabalhar com os temas que eu me dediquei a vida inteira, mas de outra maneira. Então eu, como um defensor dos Direitos Humanos e na Segurança Pública, lutei contra o racismo. E aqui, quando eu faço afroturismo, também estou lutando contra o racismo. Só que estou lutando de uma outra maneira: fazendo a nossa herança africana, o nosso orgulho de uma história africana, gerar emprego, renda e ser a identidade do Brasil. Isto foi uma descoberta para mim, de que posso pegar os temas que trabalhei durante muitos anos de uma forma e trabalhar de outra.

Como avalia este primeiro ano de trabalho?

Nós herdamos uma situação muito grave, pegamos a Embratur sem orçamento porque no governo passado deixamos de ser uma autarquia para virar uma agência e eles não criaram fonte. Então, em 2023, eu consegui criar um orçamento, ampliei o convênio com o Sebrae, fiz um aditivo, aprovei R$ 200 milhões no orçamento público, também vamos receber um percentual do Bet... Então foi um ano de muito trabalho. Nenhum lugar do mundo faz promoção sem estrutura financeira. Portugal, por exemplo, é um país com o tamanho do Rio de Janeiro e a população de Pernambuco e eles têm 250 milhões de euros para promover. Então como a gente promove o Brasil sem orçamento? Não tem como, as pessoas vão para outros lugares.

Qual a importância do presidente Lula neste cenário internacional?

A presença do presidente Lula nos ajudou muito, que é um líder mundial, um chefe de estado reconhecido, que tem a política internacional como prioridade e que visitou vários países. Então ele nos ajudou muito, entramos com mais facilidade nos canais de comunicação. Conseguimos reaquecer esse mercado e o resultado apareceu. Voltamos ao número de turistas de 2019, já em 2023, então, a gente supera todo o resultado da pandemia. Também estamos batendo um recorde de todos os tempos, que vai ser anunciado segunda-feira (5/2) pelo Banco Central, de arrecadação com turismo internacional. Superamos 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, quando foram arrecadados R$ 34 bilhões.

Por que o carnaval de Belo Horizonte foi escolhido pela Embratur?

O carnaval de BH cresceu e é diferenciado. Tem essa hospitalidade de Minas, que é muito acolhedora. É também um carnaval com muita presença e protagonismo de mulheres. Então, tem elementos no carnaval de BH que são interessantes e que são completamente diferentes de Salvador e do Rio de Janeiro, que são carnavais que andam sozinhos. Minas também é um mercado muito estratégico para a Embratur quando a gente pensa na vinda de turista internacional para o Brasil porque é um lugar de ampliação. Quando a gente fala em Rio de Janeiro ou São Paulo, são lugares muito consolidados, seja pela malha aérea ou por serem destinos mais conhecidos no mundo inteiro. Então, Minas Gerais é menos conhecida no cenário internacional.

Vai continuar no cargo ou disputar as eleições?

Eu não sou candidato em 2024, tenho um trabalho a consolidar e os números do ano passado foram muito positivos, estamos batendo recordes, então eu quero continuar até 2026. As eleições de 2024 e 2026 vão estar muito casadas, mas o meu lugar de trabalho é na Embratur, consolidando esse Brasil que está em disputa. Em 2026 eu saio, vou disputar uma eleição, mas o tema do turismo eu vou continuar trabalhando porque de fato acredito que é o grande combustível brasileiro do século XXI. Não é o petróleo, que vai acabar. O turismo gera hoje 8% do PIB, o Petróleo gera 12%. Então, o turismo é a forma de gerar emprego e renda de forma sustentável e o Brasil tem um enorme potencial para desenvolver.

E qual será o seu papel nas eleições de 2024?

Eu vou ajudar na eleição municipal, não só no Rio de Janeiro, mas lá principalmente. Eu sempre defendi muito a renovação política, então no meu mandato eu ajudei a eleger gente da minha equipe. A Marielle foi uma delas, mas foram oito assessores meus que foram eleitos deputados ou vereadores. Então, eu quero em 2024 agora ajudar a eleger vereadores que vão representar uma mudança política de mentalidade, de perfil, de energia. E, em 2026, eu volto a ser candidato, mas vamos ver ao que, no Rio de Janeiro, dependendo da conjuntura ali, das alianças. O Rio tem que derrotar o bolsonarismo. A sede, a barbárie, é no Rio. Então tem que derrotar esses caras.

O senhor disse que é preciso fazer pelo Rio o que o presidente Lula está fazendo pelo Brasil. O que seria isso?
Tem que ter uma composição democrática no Rio de Janeiro. Não é um lugar para marcar posição. O Rio é o lugar que mata a Marielle, que a milícia está estabelecida, que 65% dos territórios você não entra, então o Rio está em uma curva delicada de retorno. Então a eleição de 2024 e 2026 é uma eleição para chamar esse campo democrático, ter um pacto de desenvolvimento e derrotar os que representam o crime no Rio. A disputa lá é com o crime, a gente perde a eleição é para o crime. O Lula, que não é qualquer pessoa, perdeu em 9 das 10 maiores cidades.

Existe a possibilidade de as milícias se expandirem para outros estados?

A milícia nasce no início dos anos 2000, no Rio, e ela é uma fusão. Todas as facções e o tráfico de drogas nascem na cadeia - no Brasil inteiro. A milícia nasce no palácio, no aproveitamento político que grupos políticos fazem dos territórios. Então a milícia nasce como uma atividade criminosa e um projeto de poder de domínio de território econômico e eleitoral. Ela tem uma origem criminosa de máfia, ela não tem uma origem criminosa organizada em lugares pobres. Ela tem outro papel, então é uma ameaça concreta à democracia. As características da milícia podem se espalhar? Podem. A milícia como tal, tem a ver com a política que se estabeleceu no Rio. Foram cinco governadores presos, não sei se tem outro lugar no Brasil com esse perfil.

Em 2024, completam-se seis anos do assassinato de Marielle. Como avalia a investigação?

Tão importante quanto saber quem mandou matar, é saber quem mandou não deixar chegar em quem mandou matar. Para mim, são duas perguntas. Uma define o Caso Marielle e a outra pode definir o Rio de Janeiro. Esta segunda pergunta pouca gente está fazendo, mas pode ser respondida na investigação. Conheço a qualidade do trabalho da Polícia Federal, sei da competência. Eles não permitem nenhuma interferência política, então eu não tenho nenhuma informação que eu não deva ou não possa ter - e nem quero.

Qual a sua avaliação do cenário político em BH e Minas?

A visita da Embratur é de um órgão de estado, então estamos aqui para promover Minas independente de qualquer coisa. Isto é muito importante e é uma orientação do presidente Lula. Nós dialogamos com todas as pessoas eleitas, em todos os lugares, não interessa se o governador ou o prefeito votou em A ou B. Eu acho que a gente tem que governar e olhar para frente. A polarização fez muito mal ao Brasil. A eleição passou, foi dura, com métodos ruins que precisam ser investigados, mas eu acho que se tem que governar para todo mundo.