Copa do Mundo é coisa séria. Tite desafiou regras não escritas do maior torneio de futebol do mundo. Colocar time reserva em campo é brincar com o perigo. A questão é óbvia: o que a Seleção ganharia com a escalação dos suplentes? Rigorosamente nada. O jogo era quase um amistoso para o Brasil, mas para Camarões valia a classificação. E os Leões Indomáveis entraram com vontade, embora respeitando e evitando se expor.

Com base na quantidade de gols perdidos nos dois tempos, o Brasil teve amplas chances de golear Camarões. Apesar do desentrosamento natural do time B, os ataques se sucediam em ritmo forte. Mais adiantado, Fred trabalhava bem a aproximação com Rodrygo, Antony e Gabriel Martinelli.

O problema era Gabriel Jesus, que não assume o papel de centroavante e sempre cai mais pelo lado direito. Perdeu quase todos os embates com a zaga de Camarões, ao contrário de Antony e Martinelli, principalmente este, que iniciavam ataques e arrancavam até o interior da área.

Melhor da equipe brasileira, Martinelli quase abriu o placar cabeceando junto ao travessão. Rodrygo ameaçou com um chute que tirou tinta da trave. Foram os momentos mais agudos da Seleção, que manobrava junto à área, mas travava quando precisava aprofundar jogadas com Jesus.

Outro problema sério: por excesso de firulas e troca de passes, o time foi ficando dispersivo e previsível. O jogo exigia minimalismo e os jogadores mais jovens resolveram exagerar no preciosismo. Esse erro facilitava a recomposição da defesa de Camarões, tornando mais difícil achar espaço para as finalizações.


O Brasil também finalizou pouco de fora da área, preferindo insistir nas jogadas de infiltração, sempre mais difíceis de executar. No segundo tempo, apesar de uma pressão inicial de Camarões, o time passou a jogar em velocidade, esticando bolas para Antony na direita e Martinelli na esquerda.

Três tentativas seguidas, em chutes de Rodrygo e Martinelli, quase levaram ao gol, que parecia estar amadurecendo. Aí vieram as mudanças. Everton Ribeiro, Marquinhos, Bruno Guimarães, Pedro e Raphinha entraram para dar mais força ofensiva à equipe.

De início, isso até aconteceu, mas aí surgiu um outro obstáculo: o desentrosamento de Pedro com os companheiros de ataque causou várias perdas de bola junto à área. Quando se acalmou, recebeu dois bons passes de Raphinha e Bruno Guimarães, mas mandou a bola longe.

Guimarães foi mais errático ainda, tentando resolver tudo sozinho. Martinelli, a melhor opção de ataque, ficava o tempo todo pedindo bola, mas os homens de meio insistiam em acionar Raphinha pelo lado direito.

A coisa foi para o vinagre aos 47 minutos. Com o time todo posicionado dentro do campo de defesa de Camarões, uma bola esticada para a direita do ataque pegou a zaga brasileira desarrumada. O cruzamento saiu certeiro para o cabeceio de Aboubakar no contrapé de Ederson.

Não havia muito tempo para reagir, mas o Brasil chegava com tanta facilidade ao ataque que ainda teve duas chances, mas Guimarães arrematou muito mal.

Camarões não é o problema maior. A Coreia do Sul, sim, pois vem fortalecida pela vitória sobre Portugal e empolgada com a perspectiva de aprontar para cima do Brasil. Tite, o teimoso, terá 48 horas para preparar o time principal para o jogo eliminatório de segunda-feira. Podia ter feito isso nesta sexta-feira, treinando alternativas e ajustando a equipe.

Caminho do hexa ficou menos complicado

Nem tudo é notícia ruim em relação à Seleção Brasileira. A inesperada vitória da Coreia do Sul sobre Portugal, por 2 a 1, de virada, repaginou a rota que o Brasil terá que cumprir nas próximas fases. Ao invés de enfrentar um rival histórico, Uruguai, ou a impetuosa Gana, o time de Tite terá pela frente a pouco mais que ingênua seleção sul-coreana.

Zebras passeiam à vontade pelo Qatar, misturando-se aos camelos, mas o bom senso diz que elas tendem a se recolher na fase eliminatória. Em circunstâncias normais, o Brasil não deve ter maiores dificuldades em superar a Coreia na segunda-feira, 5, às 16h.

Depois, terá um duelo com o vencedor de Croácia e Japão. Caso avance à semifinal, o provável adversário será a Argentina ou a Holanda. Na hipótese de chegar à final, o adversário pode ser França, Inglaterra, Portugal ou Espanha.

Não há facilidades em Copa do Mundo, mas é inquestionável que o caminho ficou menos difícil – desde que Tite, a partir do tropeção de ontem, leve o Mundial a sério.

(Coluna publicada na edição do Bola deste sábado, 03)

Fonte:blogdogersonnogueira.com