Trinta e seis pessoas morreram no deslizamento que arrasou no último sábado Las Tejerías, no centro da Venezuela, indicou hoje o ministro venezuelano do Interior, Remigio Ceballos, em vídeo publicado no Twitter.

Segundo Ceballos, mais de 3 mil funcionários participam do trabalho de resgate na pequena cidade, localizada a 52 km de Caracas. O deslizamento ocorreu em meio a uma temporada atípica de chuvas, agravada pelo fenômeno La Niña, por ondas tropicais e pelos efeitos da passagem do furacão Julia.

O presidente Nicolás Maduro, que decretou três dias de luto, visitou a área do desastre, mostrou a imprensa local. Um militar dirige as buscas com um alto-falante. "Estão removendo escombros e sangue foi visto", diz o oficial do alto de um teto de concreto, em uma das poucas estruturas que ficaram de pé após o deslizamento.

"Continuamos as buscas", repete um socorrista que participa das tarefas de resgate desde sábado, quando uma forte chuva caiu sobre a cidade de 54.000 habitantes, cercada por montanhas. 

Os moradores apoiam, desesperados, esses esforços, juntamente com as autoridades, forças militares e policiais, usando picaretas, pás, ou o que quer que encontrem. Os trabalhos não pararam durante a noite, seguindo com a ajuda de cães e drones. 

Outras 13 pessoas morreram em diferentes regiões do país nas últimas três semanas também em decorrência da temporada de chuvas. "Setembro foi muito chuvoso. Tivemos registros históricos de chuva em algumas áreas", disse à AFP o gerente do instituto venezuelano de meteorologia (Inameh), Ángel Custodio.

"Em primeiro lugar, temos as mudanças climáticas que nos atingem. Também temos o La Niña. As precipitações têm sido muito intensas", destacou Custodio, que previu chuvas nas 48 horas.

Toneladas de sedimentos e troncos dificultam o trabalho. A vice-presidente Delcy Rodríguez disse ontem que "choveu em Las Tejerías em oito horas o que chove em um mês". "É a crise climática", afirmou. Ela manteve o balanço de mortos e desaparecidos no boletim oficial mais recente, divulgado nesta tarde, e deu conta de 317 residências totalmente destruídas e 757 afetadas pelo deslizamento.

Doações 

O governo instalou abrigos em Maracay, capital de Aragua, informou o ministro Ceballos, que anunciou a distribuição de 300 toneladas de alimentos. 

Dois estádios de beisebol, os maiores de Maracay e Caracas, foram autorizados a funcionar como centros de coleta. O metrô de Caracas também anunciou que receberá doações para os afetados. 

ONGs, fundações e supermercados também permitiram que suas sedes recebam doações para enviá-las para Tejerías.

"Trouxe água potável, leite em pó, guloseimas (doces) para as crianças e algumas roupas para as crianças também", contou Karla Cuervo, de 39 anos, ao deixar sua doação em um posto de paramédicos na capital do país.

A equipe da AFP foi a Las Tejerías e constatou a destruição de casas e estabelecimentos comerciais. A tragédia aconteceu após três horas de chuvas intensas que começaram na tarde de sábado. Vários rios transbordaram, carregando sedimentos, pedras e árvores do alto da montanha. 

Árvores gigantescas foram varridas pela pior enchente que a região viveu em 30 anos, cortando a estrada principal da cidade. Carros e fragmentos de casas também foram arrastados pela corrente, que subiu até seis metros nas estruturas mais próximas ao leito do rio. Muitas residências perderam paredes, e a localidade está sem luz.

Um açougue que fechou por causa da pandemia e estava programado para reabrir nesta segunda-feira foi coberto por sedimentos que danificaram equipamentos de refrigeração e tudo o que havia dentro. "Tejerías nunca voltará a ser a mesma. Vamos embora, porque recuperar isso é impossível", afirmou o comerciante Isaac Castillo, 45 anos.

"A cidade acabou", lamentou a moradora Carmen Meléndez, 55 anos, que aguardava notícias de sua parente Margot Silva, dada como desaparecida. Ela mora em uma cidade vizinha e estava em Las Tejerías para comprar mantimentos. "É a primeira vez que vemos algo assim. Sabemos que vamos superar, mas lamentamos as perdas humanas", desabafou. 

As chuvas causaram danos em vários estados. Em Zulia, berço do petróleo do país, as autoridades lidaram com enchentes em vários municípios no fim de semana. Pelo menos 10.000 pessoas morreram em 1999, devido a um grande deslizamento de terra no estado de Vargas, no norte do país.