MERCADO FINANCEIRO

A Bolsa de Valores superou os 100 mil pontos e, além de chamar a atenção por ter batido a marca histórica, esta é uma modalidade de investimento que vem crescendo entre os brasileiros e o número de investidores pessoa física ultrapassou 1 milhão neste ano. Porém, aplicar em ações de renda variável ainda gera insegurança em muitas pessoas que desejam entrar neste mercado e o receio leva a vários questionamentos, que vão desde se vale a pena investir na Bolsa de Valores, como e quanto aplicar para não terminar endividado e ainda como fazer a transição para quem deseja sair do emprego para viver com o dinheiro conquistado nas ações. Não é um processo fácil, mas também não é impossível. 

É comum o pensamento de que investir na Bolsa de Valores é um movimento arriscado, já que o brasileiro, em sua grande maioria, tem receios a investimentos de renda variável. Porém, com uma quantidade de informações disponíveis, essa barreira tem sido quebrada pouco a pouco. "Existe muita técnica envolvida e, como a informação está chegando mais rápida e facilmente, o brasileiro está se libertando da poupança e tomando um pouco mais de risco para conseguir uma rentabilidade maior. Já existem pessoas que são investidores profissionais, vivem disso e se dedicam ao mercado o tempo todo. Mas existem as dificuldade, é preciso ter paciência e disciplina para fazer os aportes mensais, com horizontes de médio e longo prazos. É preciso evitar comprar uma ação, ela se desvalorizar, se desfazer e falar que o mercado financeiro é perigoso. Tem que investir e ser sócio de boas empresas, sendo assim, sempre é um bom momento para investir na Bolsa", explica Rodrigo Galdino, trader profissional e sócio do Espaço InvestHub (www.espacoinvesthub.com.br).

O engenheiro Fábio da Cruz Chirico tinha carreira consolidada, trabalhou em grandes empresas e recebia um bom salário. Mas não estava totalmente satisfeito com o emprego e sempre tinha receio do fantasma da demissão. Foi quando decidiu se organizar para fazer a transição. "Eu gostava do mercado financeiro, mas não conhecia nada, então fui me preparar, fiz um curso e entendi que era o que queria para mim. Percebi também que eu tinha uma condição favorável, morava com minha mãe, tinha vendido meu apartamento, tinha dinheiro aplicado, reduzi meus custos e comecei a juntar dinheiro. A minha situação era boa porque eu não tinha pressão para conseguir dinheiro rápido, então comecei aos poucos no mercado financeiro, sem pressão psicológica porque a técnica todo mundo aprende, mas precisa ter controle emocional para lidar com o ganha e perde", conta. 

A transição durou seis meses, conciliando o emprego e os investimentos, mas há um ano, ele passou a ser investidor e toda sua renda vem das ações. "Trabalho de qualquer lugar, mas é preciso ter rotina, saber a hora de parar, quando perde ou quando bate a meta. Não é fácil, foram muitos altos e baixos, mas com o apoio da minha família e namorada, consegui passar pela fase inicial sem cobrança em cima de mim e hoje vivo disso", revela. 

Transição

Fazer a transição de forma lenta e segura é a melhor solução para quem deseja investir na Bolsa de Valores, principalmente para não comprometer as finanças e terminar endividado. "É bom começar com pouco, ir acompanhando e entendendo como funciona o mercado de uma forma geral", pontua Antônio Pessoa, professor de Economia do UniFBV. Ele explica que, não basta ter conhecimento apenas de como investir, é preciso entender a macroeconomia para conseguir ter bons resultados.

"Tem que entender o cenário econômico porque não, na hora de comprar ações, não se olha para hoje, se olha para frente porque acontece um conjunto de fatores que o mercado lê e vai interpretar como positivo ou negativo. O mercado é muito complexo e, apesar de ser um risco elevado, existem opções menos arriscadas, que podem trazer um retorno menor, mas não trazem tanto risco, como ações de empresas de setores tradicionais, conhecidas no mercado, que pode investir com menos receio", conclui. 

É fundamental ter conhecimento e visão a longo prazo


O caminho para se tornar um investidor não é tão simples e é preciso ter paciência, olhar a longo prazo e ter conhecimento não apenas sobre a Bolsa de Valores como também da macroeconomia e das empresas que deseja comprar ações. É um processo que se distancia da vontade de ficar rico rapidamente e passa pela construção da habilidade técnica, comportamental e gerencial. Desta forma, a renda variável se torna um investimento com riscos calculados, até porque o dinheiro vem do trabalho que é feito e não apenas do mercado financeiro. 

O primeiro passo é estudar, além da Bolsa de Valores, assuntos que não sejam exclusivamente o ligados a ela. "O investidor tem que entender de política, economia e de história. Quando troca um governo, por exemplo, existem contextos de colapsos e retomada e a Bolsa está inserida no contexto histórico. São muitos elementos e os investidores devem estar dispostos aos investimentos de longo prazo", explica Saulo Godoy, investidor e educador. 

Além disso, é importante analisar o histórico da empresa que vai comprar a ação para avaliar como pode ser o comportamento dela no mercado no futuro. "Existem riscos calculados e o histórico de uma empresa vai contar o que vai acontecer com ela e tem que estudar isso. Quando se olha para trás, consegue ver como a empresa é, se dentro do setor dela ela consegue gerar mais lucro, mais caixa. Mas é fundamental olhar para frente também e avaliar se ela vai continuar crescendo. Existem exemplos de boas empresas e boas governanças, com visão de longo prazo, e o mercado financeiro dá isso", ressalta. "Um exemplo é como uma fintech coloca luz sobre como os grandes bancos serão mais rentáveis daqui para frente, se não vai mexer na margem de lucro deles, se eles vão conseguir manter o crescimento, precisa analisar esses movimentos para investir", acrescenta. 

Para ele, a educação também deve partir para o fato de que os ganhos devem vir a longo prazo para correr menos riscos. "A maioria das pessoas veem as ações em uma relação que se sobe, é boa, se cai, é ruim. E não é assim. Em renda variável, deve-se ter uma relação com as empresas, boas marcas, bons processos de governança. E a sua condição financeira é fruto do seu trabalho e não apenas do mercado financeiro", conclui.