Monica Yanakiew - Agência Brasil
O governo da Nicarágua tem até o meio-dia desta segunda-feira (14) para dar sinais “concretos” de que quer apaziguar o país, depois de um mês de violentos protestos nos quais morreram pelo menos 50 pessoas.
O prazo foi dado pela Igreja Católica, que só aceita mediar o diálogo entre o presidente Daniel Ortega e os manifestantes se ele concordar em acabar com a repressão, desmantelar os grupos paramilitares e aceitar que as mortes sejam investigadas pela Comissão Interamericana dos Direitos Humanos (CIDH).
Ortega, em princípio, concordou, mas a tensão continua, depois de novos enfrentamentos no último fim de semana. O estopim dos distúrbios – os mais violentos desde o fim da guerra civil em 1990 – foi a reforma da previdência, que o governo acabou revogando, sem conseguir acalmar os ânimos. Jovens universitários, agricultores e até empresários se uniram aos protestos contra Ortega, que, em 2016, conquistou seu terceiro mandato consecutivo.
Ortega – líder da Revolução Sandinista que, em 1979, derrubou a ditadura de Anastásio Somoza - tem sido acusado pela oposição (e também por ex-aliados) de querer instalar uma dinastia política na Nicarágua, parecida com a que ele combateu quando era guerrilheiro de esquerda. A mulher dele, Rosario Murtillo, é sua vice e porta-voz.
Condições para o diálogo
Ortega respondeu aos bispos nicaraguenses que está disposto a iniciar um diálogo o quanto antes e aceita as condições da igreja para superar uma crise que parece ter escapado de seu controle.
Os manifestantes, que agora se uniram contra a violência, não confiam na Comissão da Verdade e Justiça, criada pelo governo para investigar as mortes – entre elas, a de um jornalista que levou um tiro, enquanto cobria um protesto.
No último fim de semana, houve protestos em metade dos quinze departamentos [estados] da Nicarágua. O exército emitiu um comunicado pedindo o fim da violência e apoiando o início do Diálogo Nacional, mediado pela igreja. Organizações de defesa dos Direitos Humanos responsabilizam a Polícia Nacional e paramilitares, simpatizantes com o governo, pela violência.
Grupos de estudantes continuam mobilizados esperando outro eventual enfrentamento e lembram que – apesar de o governo ter aceitado “trabalhar sobre” as propostas da Igreja Católica para iniciar as negociações – nenhuma medida concreta foi tomada para desmantelar os grupos paramilitares.
Desafio
Este é o maior desafio de Ortega em seus onze anos de presidência. Nos protestos, os manifestantes têm derrubado as coloridas Árvores da Vida – esculturas metálicas de 17 metros, erguidas em praças e parques da capital, Manágua, e de outras cidades.
O projeto para decorar os espaços públicos, foi da vice-presidente Rosário Murtillo, mulher de Daniel Ortega. E a destruição de dezenas de árvores é a forma que os opositores encontraram para se rebelar contra o que consideram ser um governo autoritário.
Ortega conquistou fama internacional há 40 anos como um revolucionário de esquerda. Depois da vitória da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), em 1979, ele ainda teve que enfrentar os Contras – uma aliança de antigos membros da Guarda Nacional de Somoza com outros grupos de direita, financiados pelos Estados Unidos para derrubar o regime socialista.
Daniel Ortega foi eleito presidente pela primeira vez em 1984. Ele voltou ao poder em 2007 para um segundo mandato, agora como um fiel da Igreja Católica (que foi contra a legalização do aborto).
Desde então, foi reeleito outras duas vezes graças a um período de estabilidade e crescimento econômico. Mas a legitimidade das últimas eleições, de 2016, foi questionada, até porque o governo não permitiu a presença de observadores internacionais.