Tesouros redescobertos e sonhos resgatados em quatro dos colégios mais antigos de BH, que passam por reformas. Em algumas das unidades da rede estadual, alunos já experienciam o resultado das intervenções
No coração da cidade, alunos brincam no novo pátio do “Barão”, como é carinhosamente chamada a Escola Estadual Barão do Rio Branco, localizada no bairro Funcionários, na capital. Eles se sentem “sortudos” ao sentirem o cheiro de tinta fresca ao entrarem nas salas de aula, novinhas em folha, mas com características que remontam até um século.
A E.E. Barão do Rio Branco é uma entre as quatro mais antigas de Belo Horizonte amplamente restauradas por uma grande equipe de especialistas do Estado. Além dela, as escolas estaduais Pandiá Calógeras, no Santo Agostinho, Barão de Macaúbas, no bairro Floresta, e Governador Milton Campos (o "Estadual Central") receberam o trabalho de arquitetos, restauradores, historiadores, técnicos, entre outros, sob a responsabilidade da Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) e o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e o Departamento de Edificações e Estradas e Rodagens (DEER-MG).
O “Barão”, o primeiro grupo escolar da capital, construído em 1906, acolheu muitos alunos desde quando estava nascendo a cidade. Assim como as outras escolas tradicionais, até 2017, o grupo estava sujo, pichado, aos pedaços. Mas os projetos para construção de novos espaços, reparos em redes elétricas e hidráulicas e manutenção de pintura, entre outros, solicitados há mais de dez anos e elaborados e financiados pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), e entregue majestoso, em março desse ano, aos alunos, professores e diretores que o ocuparam com encantamentos.
Gabriel Vieira, aluno do 7º ano na escola que se destaca Avenida Getúlio Vargas, altura do número 1.059, na Savassi, afirma que está aliviado por poder estudar na "nova" escola.
“Aqui tem espaço para brincar. São dois pátios grandes, além da quadra. Sem contar as salas de aula, que são arejadas, têm muita ventilação, e está tudo novo. Dá mais gosto ainda de vir para a aula”, destaca o jovem de 13 anos.
A vice-diretora, Maria Nazaré Arruda, que trabalha na Barão do Rio Branco desde 1999, conta que o prédio precisava de uma reforma, inclusive para tornar mais segura a permanência dos alunos durante o horário de aulas, já que muitas estruturas estavam comprometidas. Agora, ela comemora o resultado no novo ambiente de trabalho.
“Além de estar tudo de cara nova e com as características tradicionais preservadas e ainda mais bonitas, foi maravilhoso poder voltar para nossa sede, pois estávamos alocados no Instituto de Educação de Minas Gerais (Iemg) e as condições não eram favoráveis para professores, alunos e todos os outros profissionais da Barão do Rio Branco", conta Nazaré. “Fizeram um belo trabalho, mantendo o que foi possível de suas características originais - como os azulejos hidráulicos, as grades e uma medida inteligente: a fachada foi pintada com tinta especial, refratária às pichações", completa.
Os profissionais se surpreenderam com revelações que vãos das pichações rebuscadas nas paredes a um teatro que também seria de sala de balé. A pintura original do interior foi encontrada com tons terrosos que imitam tecido em relevo, fruto de dez camadas de tinta.
“Levamos de 15 a 20 dias para fazer a pintura de dois metros quadrados”, exemplifica a restauradora Maria Caldeira. As madeiras das portas e janelas foram raspadas e, no estado original, receberam verniz natural.
"Até as dobradiças das portas foram refeitas com a tecnologia da época, mas em alguns casos, quando não foram encontrados materiais que remontassem a história, utilizamos um material bem moderno, dando a impressão de ‘contraste’ para que o material mantido estivesse em destaque”, complementa a a restauradora.
O valor do investimento para reforma e restauração da E.E. Barão do Rio Branco foi de R$ 8.557.985,48, e as obras duraram cerca de cinco anos.
Pandiá Calógeras
A satisfação de estar de volta à sede original da escola também se repetiu na Pandiá Calógeras, em fevereiro de 2017. Apesar de não ter tido todo o processo de reforma e restauração concluído naquela época, o prédio já estava em plenas condições de receber os alunos e profissionais para iniciar o ano letivo com tudo novo – lá é ofertado o ensino fundamental, do 1º ao 9º ano.
A diretora, Marta Eliana Campos, conta que, antes das obras, a escola estava com problemas de afundamento de terra, o que provocou, inclusive, rachaduras e abatimento do nível do terreno. “Ou reformava, ou fechava a Pandiá”, revela a diretora.
Agora, com todas as 28 salas novas e impecáveis, redes elétricas e hidráulicas reformadas, quadra de esporte, pintura nova e iluminação totalmente modernizada, a diretora se diz, ao mesmo tempo, empolgada e tranquila.
E.E. Pandiá CalógerasFachada da E.E. Pandiá Calógeras, na capital | Alunos em sala de aula na escola (Crédito: Franciele Xavier) | ||
A escola durante as obras e intervenções |
“Durante as obras, estávamos em um prédio de três andares alugado, e lá não atendia aos alunos. Não tinha espaço para o lazer, as salas eram apertadas, tínhamos apenas um refeitório. Agora, olha a diferença”, afirma Marta, apontando para o enorme pátio interno da Pandiá.
De acordo com ela, agora, sim, dá para oferecer aos cerca de 1.500 alunos matriculados a estrutura que eles merecem, com qualidade e segurança. “Falta apenas terminar o jardim e instalar um novo padrão de energia elétrica”, completa.
Na Pandiá Calógeras, o recurso investido foi de R$ 9,87 milhões – sendo R$ 6,49 na primeira fase e R$ 3,38 milhões na segunda – e, apesar de faltar muito pouco, pode-se dizer que as obras tiveram duração de, aproximadamente, quatro anos.
Barão de Macaúbas
Quem sobe as escadarias da entrada da E.E. Barão de Macaúbas e observa as paredes do hall de entrada pode pensar que a pintura acabou de ser feita. No entanto, a arte registrada ali é quase centenária: a escola foi a primeira do bairro Floresta e é um pouco mais nova que a Barão do Rio Branco.
Construída em 1921, ela teve todo seu projeto arquitetônico original restaurado, sem danificar ou fazer modificações e destacando a beleza e os detalhes de pisos e pinturas.
O processo de reforma, restauração e ampliação da Barão de Macaúbas envolveu, além do resgate das características originais e recuperação da arte presente em quase todos os espaços, a construção de um anexo para laboratórios de ciências, biblioteca, três salas de aula, banheiros, áreas de convívio e quadra de esportes. Foram realizadas, ainda, a adequação de padrões de acessibilidade e a construção de palco para eventos culturais.
Também divididas em duas fases – a primeira, com contrato de R$ 5,3 milhões e, a segunda, com investimentos de R$ 727.460 –, as obras na primeira escola do bairro Floresta tiveram duração de quatro anos e sete meses, com início em julho de 2012.
E.E. Barão de MacaúbasFachada da E.E. Barão de Macaúbas, no bairro Floresta, em Belo Horizonte | Registro histórico da E.E. Barão de Macaúbas (Crédito: Divulgação/DEER-MG) | ||
Alunos em sala de aula após as reformas |
Durante a reforma, as aulas foram transferidas para o prédio da antiga escola Estadual Pedro Américo, no bairro Santa Tereza. A Barão de Macaúbas voltou a funcionar e a receber seus alunos e profissionais em fevereiro de 2017.
“Foi um alívio ter voltado, mesmo com algumas pequenas reformas ainda para serem feitas. Não tem nada melhor do que voltar para a escola com a qual já estamos acostumados, ainda mais com tudo renovado e bonito assim”, comenta a diretora Rita de Cássia da Silva.
Lígia Ferreira de Carvalho Gonçalves, aluna do 9º ano, aprovou a reforma e comemora a chance de poder estudar em um ambiente bem cuidado.
“A julgar pela aparência anterior e pelas condições antigas da escola, agora está muito melhor, sem contar que aqui tem uma estrutura maravilhosa para os alunos. O prédio do Pedro Américo nos suportou sem problemas, mas voltar para a sede da Barão de Macaúbas é sem comparação. Aqui a gente sabe que a escola é nossa, e agora muito mais bonita e com mais espaços”, diz a estudante.
Estadual Central
A E.E. Governador Milton Campos (o "Estadual Central") é uma das escolas públicas mais importantes de Minas Gerais. O prédio, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, é tombado pelo Iepha-MG.
A restauração e a reforma geral da escola buscam fazer com que a Unidade I volte a ter as características do projeto original, que foi concebido para remeter a elementos utilizados no espaço da escola à época.
O espaço que abriga as salas de aula lembra uma régua, o auditório da escola faz menção a um mata-borrão, enquanto a caixa d’água remete a um giz utilizado em um quadro negro. Ao todo, no local, estão 2.200 alunos de ensino médio, distribuídos em 60 turmas, e cerca de 150 servidores.
No ato da entrega da primeira etapa das obras, em 22 de junho desse ano, o governador Fernando Pimentel ressaltou que a intenção do Governo do Estado, com a reforma, é “oferecer aos alunos tudo aquilo que eles precisam para terem capacidade de refletir, interagir, e fazer dessa escola uma referência para o Brasil”, disse.
O vice-diretor do turno da noite da escola, João Martins Braga, enfatizou, naquela ocasião, a importância da educação e de se manter o colégio como referência na área. “É na educação que se tem certeza e garantia de uma trajetória exitosa. Peço que o governador e demais autoridades nos ajudem a fazer dessa escola o que ela nasceu para ser: grande e agregadora para o futuro”, afirmou.
E.E. Governador Milton CamposE.E. Governador Milton Campos após algumas das ações de revitalização | Registro da escola em novembro (Crédito: Divulgação DEER-MG) | ||
Registro da reforma em junho |
Segunda etapa
A complementação da obra de reforma e ampliação da E.E. Governador Milton Campos está em andamento. Na unidade I, serão executados os serviços de paisagismo e jardinagem, cercamento parcial em vidro nos muros e na passarela que dá acesso para as salas de aula.
O escopo da obra, com investimento previsto de R$ 2,4 milhões, prevê também a implantação de praça de convivência na unidade II, acesso para pessoas com mobilidade reduzida, reforma dos muros, instalação de grades e pintura. A obra teve início em 2 de abril de 2018.
Na Unidade II, serão realizados acabamentos nos banheiros, vestiários e laboratórios com instalação de portas, bancadas, armários, divisórias, construção de nova entrada com acessibilidade pela Rua São Paulo e instalação de gradil na Rua Felipe dos Santos.