Em meio a uma crise de queimadas na região Amazônica, com números recorde de incêndios que têm atraído a atenção internacional para o Brasil, Minas Gerais também viu saltar a quantidade de incêndios em 2019. De janeiro até 28 de agosto, o estado registrou 2.961 focos de incêndio detectados pelo satélite do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Esse número é quase 60% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

De janeiro a agosto de 2018, foram 1.749 focos de incêndio em Minas Gerais, durante todo o ano foram 4.627 focos registrados. O Instituto faz o monitoramento diário, por meio de satélites, da superfície do país, para detectar e controlar queimadas e desmatamentos.

O estado também é líder de focos de incêndio na região Sudeste. Ao compararmos com os estados vizinhos, Minas Gerais está à frente de São Paulo, que tem uma dimensão territorial semelhante e registrou 1.622 focos de incêndio até o último dia 28; Rio de Janeiro, com 397 casos; e Espírito Santo, com 229.

Números divulgados pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais também são alarmantes. De acordo com a corporação, de janeiro a julho de 2019 foram registrados 8.928 incêndios em vegetação no estado, 31,18% a mais que os 6.806 registrados no ano passado. Só na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram 1.891 focos até julho deste ano, 23,19% a mais que o ano passado.

De acordo com o tenente Raul Souza dos Santos, do 3º Batalhão de Bombeiros de Minas Gerais, os números acendem um alerta, devido ao potencial de os focos gerarem incêndios de grandes proporções ou, ainda, atingir a área urbana. Apesar dos números maiores, ações de combate impediram que o estrago fosse maior, como em outras regiões brasileiras. Ainda de acordo com o tenente, com o período de estiagem atípico, a tendência é que os números cresçam significativamente. “Uma série de fatores influenciam na propagação de queimadas no estado. Estamos em um período de estiagem incomum, tardio e as massas de ar frio que poderiam amenizar a situação, perdem força antes de chegarem ao estado. Com isso, as áreas cobertas de vegetação estão cada vez mais secas se tornando combustíveis para queimadas. Também há o fator humano, já que a maior parte das queimadas são provocadas intencionalmente, para renovação de pastos, campos, queimadas de lotes, nas estradas, etc.”.

A respeito das queimadas realizadas por produtores, a Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais), se posiciona contra a prática. O analista de Meio Ambiente da entidade, Guilherme Oliveira, afirma que a orientação é para que não sejam feitas. “Apenas em casos extremos e, ainda assim, o produtor deve seguir uma série de normas e pedir uma autorização ao Instituto Estadual de Florestas. Essa prática não é recomendada, pois prejudica o solo, favorece a erosão e também pode desencadear em incêndios de proporções maiores, invadindo outras propriedades e a área urbana”.

A questão ambiental no país, além de uma crise diplomática, já custou o emprego do diretor do Inpe. No dia 7 deste mês, Ricardo Galvão foi exonerado do governo após confronto com o presidente Jair Bolsonaro, ao divulgar dados que mostravam um aumento de 88% no desmatamento na Amazônia.

Mais do que nunca uma preocupação política, o tema das queimadas e o aumento no desmatamento também por causa de tal prática será tema de audiência na próxima semana na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. O presidente da casa, Agostinho Patrus (PV) afirmou nesta quarta-feira (28) que solicitou à Comissão de Meio Ambiente uma audiência para debater o aumento de focos no estado. A audiência deve contar com representantes do Corpo de Bombeiros e do Executivo Estadual. O objetivo é tornar públicas as ações de prevenção e combate às queimadas em Minas.