Após o 21º coletivo ser incendiado neste ano na capital, moradores dizem que estão mudando hábitos
Nos últimos dez anos, 197 ônibus foram queimados na capital e na região metropolitana. Desse total, 76 ataques (38,5%) ocorreram desde janeiro de 2017, de acordo com os Sindicatos das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e das Empresas de Transporte de Passageiros Metropolitano (Sintram). Os atos criminosos começaram a aumentar em 2013, no auge da crise econômica brasileira, e se intensificaram neste ano. Segundo as empresas, 21 coletivos que circulam na região metropolitana já foram destruídos nos primeiros sete meses deste ano.
O crime tem assustado usuários do transporte coletivo, que têm mudado a rotina e evitado entrar em coletivos à noite para diminuir o risco de tornar vítima da violência. Na noite de quinta-feira (26) um coletivo da linha 1750 (Vista Alegre/Estação Diamante) foi atacado na rua Senador Levindo Coelho, no bairro Petrópolis. Ninguém se feriu, e um jovem de 22 anos foi preso.
A reportagem foi a duas estações BHBus – Barreiro e Diamante – na capital, e nove dos dez usuários ouvidos afirmaram que não usam mais o transporte coletivo depois das 20h. Mesmo com os esforços das forças de segurança, os usuários tentam deixar o trabalho mais cedo e evitam sair de casa à noite.
“Faço o máximo para sair do trabalho às 17h30 para chegar em casa mais cedo, porque pegar ônibus à noite não dá mais. A gente se sente em uma roleta-russa. Você sai para trabalhar e fica contando com a sorte, pois pode aparecer algum maluco e colocar fogo no ônibus”, disse o projetista Bráulio da Costa, 36, morador do bairro Cardoso, que usa ônibus para ir ao trabalho, na região Centro-Sul da capital.
Para a doméstica Graça de Souza, 50, falta policiamento e sobra ousadia aos criminosos. “A gente fica morrendo de medo. Ninguém mais respeita autoridade nesse país”, afirmou a doméstica. Segundo a Polícia Militar (PM), desde o início de junho, 129 pessoas foram presas por terem envolvimento nos ataques.