Os brasileiros celebram, neste sábado, a Independência, e os moradores de Pitangui, a Sétima Vila do Ouro, na Região Centro-Oeste de Minas, têm um personagem muito especial no Grito do Ipiranga, para reverenciar a memória. Trata-se do padre mineiro Belchior Pinheiro de Oliveira, o padre Belchior (1775-1856), um dos principais conselheiros de Dom Pedro I, que, em 7 de setembro de 1822, pôs fim ao domínio português no Brasil. Para marcar a presença do religioso e político na cidade e episódio histórico, a prefeitura local restaura o sobrado na rua do Centro Histórico onde ele viveu por muitos anos até morrer em 12 de junho de 1856.

Natural de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, padre Belchior se tornou um “filho ilustre” de Pitangui embora sem nascer ali, diz o secretário municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico, Antônio Marcos Lemos. “Nossa maior comenda, entregue no aniversário da cidade, em 9 de junho, a personalidades que trabalham pela cultura, a liberdade e o social, leva o nome dele. O padre gostava tanto de Pitangui, que escolheu morrer aqui”, afirma o secretário, explicando que, hoje, haverá cerimônia cívica e visita ao túmulo do padre, no adro da igreja matriz.

Localizado na Rua Padre Belchior (na cidade, a pronúncia é de ch mesmo), o casarão do século 18, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já tem 70% das obras de restauro prontas. A expectativa é de inaugurá-lo em março de 2020, a dois anos, portanto, da comemoração do bicentenário da Independência. “O prédio vai abrigar a sede da prefeitura. Como é tombado pelo Iphan, a construção não é de relevância apenas em Pitangui, mas para todos os brasileiros. É um patrimônio nacional”.
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Antes pertencente a particulares, a edificação da Rua Belchior foi alvo de uma mobilização na cidade, encabeçada pelo Conselho Municipal do Patrimônio, para que não deteriorasse ainda mais. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) interveio com um procedimento que evoluiu para ação civil referendada pelo Tribunal de Justiça. Assim, em 2017 a prefeitura fez uma permuta com os proprietários, assumiu a propriedade e se encarregou das obras, que tem recursos do MPMG, por meio de condicionantes ambientais, do Fundo Municipal de Cultura e receitas ordinárias.

MINAS PRESENTE


Pesquisador do tema, o promotor de Justiça e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), Marcos Paulo de Souza Miranda, destaca uma frase do diálogo que se tornou célebre entre dom Pedro I e padre Belchior, seu conselheiro, confessor e confidente, antes da proclamação da Independência – o mineiro estava ao lado do príncipe em 7 de setembro de 1822, “na colina do Ipiranga”, em São Paulo. “A decisão de dom Pedro I sobre a independência teve influência muito forte e direta do mineiro. Ao receber as cartas de dona Leopoldina (1797-1826), noticiando que Portugal exigia o retorno imediato dele à Europa, Pedro I indagou de imediato ao seu amigo: 'E agora, Padre Belchior?'.

O padre, que também era maçom e arquitetava há tempos a liberdade de nossa pátria, respondeu de pronto: 'Se vossa alteza não se faz rei do Brasil, será deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação'”. Souza Miranda complementa: “Logo em seguida, houve o famoso Grito do Ipiranga. Assim, Minas Gerais esteve presente naquele momento decisivo da História do Brasil. De acordo com a superintendência em Minas do Iphan, o casarão do padre Belchior foi construído entre 1787 e 1798, servindo de residência ao religioso e ao capitão-mor José da Silva Capanema. O tombamento pela União se deu em 1980.

PRIMO DO PATRIARCA


Padre Belchior Pinheiro de Oliveira nasceu no Arraial do Tejuco, hoje Diamantina, em 7 de dezembro de 1775 e faleceu em Pitangui, onde foi vigário por longos anos, em 12 de junho de 1856. Pela parte materna, de Santos (SP), o religioso era primo de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), considerado o Patriarca da Independência. Segundo o pesquisador e presidente do Instituto Histórico de Pitangui (IHP), José Raimundo Machado, o corpo de Belchior foi sepultado dentro da antiga matriz de Pitangui, que foi totalmente destruída por um incêndio em 28 de janeiro de 1914. Depois disso, os restos mortais foram levados para a escadaria frontal da nova igreja matriz.