O papa diz querer mudar a mentalidade dos bispos em quatro dias de debates, discursos, reuniões intercaladas com orações, mas sobretudo com os depoimentos comoventes de vítimas de abusos sexuais. "Escutemos o grito das crianças que pedem justiça", pediu o papa ao convidar patriarcas, cardeais, arcebispos, bispos e superiores religiosos a encarar a "praga dos abusos sexuais" cometidos por membros da Igreja. "Iniciemos nosso percurso armados de fé (...), de coragem e de concretização", disse ele.
"Peço ao Espírito Santo que nos ajude nestes dias a transformar este mal em uma oportunidade para tomar consciência e como purificação", afirmou. "Que a Virgem Maria nos ilumine para tentar curar as graves feridas que o escândalo da pedofilia provocou tanto aos pequenos como aos fiéis." O dia começou com um momento de oração, seguido por um vídeo com depoimentos de vítimas e palavras de introdução do papa.
Desde que explodiram os primeiros escândalos há 35 anos, a hierarquia da Igreja Católica adotou uma série de medidas preventivas, aprovou leis, pediu desculpas e anunciou condenações, mas sem conseguir acabar com o que é conhecido como "cultura de acobertamento". As denúncias se concentram principalmente nos Estados Unidos, na Irlanda, no Chile e na Austrália, dentre outros países.
No evento, o arcebispo Charles Scicluna, de Malta, principal investigador de abusos sexuais do Vaticano, disse que a Igreja tem que analisar como padres e bispos são escolhidos. "A questão da verificação futura de candidatos ao sacerdócio é fundamental" disse ele em um discurso centrado em detalhes legais sobre como os bispos têm que colaborar com as autoridades civis, adotando uma "cultura de divulgação" para a sociedade saber que "falamos sério".
O papa se encontrou com o polonês Michael Lisinski, que é uma vítima de pedofilia no meio católico na quarta-feira, 20. Na ocasião, ele chegou a beijar a mão do rapaz. Junto da deputada Joanna Scheuring-Wielgus, Lisinski entregou um relatório sobre a incidência de abusos na Polônia, assim como uma lista com nomes dos bispos locais que teriam tentado acobertar denúncias. Durante a madrugada, na cidade polonesa de Danzigue, três homens derrubaram a estátua do sacerdote Henryk Jankowski, recentemente acusado de abusos sexuais. O religioso morreu em 2010 e era notório por estar à frente da Igreja de Santa Brígida.