As ameaças recorrentes de Bolsonaro ao Congresso e ao STF mostram que o presidente tem disposição para resistir a qualquer tentativa de afastá-lo do cargo. Porém, isolado politicamente e com apoio reduzido a um terço da população, ele segue fraco demais para fazer valer os seus desígnios. Apesar do viés autoritário, ou por causa dele, Bolsonaro governa dentro de um cercadinho institucional, com a autoridade cada vez mais contestada e cerceada por organizações públicas e civis.

Por outro lado, o sistema institucional corta arroubos anti-democráticos mas não consegue obrigar Bolsonaro a seguir as regras do jogo e a governar de modo republicano. Se o STF impede o presidente de submeter a PF aos seus interesses, ele inflama apoiadores contra a corte para intimidá-la com protestos, como no último domingo, 03/5.

Bolsonaro está sem força para peitar instituições. Mas elas também parecem sem condições de derrubá-lo. Na disputa Bolsonaro versus STF/Congresso, o placar por ora é um empate. Ou melhor, um impasse.

A depender do presidente, a disputa vira guerra aberta. Por isso o impasse institucional só deve piorar, dificultando a governança do país e acentuando as consequências da crise do coronavírus. E, então, o país aguenta mais 32 meses de impasse institucional, com instabilidade permanente?

Se a recessão for tão profunda como se anuncia, será difícil adiar soluções para 2022. A gravidade da crise deve precipitar uma saída do impasse antes do fim do mandato de Bolsonaro. O que implica em algum tipo de ruptura.

Desempate significa derrota de um lado. Ou cai Bolsonaro, ou caem as instituições. Na situação em que o país se encontra, não há como escapar de uma saída traumática. Mas isso não precisa ser ruim. A ruptura pode abrir um novo e revigorante capítulo na história da República.

Se o Congresso e o STF fossem bem avaliados, não haveria tanta gente para atacá-los. Se a retórica de Bolsonaro tem eco em parte significativa da sociedade, é porque essas instituições deixam muito a desejar. Eis a verdade: muitos brasileiros não creem que vale a pena preservar o supremo e o parlamento como são.

O atual impasse institucional mostra que o modelo de República criado na Constituição de 1988 já passou da hora de ser reformado, não atende mais ao país. Pode ser muito melhor. Terá que sê-lo para o Brasil superar a crise do século.

Bolsonaro gostaria de fechar tudo. Mas, na prática, a sua ação pode surtir o efeito oposto, resultando no aprimoramento das instituições que tanto rejeita. De fato, STF e Congresso vão ter que melhorar, e muito, pois só assim sairão vencedores do impasse.