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Ouro Preto – As estradas mineiras apresentam, até o próximo mês, personagens que dificilmente passam indiferentes aos olhos de viajantes. Com barraquinhas à beira dos caminhos, estão a postos os vendedores de jabuticaba, essa delícia que explode na boca e só falta falar “uai”. Ao longo da Rodovia dos Inconfidentes (BR-356), eles podem ser vistos também na entrada do distrito de Cachoeira do Campo, a 80 quilômetros de Belo Horizonte, em um convite ao visitante para saborear as frutas e conhecer uma das localidades mais antigas de Ouro Preto, primeira cidade brasileira reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco, em 1980.
Também na rodovia, o viajante vai encontrar, de cara, peças em pedra-sabão na forma de esculturas, de todos os tamanhos, com inspiração que vai das imagens sacras a bijuterias e lembrancinhas para amigos e parentes. Vale a pena curtir a Feira dos Artesãos e também as 10 lojas especializadas. A melhor dica é deixar as compras para o fim da visita, depois de conhecer, principalmente, a Matriz Nossa Senhora de Nazaré, do início do século 18.
Palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709) e da Revolta de Filipe dos Santos (1720) ou Sedição de Vila Rica, a qual representa, segundo especialistas, o “nascimento” de Minas, Cachoeira do Campo tem na Matriz Nossa Senhora de Nazaré a principal referência da fé católica dos moradores e também ponto turístico de grande visitação. Certamente, o viajante vai se encantar com a história, a arte e a preservação do templo, tombado há 71 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mesmo que não tivesse a comunhão perfeita de barroco e fé, o templo já seria de grande importância na memória de Minas e do país. “Muita gente passa na estrada e não ‘entra’ para conhecer esta maravilha”, diz, com seu jeito bem mineiro, uma moradora do distrito. Tem razão.
Foi dentro da matriz, ainda em construção, em 1708, que o português Manuel Nunes Viana se sagrou, por aclamação popular, o primeiro governador das Gerais. Eram tempos da Guerra dos Emboabas e Cachoeira do Campo figurou como campo da batalha mais sangrenta na disputa pelo ouro.
Durante o período colonial, os governadores da Capitania de Minas assistiam à missa na Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, pois havia em Cachoeira do Campo um palácio da Coroa portuguesa. Já no império, mais especificamente em 1881, o primeiro visitante ilustre foi dom Pedro II (1825-1891), que registrou a viagem a Minas em célebre diário.
Em estilo nacional-português, o primeiro do barroco, a igreja tem altares suntuosos, com ricos elementos artísticos. No adro da matriz, ocorreu a prisão de Felipe dos Santos, que se rebelou contra a cobrança abusiva de impostos pela Coroa portuguesa e liderou a Sedição de Vila Rica, em referência ao antigo nome de Ouro Preto.
História gravada na arquitetura
Em Cachoeira do Campo, a Praça Felipe dos Santos, diante da Matriz Nossa Senhora de Nazaré, ainda guarda casarões históricos, um deles com as letras ME na fachada e a data 1904. A explicação é de que, embora construído no século 18, o imóvel teve a frente refeita no começo do século passado por um homem chamado Manuel Elias, daí a data e as iniciais. Conforme estudos, havia no distrito 230 imóveis de importância histórica, metade sobrados, metade casarões.
Caminhando com calma, parando para tomar um café e bater um papo com os moradores, o visitante vai descobrir outros pontos de destaque. No interior de Minas, é comum ver muita gente sentada nas escadarias de pedra das igrejas à espera do ônibus, dos filhos que saem da escola, de algum amigo. É assim diante da Capela Nossa Senhora do Bom Despacho, localizada na Praça Benedito Xavier.
Restaurada recentemente, a construção tem uma história envolta em lendas e partes obscuras, já que até hoje não foram encontradas datas referentes à edificação. Para o historiador Augusto de Lima Júnior (1889-1970), ocorreu ali a sagração de Manuel Nunes Viana como primeiro governador de Minas, em 1708. O argumento é que a capela servia, naquela época, como matriz, enquanto a Igreja de Nazaré estava sendo construída na parte alta de Cachoeira. No distrito, apenas a matriz fica aberta à visitação; então, diante das capelas, a exemplo da Nossa Senhora das Dores, no Bairro Santa Luzia, as selfies serão apenas da fachada.
TESOURO
Conforme pesquisas históricas, Cachoeira do Campo tem suas origens entre 1700 e 1701, quando uma grande fome se abateu sobre os moradores da região das minas, os quais debandaram à procura de alimentos. Pela fertilidade do solo e amenidade do clima, o povoado se tornou, então, um dos centros de produção agrícola das minas de ouro recém-descobertas. O lugarejo atraiu agricultores, fazendeiros, senhores de terra e comerciantes. Começaram, a partir de então, construções pioneiras, entre elas a ermida onde hoje se encontra a Matriz Nossa Senhora de Nazaré. É provável, segundo estudiosos, que o altar-mor e os dois laterais sejam daquela época.
SERVIÇO
Compras: Objetos de pedra-sabão, nas lojas e Feira dos Artesãos na Rodovia dos Inconfidentes, que liga a BR-040 a Ouro Preto
Visitas: Igreja Matriz Nossa Senhora de Nazaré, do início século 18. Fica na Praça Felipe dos Santos. Aberta de terça-feira a sábado, das 14h às 18h
Restaurante:
Bandeirantes Grill – Rua Nova, 43, Cachoeira do Campo
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Palco da Guerra dos Emboabas (1707-1709) e da Revolta de Filipe dos Santos (1720) ou Sedição de Vila Rica, a qual representa, segundo especialistas, o “nascimento” de Minas, Cachoeira do Campo tem na Matriz Nossa Senhora de Nazaré a principal referência da fé católica dos moradores e também ponto turístico de grande visitação. Certamente, o viajante vai se encantar com a história, a arte e a preservação do templo, tombado há 71 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Mesmo que não tivesse a comunhão perfeita de barroco e fé, o templo já seria de grande importância na memória de Minas e do país. “Muita gente passa na estrada e não ‘entra’ para conhecer esta maravilha”, diz, com seu jeito bem mineiro, uma moradora do distrito. Tem razão.
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