SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A jornalista Veruska Donato entrou na Justiça na última terça-feira (31) contra a TV Globo por supostas dívidas trabalhistas e supostos assédios morais, que incluiriam até cobranças ligadas a padrões estéticos. Essas exigências teriam feito a jornalista desenvolver um quadro de burnout, esgotamento físico e mental causado pelo trabalho.
 
Segundo um atestado médico da jornalista obtido pela reportagem, Donato precisou se licenciar por 60 dias em 2021 para tratar transtornos emocionais ligados "às pressões do ambiente de trabalho." Uma dessas pressões recaía justamente sobre a aparência dos repórteres, diz o processo.

Em um email de 2017 ao qual a reportagem teve acesso, e que está anexado ao processo, a chefia de jornalismo da emissora -então, com Cristina Piasentini à frente- orienta os repórteres a evitarem tecidos apertados, pois eles "representam um perigo em potencial para o figurino."

Procurada pela reportagem, a assessoria da emissora respondeu: "A Globo não comenta ações judiciais em curso. O que pode assegurar é que não existe nenhuma orientação nesse sentido para nossos profissionais". Os advogados da jornalista não quiseram se pronunciar.

O comunicado anexado no processo aponta, entre outros detalhes, que uma malha muito apertada marcaria detalhes que não deveriam ser evidentes, como "um estômago mais avantajado, barriguinhas persistentes, especialmente nos tons mais claros."

Na ação, a jornalista relata que a pressão estética piorou conforme ela ia se aproximando do 50 anos, prática que atribui ao etarismo -discriminação por idade. De acordo com o relato, qualquer flacidez, ruga ou gordura considerada "fora do lugar" era alvo de críticas pelos chefes e no setor de figurino da emissora.

"Portanto, a reclamante [Donato] trabalhou nos últimos tempos em estado de grande tensão emocional e estresse crônico com a sensação de esgotamento físico e emocional", diz o processo.

Quando ainda estava de licença médica, em novembro de 2021, Donato foi informada pela TV Globo sobre a demissão. A jornalista está processando a emissora em R$ 13 milhões, valor que inclui os supostos assédios morais e as dívidas trabalhistas.


De acordo com o processo, a profissional trabalhou entre 2002 e 2019 como PJ, pessoa jurídica, mas mantinha uma rotina semelhante à de profissionais que trabalham em regime de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

Por isso, ela pede que a emissora pague verbas trabalhistas, como 13º salário e FGTS, referentes aos 17 anos em que atuou como PJ. Além disso, ela afirma que tinha uma estabilidade profissional de 12 meses por causa da licença médica, ou seja, ela não poderia ser demitida nesse período, o que a emissora teria desrespeitado.

Ao longo de duas décadas de trabalho, Donato passou pelos principais telejornais da emissora, como Jornal Hoje e Bom Dia SP. Após ter sido demitida, ela se mudou para Campo Grande, onde apresenta o Balanço Geral MS, de uma afiliada da TV Record no estado.