A Record TV e o apresentador Luiz Bacci foram condenados a pagar uma indenização de R$ 15 mil a uma mulher que foi alvo de uma reportagem errada durante a cobertura do assassinato de Rafael Miguel no programa Cidade Alerta.
 
Após o crime contra o ator que interpretou o personagem Paçoca na novela Chiquititas, do SBT, a emissora exibiu imagens de uma mulher em um posto de gasolina e afirmou que se tratava da irmã do suspeito, Paulo Cupertino Matias e que ela estava abastecendo o carro para ajudá-lo na fuga. A informação era fake news.

"A autora [do processo] não conhece o acusado e muito menos possui vínculo de parentesco com ele. A Record e Bacci ignoraram totalmente a obrigação da imprensa de divulgar a verdade", afirmou à Justiça o advogado Eduardo Ferreira Vale, que representa a mulher.

"O fato foi de grande repercussão nacional, e ela sofre até hoje deboche de vizinhos, vindo apontá-la como piloto de fugas de criminosos", acrescentou o representante.

No entanto, o canal e o jornalista afirmaram que apenas divulgaram fatos com base em documentos e "imagens fornecidas pelas autoridades policiais e por terceiros". "Os jornalistas buscaram obter as informações de todas as partes envolvidas antes da divulgação da matéria, razão pela qual se verifica a ausência de conduta dolosa e passível de reprimenda ou indenização", afirmou à Justiça o advogado Leonardo Cordeiro, que representa a Record e Bacci.

A emissora do bispo Edir Macedo afirmou também que não causou à mulher "dor, vexame ou humilhação que fugisse à normalidade". A Justiça não concordou com os argumentos.

O juiz Fabio Junqueira apontou que o canal não comprovou que as imagens e os dados divulgados na reportagem foram fornecidos pela polícia. "O modo como a imagem da autora [do processo] foi mostrada supera a intenção de informar, própria da atividade jornalística, e caracteriza lesão grave à honra", declarou na sentença. "O fato, assim, causou evidente sensação de injustiça, além de sentimentos como ansiedade, angústia e tristeza, com evidentes danos à imagem e à reputação", destacou o magistrado. Luiz Bacci e a Record TV ainda podem recorrer da decisão. As informações são do colunista Rogério Gentile, do portal UOL.

Caso Rafael Miguel

Paulo Cupertino foi apontado pela polícia como o responsável pela morte do ator e de seus pais, João Alcisio Miguel e Miriam Selma Miguel. Os três foram baleados na porta da casa do comerciante. Eles teriam ido ao local para conversar com Paulo sobre o namoro de Rafael Miguel com a filha dele, Isabela Tibcherani. Na época, a estudante tinha 18 anos.

Câmeras de segurança gravaram a chacina. Cupertino aparece atirando 13 vezes nas vítimas numa rua do bairro da Pedreira. Elas foram mortas na frente de Isabela e de mãe dela, ex-esposa do empresário. Elas estavam próximas à casa em que moravam e não foram atingidas pelos disparos.

Paulo Cupertino, que ficou três anos foragido até ser preso, quase três anos após o crime, em 17 de maio deste ano, quando a Polícia Civil o encontrou disfarçado num hotel em São Paulo. O comerciante é acusado pelo Ministério Público (MP) pelos crimes de triplo homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas, Cupertino será julgado por um júri popular em data ainda não determinada.