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Janamô é uma multiartista experiente. Como cantora, lançou projetos autorais e dividiu palco com nomes como Zeca Pagodinho e Tereza Cristina; e como atriz, participou de diversos espetáculos teatrais - foi premiada, inclusive. Atuar na TV, entretanto, era algo que a mineira, cria do bairro Esplanada, na região Leste de Belo Horizonte, não havia experimentado até este ano, quando surgiu o convite para uma participação especial na novela “Vai na Fé” (Globo) - com direito a bis -, o que se tornou um motivo de comemoração para Janamô, que já tem 28 anos de carreira.
“Comecei a minha jornada em BH trabalhando com teatro, com música”, conta ela que cita o projeto Samba da Madrugada, um dos destaques de sua trajetória - na época, a artista ainda se apresentava como Janaína Moreno. “Formei alguns coletivos, fiz os cursos do Galpão Cine Horto, com a Inês Peixoto (Grupo Galpão)... Mas na TV mesmo, essa foi a primeira vez”, relembra a multiartista.
Coube à mineira, logo na estreia na televisão, interpretar Vanessa, uma das mulheres que foram abusadas sexualmente pelo empresário Theo (Emilio Dantas) em “Vai na Fé”. Na primeira aparição da personagem, ela chegou a pedir dinheiro a Ben (Samuel de Assis) para poder fazer a denúncia. Janamô confessa que foi “pega de surpresa” com o convite para retornar ao folhetim. Em cenas exibidas neste mês, sua personagem teve um papel decisivo no julgamento do empresário - mesmo admitindo que foi uma das vítimas de Theo, ele acabou absorvido.
Para Janamô, a personagem demonstrou, com as atitudes que tomou, que sua jornada de vida não é fácil. “Vanessa demonstra uma luta pela própria sobrevivência; acho que esse é o grande fator dramatúrgico dela. Através desse tipo de comportamento, que é duvidoso, tem uma busca pela justiça da própria sobrevivência. Ela não está muito ligada nessa coisa da Justiça enquanto um órgão; ela quer grana para comer, quer garantir seu sustento”, comenta.
“Acredito que esse é um grande questionamento: até que ponto a desigualdade social faz com que os indivíduos não tenham poder sobre seus comportamentos éticos?”, pontua. Ela completa: “‘Vai na Fé’ tem uma questão humana muito massa, que é colocar as pessoas em um lugar de serem capazes de fazer o bem e o mal; errarem e acertarem. Então, eu acho que isso é muito legal quando vem para a TV porque vem em forma de situações reveladas no transcorrer da novela”, analisa.
‘Essa caminhada de luta é contínua e diária’
Janamô celebra o momento atual da carreira e a boa repercussão que a história de Vanessa teve. Segundo a mineira, ela tem recebido mensagens de outras mulheres se solidarizando com a personagem de “Vai na Fé”. Entretanto, para chegar até aqui, a multiartista ressalta que foi uma longa jornada, e que ainda há um grande caminho a percorrer.
“Eu tenho uma origem muito humilde, e achava que isso (estar na TV) nunca poderia ser possível para mim, então pode-se dizer que eu não depositei energia nesse lugar. Eu fiz outros trabalhos no audiovisual como diretora de arte, preparadora de elenco, mas nunca me coloquei a serviço como atriz”, diz. “Acho que faltava um processo meu comigo mesmo de aceitação, de autoconhecimento. E acho que estou indo, agora, com passos sólidos”, pontua.
Segundo ela, esse processo envolve algumas etapas. “Neste momento, venho trabalhando muito um ponto, que é confiar nas mulheres que me inspiraram. E também em deixar um legado para as mulheres que estão se inspirando em mim. Nenhuma mulher preta que busca inspiração em mim pode achar aqui que a gente está com o jogo ganho por conta de todos os lugares que eu alcancei na minha carreira”, frisa Janamô. “Porque essa caminhada de luta é contínua e diária. E é por causa disso que fazer a novela ‘Vai na Fé” é importante para mim e, sobretudo, falando dessa personagem. A Vanessa também coloca esse questionamento. Têm mulheres pretas que são bem-sucedidas na trama, mas não é o caso da Vanessa”, pontua.
Projetos no teatro e na música
Fora da TV, Janamô está envolvida com outros projetos. No teatro, ela está envolvida com o espetáculo “Marielle Presente, Uma Ópera Funk ou um Retrato Afetivo”. Na produção, a mineira interpreta a arquiteta Mônica Benicio, viúva de Marielle Franco - ela também assina a direção vocal da montagem. “Marielle chegou para mim como uma coroação de uma filosofia que eu tenho para mim, eu me considero uma arte viva, multidisciplinar. Eu sempre precisei lutar por transformação social para justificar a minha existência”, conta.
“No espetáculo, eu trago um recorte de amor. Como era essa relação (entre Mônica e Marielle), completa ela. “Eu atuo em múltiplos papéis. Eu interpreto a Mônica Benício, mas a grande protagonista é a história” diz Janamô, que ressalta que o espetáculo a permite explorar sua multiplicidade artística. A primeira temporada de “Marielle Presente, Uma Ópera Funk ou um Retrato Afetivo” chegou ao fim neste mês, no Rio de Janeiro, e, segundo a artista, há a possibilidade de levá-lo para outras cidades em breve.
Além disso, Janamô vem trabalhando em um novo EP, “Código Ancestral”, que deve ser lançado em 2024. “Eu já lancei três músicas desse EP, que estão nas plataformas digitais. É um projeto que eu venho lançando aos poucos”, diz. Segundo ela, o projeto terá, ao todo, sete canções, e também terá uma produção audiovisual. No momento, a mineira segue em busca de meios para captar recursos para colocar o “Código Ancestral” “no mundo”. “São canções inspiradas em filosofias ancestrais”, explica.
Por que Janamô?
A multiartista belo-horizontina Janamô tem 28 anos de carreira, mas nem sempre foi conhecida - e chamada - por esse nome. “A minha avó me batizou Janaína, oferecida a Iemanjá”, conta ela, aos risos. “Eu lancei um disco como Janaína Moreno, construí uma carreira em Belo Horizonte dentro do samba a partir do Samba da Madrugada, com esse nome. Porém, há seis anos eu condensei a sonoridade do meu nome a Janamô”, diz. “Elza Soares falou uma coisa legal que é o seguinte: na vida a gente nasce e morre várias vezes. Então, eu precisei ‘morrer’ para renascer Janamô, um nome artístico que eu consigo imprimir a minha busca pela tecnologia do amor. É Janaína, mas a Janaína com amor”; explica.
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“Comecei a minha jornada em BH trabalhando com teatro, com música”, conta ela que cita o projeto Samba da Madrugada, um dos destaques de sua trajetória - na época, a artista ainda se apresentava como Janaína Moreno. “Formei alguns coletivos, fiz os cursos do Galpão Cine Horto, com a Inês Peixoto (Grupo Galpão)... Mas na TV mesmo, essa foi a primeira vez”, relembra a multiartista.
Coube à mineira, logo na estreia na televisão, interpretar Vanessa, uma das mulheres que foram abusadas sexualmente pelo empresário Theo (Emilio Dantas) em “Vai na Fé”. Na primeira aparição da personagem, ela chegou a pedir dinheiro a Ben (Samuel de Assis) para poder fazer a denúncia. Janamô confessa que foi “pega de surpresa” com o convite para retornar ao folhetim. Em cenas exibidas neste mês, sua personagem teve um papel decisivo no julgamento do empresário - mesmo admitindo que foi uma das vítimas de Theo, ele acabou absorvido.
Para Janamô, a personagem demonstrou, com as atitudes que tomou, que sua jornada de vida não é fácil. “Vanessa demonstra uma luta pela própria sobrevivência; acho que esse é o grande fator dramatúrgico dela. Através desse tipo de comportamento, que é duvidoso, tem uma busca pela justiça da própria sobrevivência. Ela não está muito ligada nessa coisa da Justiça enquanto um órgão; ela quer grana para comer, quer garantir seu sustento”, comenta.
“Acredito que esse é um grande questionamento: até que ponto a desigualdade social faz com que os indivíduos não tenham poder sobre seus comportamentos éticos?”, pontua. Ela completa: “‘Vai na Fé’ tem uma questão humana muito massa, que é colocar as pessoas em um lugar de serem capazes de fazer o bem e o mal; errarem e acertarem. Então, eu acho que isso é muito legal quando vem para a TV porque vem em forma de situações reveladas no transcorrer da novela”, analisa.
‘Essa caminhada de luta é contínua e diária’
Janamô celebra o momento atual da carreira e a boa repercussão que a história de Vanessa teve. Segundo a mineira, ela tem recebido mensagens de outras mulheres se solidarizando com a personagem de “Vai na Fé”. Entretanto, para chegar até aqui, a multiartista ressalta que foi uma longa jornada, e que ainda há um grande caminho a percorrer.
“Eu tenho uma origem muito humilde, e achava que isso (estar na TV) nunca poderia ser possível para mim, então pode-se dizer que eu não depositei energia nesse lugar. Eu fiz outros trabalhos no audiovisual como diretora de arte, preparadora de elenco, mas nunca me coloquei a serviço como atriz”, diz. “Acho que faltava um processo meu comigo mesmo de aceitação, de autoconhecimento. E acho que estou indo, agora, com passos sólidos”, pontua.
Segundo ela, esse processo envolve algumas etapas. “Neste momento, venho trabalhando muito um ponto, que é confiar nas mulheres que me inspiraram. E também em deixar um legado para as mulheres que estão se inspirando em mim. Nenhuma mulher preta que busca inspiração em mim pode achar aqui que a gente está com o jogo ganho por conta de todos os lugares que eu alcancei na minha carreira”, frisa Janamô. “Porque essa caminhada de luta é contínua e diária. E é por causa disso que fazer a novela ‘Vai na Fé” é importante para mim e, sobretudo, falando dessa personagem. A Vanessa também coloca esse questionamento. Têm mulheres pretas que são bem-sucedidas na trama, mas não é o caso da Vanessa”, pontua.
Projetos no teatro e na música
Fora da TV, Janamô está envolvida com outros projetos. No teatro, ela está envolvida com o espetáculo “Marielle Presente, Uma Ópera Funk ou um Retrato Afetivo”. Na produção, a mineira interpreta a arquiteta Mônica Benicio, viúva de Marielle Franco - ela também assina a direção vocal da montagem. “Marielle chegou para mim como uma coroação de uma filosofia que eu tenho para mim, eu me considero uma arte viva, multidisciplinar. Eu sempre precisei lutar por transformação social para justificar a minha existência”, conta.
“No espetáculo, eu trago um recorte de amor. Como era essa relação (entre Mônica e Marielle), completa ela. “Eu atuo em múltiplos papéis. Eu interpreto a Mônica Benício, mas a grande protagonista é a história” diz Janamô, que ressalta que o espetáculo a permite explorar sua multiplicidade artística. A primeira temporada de “Marielle Presente, Uma Ópera Funk ou um Retrato Afetivo” chegou ao fim neste mês, no Rio de Janeiro, e, segundo a artista, há a possibilidade de levá-lo para outras cidades em breve.
Além disso, Janamô vem trabalhando em um novo EP, “Código Ancestral”, que deve ser lançado em 2024. “Eu já lancei três músicas desse EP, que estão nas plataformas digitais. É um projeto que eu venho lançando aos poucos”, diz. Segundo ela, o projeto terá, ao todo, sete canções, e também terá uma produção audiovisual. No momento, a mineira segue em busca de meios para captar recursos para colocar o “Código Ancestral” “no mundo”. “São canções inspiradas em filosofias ancestrais”, explica.
Por que Janamô?
A multiartista belo-horizontina Janamô tem 28 anos de carreira, mas nem sempre foi conhecida - e chamada - por esse nome. “A minha avó me batizou Janaína, oferecida a Iemanjá”, conta ela, aos risos. “Eu lancei um disco como Janaína Moreno, construí uma carreira em Belo Horizonte dentro do samba a partir do Samba da Madrugada, com esse nome. Porém, há seis anos eu condensei a sonoridade do meu nome a Janamô”, diz. “Elza Soares falou uma coisa legal que é o seguinte: na vida a gente nasce e morre várias vezes. Então, eu precisei ‘morrer’ para renascer Janamô, um nome artístico que eu consigo imprimir a minha busca pela tecnologia do amor. É Janaína, mas a Janaína com amor”; explica.