247 – Investigação da Polícia Federal (PF) no âmbito da tentativa de golpe de Estado de 8 de janeiro de 2023 revelou que militares envolvidos no entorno do ex-presidente Jair Bolsonaro tinham plena consciência de que não havia qualquer fraude no processo eleitoral de 2022. Entre os diálogos analisados, destaca-se a troca de mensagens entre o tenente-coronel Mauro Cid e outros militares, incluindo o coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, nas quais Cid admitiu explicitamente que a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi legítima.

Os autos, divulgados nesta terça-feira (26), incluem mensagens de 4 de outubro de 2022, dois dias após o primeiro turno das eleições. Em uma delas, Cavaliere questiona Cid sobre possíveis evidências de fraude: "Conseguiram plotar?", escreveu. A resposta de Cid, enviada horas depois, foi clara: "Nada... Nenhum indício de fraude". Para os investigadores, esse reconhecimento reflete a consciência dos envolvidos sobre a legitimidade do sistema eleitoral, mesmo enquanto continuavam a espalhar desinformação sobre supostas irregularidades, como aponta reportagem do Valor.

A investigação também trouxe à tona a preocupação de Cid com as possíveis consequências legais de suas ações. Em uma troca de mensagens com Cavaliere, ele demonstra o temor de ser preso: "Eu também... Senão estou preso", respondeu, ao ser questionado sobre os desdobramentos das investigações.

No entanto, mesmo diante da falta de provas, a insistência na narrativa golpista prosseguiu. Em outra conversa, datada de novembro de 2022, o tenente-coronel Ferreira Lima cobrou Cid: "Alguma evolução que nos deixe otimista?". Mais uma vez, Cid reafirmou a ausência de irregularidades: "Até agora... nada. Nenhuma bala de prata".

 

A propagação de fake news sobre as urnas eletrônicas foi central na estratégia de Jair Bolsonaro ao longo de 2022. Reuniões com embaixadores e transmissões ao vivo foram usadas para levantar suspeitas infundadas sobre o sistema de votação. A conduta culminou na condenação de Bolsonaro pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que o declarou inelegível até 2030.

Para a PF, as mensagens analisadas comprovam o dolo dos investigados em deslegitimar o processo eleitoral mesmo sabendo da ausência de qualquer irregularidade. O caso reforça o uso estratégico da desinformação como ferramenta de mobilização golpista e evidencia as divisões internas entre os próprios militares, alguns dos quais chegaram a sugerir abertamente a ruptura institucional diante da derrota eleitoral.

 

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