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A vitória de Joe Biden nas eleições americanas representa uma derrota do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, o chamado "Trump dos trópicos" que declarava fervoroso apoio ao republicano e, segundo analistas, está isolado no exterior e mais vulnerável em casa.
Eleito em 2018 e candidato à reeleição em 2022, Bolsonaro modelou sua ascensão política no estilo de Donald Trump.
Ambos conhecidos por sua capacidade de reclamar nas redes sociais e agitar suas bases conservadoras, Bolsonaro e Trump são duas das faces mais visíveis da nova direita que ressurgiu no mundo há quatro anos.
- Mais vulnerável às pressões-
Aos 65 anos, Bolsonaro acolheu e incentivou as comparações, confessou sua admiração por Trump e cultivou relações estreitas, a ponto de romper com a tradição diplomática brasileira ao apoiar abertamente a reeleição do bilionário republicano.
Bolsonaro, fiel ao estilo beligerante que compartilha com Trump, também encenou confrontos com Biden durante a campanha presidencial.
Durante o primeiro debate com Trump em setembro, Biden afirmou que os Estados Unidos deveriam pressionar o Brasil para proteger melhor a floresta amazônica, uma declaração que Bolsonaro chamou de "desastrosa".
"Lamentável Sr. Joe Biden, de todos os pontos de vista lamentável", acrescentou o presidente em um tuíte.
A série de eventos pode levar a um relacionamento difícil com o governo Biden, ansioso por reconquistar a liderança dos EUA na comunidade internacional.
Em particular, Biden busca promover o combate ao aquecimento global, questão sensível para o presidente brasileiro, cético em relação às mudanças climáticas, que tem registrado em seu governo um aumento no desmatamento e nas queimadas na Amazônia.
A saída de Trump também expõe Bolsonaro a mais críticas e pressão.
“A derrota de Trump enfraquece Bolsonaro, faz com que pareça mais isolado. Significa uma atenção mais negativa a Bolsonaro, que se tornará a cara da nova direita. E chamará mais atenção para suas ações na Amazônia, em parte porque teremos um presidente dos Estados Unidos que fala sobre o assunto", disse à AFP Brian Winter, vice-presidente do Instituto da Sociedade das Américas / Conselho das Américas.
Embora Bolsonaro possa ignorar Biden, no Brasil existem setores-chave que não poderão fazê-lo.
“Para muitas empresas brasileiras (o risco) é muito claro. Se o Brasil se tornar um pária (...) é ruim para os negócios, em um país que não pode perder clientes dada a situação econômica”, disse Winter, referindo-se às projeções de que o Brasil, atingido pelo coronavírus, enfrentará uma recessão recorde em 2020.
- Pragmatismo -
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, vínculo que Bolsonaro orgulhosamente garante, conseguiu fortalecer nos últimos anos.
A nação sul-americana tratou de posicionar os dois países como as principais figuras do Hemisfério Ocidental.
Então, por que arriscar cultivar relacionamentos espinhosos com Biden?
"Não tem muita estratégia, é mais uma questão de ter que fazer isso, demostrar o apoio constante ao Trump, motivar a base interna aqui no Brasil que tem no Bolsonaro e no Trump uma visão muito positiva desses dois líderes”, disse Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo.
Bolsonaro "está pensando mais nos benefícios internos desse discurso que no custo que vai ter para as relações" com o governo Biden, acrescentou.
O presidente brasileiro terá de apostar no pragmatismo com Biden, avaliou Paulo Sotero, do Instituto Brasil do Wilson Center, com sede em Washington.
"Vai dar muito trabalho estabelecer um diálogo e vai depender da habilidade de Bolsonaro de interpretar o momento corretamente", disse ele. “Ele deve mudar rapidamente alguns aliados próximos”, em particular o polêmico ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, observou Sotero.
No entanto, seria errado subestimar Bolsonaro, advertiu. "Sua popularidade continua alta nas pesquisas e (...) não precisa mais do 'ar de legitimidade' do presidente dos EUA que está deixando o cargo", refletiu Winter.
“Não sou a pessoa mais importante do Brasil, assim como Trump não é a pessoa mais importante do mundo, como ele mesmo disse. A pessoa mais importante é Deus”, disse Bolsonaro em evento público na sexta-feira, quando a derrota de Trump tornava-se cada vez mais previsível.
“Uma das lições que 2020 provavelmente deixará é a de que esse tipo de política não irá embora apenas por causa da derrota de Trump”, conclui Winter.
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Eleito em 2018 e candidato à reeleição em 2022, Bolsonaro modelou sua ascensão política no estilo de Donald Trump.
Ambos conhecidos por sua capacidade de reclamar nas redes sociais e agitar suas bases conservadoras, Bolsonaro e Trump são duas das faces mais visíveis da nova direita que ressurgiu no mundo há quatro anos.
- Mais vulnerável às pressões-
Aos 65 anos, Bolsonaro acolheu e incentivou as comparações, confessou sua admiração por Trump e cultivou relações estreitas, a ponto de romper com a tradição diplomática brasileira ao apoiar abertamente a reeleição do bilionário republicano.
Bolsonaro, fiel ao estilo beligerante que compartilha com Trump, também encenou confrontos com Biden durante a campanha presidencial.
Durante o primeiro debate com Trump em setembro, Biden afirmou que os Estados Unidos deveriam pressionar o Brasil para proteger melhor a floresta amazônica, uma declaração que Bolsonaro chamou de "desastrosa".
"Lamentável Sr. Joe Biden, de todos os pontos de vista lamentável", acrescentou o presidente em um tuíte.
A série de eventos pode levar a um relacionamento difícil com o governo Biden, ansioso por reconquistar a liderança dos EUA na comunidade internacional.
Em particular, Biden busca promover o combate ao aquecimento global, questão sensível para o presidente brasileiro, cético em relação às mudanças climáticas, que tem registrado em seu governo um aumento no desmatamento e nas queimadas na Amazônia.
A saída de Trump também expõe Bolsonaro a mais críticas e pressão.
“A derrota de Trump enfraquece Bolsonaro, faz com que pareça mais isolado. Significa uma atenção mais negativa a Bolsonaro, que se tornará a cara da nova direita. E chamará mais atenção para suas ações na Amazônia, em parte porque teremos um presidente dos Estados Unidos que fala sobre o assunto", disse à AFP Brian Winter, vice-presidente do Instituto da Sociedade das Américas / Conselho das Américas.
Embora Bolsonaro possa ignorar Biden, no Brasil existem setores-chave que não poderão fazê-lo.
“Para muitas empresas brasileiras (o risco) é muito claro. Se o Brasil se tornar um pária (...) é ruim para os negócios, em um país que não pode perder clientes dada a situação econômica”, disse Winter, referindo-se às projeções de que o Brasil, atingido pelo coronavírus, enfrentará uma recessão recorde em 2020.
- Pragmatismo -
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, vínculo que Bolsonaro orgulhosamente garante, conseguiu fortalecer nos últimos anos.
A nação sul-americana tratou de posicionar os dois países como as principais figuras do Hemisfério Ocidental.
Então, por que arriscar cultivar relacionamentos espinhosos com Biden?
"Não tem muita estratégia, é mais uma questão de ter que fazer isso, demostrar o apoio constante ao Trump, motivar a base interna aqui no Brasil que tem no Bolsonaro e no Trump uma visão muito positiva desses dois líderes”, disse Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo.
Bolsonaro "está pensando mais nos benefícios internos desse discurso que no custo que vai ter para as relações" com o governo Biden, acrescentou.
O presidente brasileiro terá de apostar no pragmatismo com Biden, avaliou Paulo Sotero, do Instituto Brasil do Wilson Center, com sede em Washington.
"Vai dar muito trabalho estabelecer um diálogo e vai depender da habilidade de Bolsonaro de interpretar o momento corretamente", disse ele. “Ele deve mudar rapidamente alguns aliados próximos”, em particular o polêmico ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, observou Sotero.
No entanto, seria errado subestimar Bolsonaro, advertiu. "Sua popularidade continua alta nas pesquisas e (...) não precisa mais do 'ar de legitimidade' do presidente dos EUA que está deixando o cargo", refletiu Winter.
“Não sou a pessoa mais importante do Brasil, assim como Trump não é a pessoa mais importante do mundo, como ele mesmo disse. A pessoa mais importante é Deus”, disse Bolsonaro em evento público na sexta-feira, quando a derrota de Trump tornava-se cada vez mais previsível.
“Uma das lições que 2020 provavelmente deixará é a de que esse tipo de política não irá embora apenas por causa da derrota de Trump”, conclui Winter.
Sua popularidade continua alta nas pesquisas e não precisa mais do "ar de legitimidade" do presidente dos EUA que está deixando o cargo, refletiu Winter.