LUTO

Morreu, na noite deste domingo (13), o escritor peruano Mario Vargas Llosa, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 2010, em Lima, no Peru. A notícia foi confirmada por seu filho, Álvaro Vargas Llosa, por meio das redes sociais.

"É com profundo pesar que anunciamos que nosso pai, Mario Vargas Llosa, faleceu hoje em Lima, cercado pacificamente por sua família", escreveu.

Com sua morte, encerra-se um dos capítulos mais marcantes da literatura latino-americana do século XX — e também um ciclo de intensa participação intelectual, política e cultural.

Nascido em Arequipa, em 1936, Vargas Llosa percorreu uma longa e premiada trajetória, marcada por obras que escancararam as contradições sociais e políticas da América Latina. Foi um dos pilares do "boom" literário do continente ao lado de nomes como Gabriel García Márquez, Julio Cortázar, Carlos Fuentes e Juan Rulfo.

Seu talento narrativo o transformou em um cronista implacável da realidade peruana e latino-americana. Em romances como A Cidade e os Cachorros, A Festa do Bode e Conversa no Catedral, Vargas Llosa traduziu a complexidade de sociedades dilaceradas entre autoritarismos, desigualdades e sonhos frustrados.

“Os latino-americanos somos sonhadores por natureza e temos dificuldade em separar realidade e ficção”, disse pouco antes de receber o Nobel, em 2010 — uma frase que sintetiza bem seu estilo literário e sua visão de mundo.

Literatura e vida entrelaçadas

Criado entre o Peru e a Bolívia, viveu uma juventude marcada por rigidez familiar e formação militar, antes de se lançar no jornalismo e na literatura. Nos anos 1960, estabeleceu-se em Paris, onde trabalhou como tradutor e correspondente de imprensa. Foi ali que seu nome começou a ecoar com força no cenário internacional.

A vida pessoal de Vargas Llosa sempre esteve sob os holofotes. Casou-se primeiro com sua tia, Julia Urquidi, experiência que mais tarde inspiraria Tia Julia e o Escrevinhador. Posteriormente, manteve um longo casamento com Patricia Llosa, com quem teve três filhos. Já na velhice, ganhou destaque na imprensa ao engatar um romance com a socialite Isabel Preysler, ex-mulher de Julio Iglesias.

Entre prêmios e polêmicas

Com livros traduzidos para mais de 30 idiomas, sua obra conquistou reconhecimento global. Além do Nobel, recebeu os prêmios Cervantes, Príncipe de Astúrias, Rómulo Gallegos e vários outros. Desde 1993, também possuía cidadania espanhola.

No entanto, sua figura pública nunca esteve restrita à literatura. Vargas Llosa sempre foi politicamente ativo — e polêmico. Admirador inicial da Revolução Cubana, rompeu com o regime de Fidel Castro nos anos 1970, após o caso do poeta Heberto Padilla. Em 1990, candidatou-se à presidência do Peru com uma plataforma liberal, mas foi derrotado por Alberto Fujimori.

A partir daí, voltou a se dedicar majoritariamente às letras, ainda que não tenha abandonado as críticas veementes ao populismo, ao autoritarismo de esquerda e à extrema direita. "O populismo é a doença da democracia", declarou em diversas ocasiões.

(*) com agências