Da RFI - A imprensa francesa desta sexta-feira (31) fala sobre eleições no Brasil. "Lula, a estrela virtual da campanha presidencial" é a manchete de uma matéria assinada pela correspondente do jornal Le Monde em São Paulo.
"Sua imagem aparece na maioria dos cartazes do Partido dos Trabalhadores, seu nome está em todas as bocas e sua herança é citada em todos os debates. Mas, Luiz Inácio Lula da Silva, de 72 anos, não está presente", escreve a repórter do Le Monde Claire Gatinois. Ela explica que Lula está preso em Curitiba, onde ele cumpre uma pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção.
Entretanto, salienta, o petista é "o grande favorito nas pesquisas de intenção de voto" e "vive a campanha eleitoral à distância, diante de sua televisão". "A seus advogados, cada segunda e sexta, ele dita os tuítes que serão enviados em seu nome e acompanha os passos de seu pupilo, Fernando Haddad, que percorre o país para tentar eleger esse candidato fantasma", publica Le Monde.
O jornal lembra que nesta sexta-feira, o Tribunal Superior Eleitoral pode colocar um fim ao que classifica de "estranha situação" e validar ou não a candidatura do ex-presidente. "Raros são aqueles que, tanto à esquerda, como à direita, imaginam uma decisão favorável [a Lula]", escreve Le Monde, lembrando que a Lei da Ficha Limpa estabelece que um condenado em segunda instância, como é o caso do petista, não pode concorrer em eleições ao menos durante oito anos.
Lula continua liderando as pesquisas
O diário destaca que, de acordo com as últimas pesquisas, Lula teria 39% dos votos no primeiro turno, bem à frente do candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro, que tem 19% das intenções de voto, e Marina Silva, "porta-voz da consciência ecológica", que tem 8%. Nos últimos meses, "Lula ganhou nove pontos, sem jamais sair de sua cela", publica Le Monde.
Gênio político para uns, oportunista para outros, Lula tira proveito de uma conjunção de acontecimentos que permitiram que ele superasse uma situação desastrosa, reitera o diário. Le Monde lembra o impeachment de Dilma Rousseff e a presidência do Brasil assumida pelo impopular Michel Temer, envolvido em diversos casos de corrupção, bem como seus aliados, que o ajudaram a aprovar reformas impopulares que em nada permitiram melhorar a situação econômica, o desemprego e a segurança no Brasil.
Por isso, escreve Le Monde, a campanha de Lula, que propõe salvar o Brasil, faz sucesso, enquanto as diversas investigações anticorrupção que o visaram são apresentadas como uma manobra política vulgar para o impedir de voltar à presidência. A tese é reforçada por um poder judiciário, que é incapaz de mostrar a mesma eficácia empregada contra o petista a seus opositores, como o próprio Michel Temer ou o Aécio Neves, do PSDB.