Seguindo conselho da família, vice-governador eleito preferiu não participar diretamente da gestão para evitar o histórico de confusões dos vices mineiros
O vice-governador eleito Paulo Brant sempre foi visto como o membro mais experiente da chapa vitoriosa e um dos principais integrantes do novo governo em Minas. Na campanha eleitoral, assim que a candidatura Zema começou a decolar nas pesquisas o vice passou a ser cogitado para postos de destaque na administração. Afinal, Brant já ocupou vários cargos públicos: foi secretário da Cultura e adjunto da Indústria e Comércio, diretor do BDMG e do extinto Bemge. Mas, contrariando todas as previsões, ele não assumiu nenhum cargo no alto escalão. Deve permanecer restrito ao papel para o qual foi eleito e do qual não pode ser demitido: o de vice. Por conselho de familiares como o ex-ministro Roberto Brant, um de seus 10 irmãos, Brant teria optado por não pleitear ou aceitar qualquer posição de “subordinação” a Zema. Isso para evitar atritos com o governador e se preservar como seu eventual substituto.
ANTECEDENTES
Pesou na avaliação familiar e na decisão de Brant o histórico de confusões no estado envolvendo vices e titulares. Dois casos recentes de ruptura traumática mostram como as relações entre companheiros de chapa podem se complicar após a posse no governo. Um caso é o do vice-governador Antônio Andrade, que acabou virando inimigo de Fernando Pimentel após buscar protagonismo político no cargo e indicar o próprio filho Eduardo Andrade para presidente da Gasmig. O outro é do vice-prefeito de Belo Horizonte, Paulo Lamac, demitido ruidosamente da secretaria de Governo por conta de desentendimentos com o prefeito Alexandre Kalil na campanha eleitoral. Segundo interlocutores de Brant, esses exemplos o levaram a adotar mais cautela em seu envolvimento com a administração do Estado.
TODA INFLUÊNCIA
A postura cautelosa e a decisão de não assumir cargos administrativos não significa alheamento do governo. Tudo indica que o vice-governador eleito vem influenciando a montagem da nova equipe estadual com indicação de quadros. Um dos nomes cuja escolha está sendo atribuída a ele nos bastidores é a do seu amigo Custódio Mattos, ex-prefeito de Juiz de Fora e ex-deputado do PSDB, que responderá por um dos postos mais difíceis no governo Zema: o de secretário de Governo ou articulador da nova gestão junto ao legislativo e à classe política. Como o partido dos eleitos, o Novo, é estreante nas urnas e elegeu apenas três deputados na Assembleia Legislativa, a construção da base de apoio parlamentar será um tremendo desafio para o governo que começa neste dia 01.
RODA DA FORTUNA
A eleição de Brant como vice-governador representa uma reviravolta da sorte. Em meados de 2016 o economista deixou a presidência da Cenibra e um alto salário (à época especulou-se que seria de cerca de R$ 100 mil/mês) para ser lançado como pré-candidato a prefeito de Belo Horizonte pelo PSB, a convite do então prefeito Marcio Lacerda. Brant mal chegou a fazer campanha: para sua humilhação e desapontamento, foi trocado inesperadamente na chapa pelo então vice-prefeito Délio Malheiros, que perdeu o pleito para Kalil. Agora, dois anos depois, a roda da fortuna deu um giro de 180 graus. E tudo mudou. Brant entrou para a chapa que acabou vitoriosa nas urnas, tornando-se um dos principais atores políticos na cena mineira. Já Lacerda teve a candidatura a governador abortada pelo próprio partido, sendo forçado a se retirar da disputa num recuo que pode afastá-lo definitivamente da vida pública.