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Tarde de sol escaldante em BH: projeção baseada em plataforma do IPCC mostra cidade sujeita a impacto de 3,6°C e média de temperatura equivalente à de Salvador atualmente(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 18/9/20)
Um calor tão intenso quanto o sentido em algumas das maiores capitais do Nordeste do Brasil pode se projetar definitivamente sobre as montanhas mineiras, comprometendo safras, fazendo secar nascentes, minguar o volume de rios e reduzindo a geração de energia, ao mesmo tempo em que amplia seu consumo. A elevação seria tal que Belo Horizonte viveria dias com calor semelhante ao de Salvador, com temperatura média anual passando de 20,6°C para 24,2°C.
Esse cenário catastrófico previsto caso o aquecimento global não seja contido se instalaria em Minas Gerais, de acordo com as modelagens mais críticas do Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas, publicado no último dia 9. Segundo o estudo, até 2100 a Terra poderá se aquecer do 1,5°C da previsão mais otimista até os 4°C da projeção mais pessimista.
Em Minas, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) determinou quais os municípios mais vulneráveis a mudanças climáticas unindo vários indicadores, como eventos catastróficos já ocorridos, capacidade de resposta da Defesa Civil e das estruturas de Estado, nível de dependência pública, cobertura vegetal e soberania hídrica, entre outros.
Levando-se em conta as 33 cidades de maior vulnerabilidade climática apontados nessa lista, todos teriam temperaturas elevadas a patamares similares aos atuais do Nordeste, caso a Terra enfrentasse a mais alta projeção de aquecimento.
''Verifica-se uma significativa concentração de municípios com exposição muito alta e extrema no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. Ao todo, são 102 municípios em Minas Gerais com esses níveis de exposição, com mais de 2 milhões de habitantes''
Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam)
Os impactos nas cidades mineiras foram estabelecidos com base no algoritmo do IPCC, que calcula o impacto para locais específicos do planeta em cenários de aquecimento de 1,5°C ou 4°C, de acordo com as coordenadas dos municípios. Um dos mais altos impactos ocorreria em Coromandel, cidade de 28 mil habitantes do Alto Paranaíba, onde a atual temperatura média ao longo do ano é de 21,9°C.
O aquecimento planetário poderá elevar essa razão em 4°C, na estimativa mais dramática, chegando a 25,9°C, uma temperatura similar à de Natal, no Rio Grande do Norte, atualmente.
Por outro lado, Dom Bosco, no Noroeste de Minas, seria a cidade em que os termômetros indicariam mais calor, com o acréscimo de 3,9°C aos seus 22,7°C de média atual. Com isso, registrariam a média de 26,6°C, a mesma de Fortaleza, capital do Ceará, no atual cenário.
“PROTETOR SOLAR”
O trabalho para aplacar o aquecimento começa impedindo que ilhas de calor se formem nas cidades, e é o conjunto dessas ações em escala global que poderia atenuar o aquecimento, afirma o doutor em geografia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) Klemens Augustinus Laschefski, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Precisamos reforçar o transporte público. Muitos carros em circulação, como em BH, aumentam os gases de efeito estufa (GEE). Precisamos abandonar os modelos de cidades construídas para carros. Elas precisam privilegiar as pessoas. Também é muito importante que tenhamos mais áreas naturais protegidas. As áreas verdes amenizam as temperaturas”, explica.
Os estragos que Minas Gerais pode sofrer com o aquecimento global e as mudanças climáticas podem ser calibrados pela quantidade de municípios que a Feam identifica como vulneráveis. “Um total de 68% dos municípios mineiros têm sensibilidade alta ao clima, sendo 5% uma sensibilidade muito alta”, descreve o órgão.
“Verifica-se uma significativa concentração de municípios com exposição muito alta e extrema no Norte de Minas e no Vale do Jequitinhonha. Ao todo, são 102 municípios em Minas Gerais com esses níveis de exposição, com mais de 2 milhões de habitantes”, prossegue o estudo da fundação.
Entre a esperança e a vulnerabilidade
Levantamentos do órgão ambiental do estado mostram que a maior parte das cidades mineiras têm uma capacidade moderada de se adaptar às mudanças climáticas e seus efeitos (51%), somando 5 milhões de habitantes. “As regiões do Norte de Minas e Jequitinhonha aparecem como as mais vulneráveis às mudanças climáticas. O território mineiro tem 20% de seus municípios em áreas de vulnerabilidade extrema (6% da população total do estado)”, segundo a Feam.
Mas há esperança, caso haja políticas públicas adequadas, conscientização e melhoria de infraestrutura. “Grande parte da população mineira se encontra em áreas com capacidade de adaptação alta, que responde por 48% dos municípios e 71% têm vulnerabilidade relativamente baixa ou moderada”, define a Feam.
DEPENDE DE NÓS
O IPCC foi o primeiro organismo da ONU a concluir que os seres humanos são responsáveis por ampliar 1,07°C na temperatura do planeta nos últimos 50 anos. As conclusões estão no relatório “Climate change 2021: The physical science basis”.
Em termos de Brasil, os modelos preveem crescimento na duração das secas no Nordeste, bem como mais dias sem chuvas no Norte da Amazônia. A quantidade de dias com calor acima de 35°C na Amazônia por mais de 60 dias por ano também será maior até o fim do século. Mais secas agrícolas e ecológicas no Sul da Amazônia e em parte do Centro-Oeste são muito prováveis, apontam os estudos.
Confira as ações que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente julga importantes no enfrentamento ao aquecimento global em Minas:
Assinatura de Memorando de Entendimento entre o governo de Minas Gerais e o Reino Unido, em dezembro de 2020, relacionado às mudanças climáticas e estratégias do processo de descarbonização rumo à 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26). O estado foi o primeiro no Brasil a assinar um acordo com o Reino Unido sobre uma agenda de desenvolvimento verde.
Assinatura de carta compromisso com a Aliança pela Ação Climática (ACA Brasil), coordenada pelo ICLEI América do Sul, o Instituto Clima e Sociedade, o CDP LatinAmerica e o Centro Brasil no Clima. O compromisso busca adotar medidas sistematizadas para aumentar o apoio público no enfrentamento à crise climática, contribuindo para que os países cumpram com os compromissos firmados no Acordo de Paris e colaborarem para que as metas a se alcançar sejam ainda mais ambiciosas.
Também em 2020, Minas Gerais passou a compor a Coalizão “Governadores pelo Clima”, união de 24 governadores brasileiros que se associaram para enfrentar as emergências climáticas com ações destinadas a regeneração ambiental, redução das emissões de carbono e desenvolvimento de cadeias econômicas capazes de oferecer alternativas às populações mais vulneráveis.
Anualmente, Minas Gerais, juntamente com milhares de organizações, cidades, estados e regiões, reporta suas emissões de gases de efeito estufa, gerenciamento de água e florestas, e estratégias climáticas por meio da plataforma CDP. A divulgação de dados ambientais por meio do CDP tem um grande número de vantagens, desde uma melhoria de engajamento, até a centralização de dados e o acompanhamento do progresso. O CDP fornece aos Estados todos os dados disponíveis publicamente, avalia sua resposta, compara seu desempenho com seus pares e encontra áreas de oportunidade para o nosso contexto, com foco no enfrentamento da crise climática e no desenvolvimento sustentável.
O Estado publicará decreto criando o Fórum Mineiro de Energia e Mudanças Climáticas (FEMC), instância de discussão de alto nível sobre mudança do clima e transição energética, subsidiando a formulação e implementação de políticas públicas relativas à mitigação das emissões de gases de efeito estufa e adaptação, assim como a promoção da energia renovável e da eficiência energética, visando à transição para uma economia neutra em carbono.
Lançamento da plataforma Clima Gerais, em 2015, para apoiar os municípios mineiros no desenvolvimento de baixo carbono e na adaptação territorial, frente aos efeitos das mudanças climáticas. A plataforma, específica para agentes municipais, possui módulos que visam apresentar os principais conceitos relativos à mudança do clima, boas práticas de municípios brasileiros e internacionais, bem como possíveis fontes de financiamento.
Em parceria com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), a Feam também lançou, em 2020, a ferramenta Clima na Prática, que é uma metodologia de apoio à elaboração e implementação de políticas públicas municipais de combate às mudanças climáticas. A ferramenta oferece aos gestores municipais diretrizes para a elaboração de um Plano de Energia e Mudanças Climáticas Municipal e/ou outras ações ou políticas voltadas para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Representa, ainda, uma forma de auxiliar o município a inserir em suas políticas e programas, a agenda climática.
Em 2019, a Feam adequou o potencial poluidor/degradador do solo relativo aos empreendimentos de energia solar fotovoltaica, com alteração do índice de G (grande) para M (médio), já que na época, empreendimentos dessa fonte renovável eram considerados como de alto potencial poluidor do solo, mesma classificação utilizada para geração de energia hidrelétrica e energia termelétrica movida a combustível fóssil. A mudança teve como objetivo fomentar a instalação de empreendimentos fotovoltaicos em território mineiro e, deste modo, garantir a implementação de uma política de transição energética a nível estadual, a fim de cumprir acordos climáticos internacionais, bem como garantir um fornecimento seguro e diverso de energia à sociedade mineira.
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Tarde de sol escaldante em BH: projeção baseada em plataforma do IPCC mostra cidade sujeita a impacto de 3,6°C e média de temperatura equivalente à de Salvador atualmente(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 18/9/20)
Um calor tão intenso quanto o sentido em algumas das maiores capitais do Nordeste do Brasil pode se projetar definitivamente sobre as montanhas mineiras, comprometendo safras, fazendo secar nascentes, minguar o volume de rios e reduzindo a geração de energia, ao mesmo tempo em que amplia seu consumo. A elevação seria tal que Belo Horizonte viveria dias com calor semelhante ao de Salvador, com temperatura média anual passando de 20,6°C para 24,2°C.
Esse cenário catastrófico previsto caso o aquecimento global não seja contido se instalaria em Minas Gerais, de acordo com as modelagens mais críticas do Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas, publicado no último dia 9. Segundo o estudo, até 2100 a Terra poderá se aquecer do 1,5°C da previsão mais otimista até os 4°C da projeção mais pessimista.
Em Minas, a Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) determinou quais os municípios mais vulneráveis a mudanças climáticas unindo vários indicadores, como eventos catastróficos já ocorridos, capacidade de resposta da Defesa Civil e das estruturas de Estado, nível de dependência pública, cobertura vegetal e soberania hídrica, entre outros.
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Por outro lado, Dom Bosco, no Noroeste de Minas, seria a cidade em que os termômetros indicariam mais calor, com o acréscimo de 3,9°C aos seus 22,7°C de média atual. Com isso, registrariam a média de 26,6°C, a mesma de Fortaleza, capital do Ceará, no atual cenário.
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O trabalho para aplacar o aquecimento começa impedindo que ilhas de calor se formem nas cidades, e é o conjunto dessas ações em escala global que poderia atenuar o aquecimento, afirma o doutor em geografia pela Universidade de Heidelberg (Alemanha) Klemens Augustinus Laschefski, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais.
“Precisamos reforçar o transporte público. Muitos carros em circulação, como em BH, aumentam os gases de efeito estufa (GEE). Precisamos abandonar os modelos de cidades construídas para carros. Elas precisam privilegiar as pessoas. Também é muito importante que tenhamos mais áreas naturais protegidas. As áreas verdes amenizam as temperaturas”, explica.
Os estragos que Minas Gerais pode sofrer com o aquecimento global e as mudanças climáticas podem ser calibrados pela quantidade de municípios que a Feam identifica como vulneráveis. “Um total de 68% dos municípios mineiros têm sensibilidade alta ao clima, sendo 5% uma sensibilidade muito alta”, descreve o órgão.
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Levantamentos do órgão ambiental do estado mostram que a maior parte das cidades mineiras têm uma capacidade moderada de se adaptar às mudanças climáticas e seus efeitos (51%), somando 5 milhões de habitantes. “As regiões do Norte de Minas e Jequitinhonha aparecem como as mais vulneráveis às mudanças climáticas. O território mineiro tem 20% de seus municípios em áreas de vulnerabilidade extrema (6% da população total do estado)”, segundo a Feam.
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O IPCC foi o primeiro organismo da ONU a concluir que os seres humanos são responsáveis por ampliar 1,07°C na temperatura do planeta nos últimos 50 anos. As conclusões estão no relatório “Climate change 2021: The physical science basis”.
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Confira as ações que a Secretaria de Estado do Meio Ambiente julga importantes no enfrentamento ao aquecimento global em Minas:
Assinatura de Memorando de Entendimento entre o governo de Minas Gerais e o Reino Unido, em dezembro de 2020, relacionado às mudanças climáticas e estratégias do processo de descarbonização rumo à 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26). O estado foi o primeiro no Brasil a assinar um acordo com o Reino Unido sobre uma agenda de desenvolvimento verde.
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