SUPERLOTAÇÃO

Duas crianças internadas em estado grave por complicações de doenças respiratórias aguardam transferência para leitos de Centro de Terapia Intensiva (CTI) em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. Ambas estão na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Padre Roberto, que enfrenta uma sobrecarga na assistência pediátrica em razão do avanço do surto de viroses no estado.

Ao todo, 11 crianças estão na fila por vagas hospitalares, conforme comunicado da prefeitura da cidade publicado nesse sábado (11/5). Além dessas, segundo o Executivo municipal, há outras em observação que podem evoluir para quadros de internação, "o que reforça a situação crítica enfrentada pela unidade".

Em nota, a prefeitura ainda reforça que a responsabilidade por regular e autorizar a transferência para hospitais da rede pública é da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG). A reportagem do Estado de Minas procurou a SES-MG e a Prefeitura de Divinópolis para atualização dos casos, mas até o fechamento desta matéria não houve retorno.

Enquanto as crianças esperam por atendimento, a UPA Padre Roberto opera acima de sua capacidade. Na quinta-feira (8/5), a taxa de ocupação na unidade chegou aos 200%. No dia seguinte, ainda operava em 100%. A explosão de atendimentos por doenças respiratórias tem colocado a rede municipal em xeque, e o municipio acionou o Ministério Público (MP).

"A situação foi informada ao MP e a SES-MG está sendo cobrada incessantemente, uma vez que o município não possui autonomia para realizar transferências pelo SUS, sendo dependente da regulação estadual", diz nota do municipio.

De janeiro a abril deste ano, os atendimentos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) na UPA da cidade quase dobraram, com um crescimento de 98% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da prefeitura. Os casos de SRAG, que exigem hospitalização, subiram 91%. Nas unidades da atenção primária, como os postos de saúde, o salto foi de 86% nas queixas respiratórias.

Apesar do cenário preocupante, Divinópolis ainda não integra a lista das 13 cidades mineiras que decretaram emergência em saúde pública por conta do surto de doenças respiratórias. A lista inclui municípios da Região Metropolitana e Central, como Belo Horizonte, Betim, Contagem, Ribeirão das Neves, Sete Lagoas, Mariana, Santa Luzia, Pedro Leopoldo e Conselheiro Lafaiete. Em outras regiões, decretaram emergência Ipatinga (Vale do Aço), Uberlândia (Triângulo), Unaí (Noroeste) e Diamantina (Jequitinhonha).

O Painel de Doenças Respiratórias da SES-MG registrou 177 internações em Divinópolis até a última segunda-feira (5/5). No estado, o sistema já contabiliza 30.080 internações por SRAG. A maioria dos casos graves atinge bebês de até um ano (3.059 registros) e pessoas acima de 60 anos (16.852).

Em comparação ao mesmo período do ano passado, houve um leve aumento nas internações — eram 29.611. Por outro lado, as mortes caíram quase pela metade: foram 438 neste ano, frente às 893 notificadas em 2024.

As regiões Central, Norte e Triângulo lideram as solicitações de leitos em função de complicações respiratórias. A SRAG é causada, em geral, por infecções virais como gripe, COVID-19 e vírus sincicial respiratório (VSR), mas também pode ser desencadeada por agentes bacterianos ou fúngicos.

Pressão sobre o sistema

Como resposta à pressão crescente sobre os hospitais, o governo estadual anunciou, nessa sexta-feira (10/5), a abertura de 50 novos leitos em Belo Horizonte. Além disso, R$ 8 milhões foram antecipados para os 13 municípios que já decretaram emergência. O recurso, segundo a SES-MG, é destinado exclusivamente a essas cidades.

A vacinação é apontada como uma das principais estratégias para barrar o avanço das internações. Desde o fim de abril, a vacina contra a gripe foi liberada para toda a população acima de seis meses de idade. Embora disponível durante todo o ano, a cobertura vacinal está abaixo do ideal.

Até a última quarta-feira (7/5), segundo o Ministério da Saúde, 1.659.685 doses da vacina contra a influenza haviam sido aplicadas em Minas Gerais. A população-alvo é de 5.673.527 pessoas. Entre gestantes, crianças e idosos, a cobertura vacinal segue baixa: apenas 18,83%. A meta preconizada pelo Ministério da Saúde é de 90%.

A expectativa é de melhora nos índices com o Dia D promovido ontem (10/5) pela SES-MG, que mobilizou mais de 600 municípios. A meta é que os 853 municípios mineiros participem da ação.

“Temos vacinas eficazes para a maioria das doenças respiratórias, como influenza e COVID-19. A única exceção é o vírus sincicial, que ainda não tem vacina disponível, mas é justamente um dos mais perigosos para bebês pequenos”, alertou o secretário de Estado da Saúde, Fábio Baccheretti, em comunicado. Ele também reforçou a importância de manter crianças com sintomas afastadas de outras da mesma faixa etária.

Reforço no atendimento infantil na capital

Em BH, terceira cidade do estado a decretar emergência, medidas adicionais já estão em curso desde abril. A prefeitura reforçou o plantão pediátrico nas UPAs e abriu 30 leitos infantis — 20 no Hospital Odilon Behrens e 10 no Hospital da Baleia. Outros 13 leitos serão abertos na próxima semana no Hospital das Ciências Médicas, no Bairro Santo Agostinho, conforme anunciado ontem (10/5).

Além disso, cinco centros de saúde da capital passaram a funcionar aos sábados para atender casos respiratórios nas regionais Barreiro, Venda Nova, Oeste, Norte e Nordeste, áreas que, juntas, concentram 65% da demanda por atendimentos de doenças respiratórias. Nesses locais, também está sendo aplicada a vacina contra a gripe.

“Estamos com o sistema de urgência bastante sobrecarregado. As UPAs estão cheias, não só com crianças, mas também com adultos e, principalmente, idosos. É um momento de sobrecarga no sistema, mas não é nada que nós não possamos manejar”, disse o secretário municipal de Saúde de BH, Danilo Borges. A previsão, segundo ele, é de que a alta demanda continue até o fim de maio.