O público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trans) tem cada vez mais peso na economia do país. Movimentado por esse segmento, o chamado “pink money” (ou “dinheiro rosa”) soma cerca de R$ 420 bilhões por ano somente no Brasil, conforme dados da associação internacional de empresas, a Out Leadership.
Levantamento do site Guia Gay coloca a capital mineira como a segunda cidade brasileira com maior número de estabelecimentos voltados para o atendimento desse público específico – cerca de 50 –, à frente do Rio de Janeiro e atrás apenas de São Paulo.
Para se ter ideia, a Parada do Orgulho LGBT realizada em BH no ano passado girou em torno de R$ 4,3 milhões, de acordo com pesquisa da Belotur em parceria com a UFMG. “Reflete em lotação de hotéis, emprego gerado, restaurante aberto, corrida de táxi e até em visitas à feira hippie. Quando o turista chega, ele vai viver a cidade no geral, e quem ganha com isso, além dos empresários, são o município e o Estado”, diz Welton Trindade, sócio-proprietário da Guiya Editora, responsável pelo Guia Gay BH, publicação que tem roteiros em mais seis capitais.
Êxito
Empresário no ramo hoteleiro, Douglas Drumond apostou no setor e está colhendo bons frutos. Há quatro anos, trouxe para a capital o 269 Chilli Pepper, empreendimento que mistura boate com hospedagem de diárias curtas voltado para o público gay. “Quando inauguramos, batíamos recorde de faturamento a cada mês. Em 2016, tivemos uma parada de crescimento, que voltou ao normal no ano passado. Janeiro de 2018 já foi bastante positivo”, diz.
A agência de viagens Friendly Tour também comemora os ganhos com o atendimento exclusivo para LGBTs. “O cliente mineiro é de uma classe diferenciada. São universitários, na faixa etária acima dos 30 anos”, conta o sócio-proprietário Roberto Dunkel. A empresa trabalha em parceria com navios e festas internacionais.
Dificuldades
Apesar do sucesso, nem tudo é um mar de rosas. Elismar Marcelino, proprietário da In Par Cerimonial, criada há um ano na cidade com foco em casamentos homoafetivos, afirma que ainda existe o preconceito por parte de alguns fornecedores.
Desde a inauguração, a empresa realizou três uniões de pessoas do mesmo sexo. Já está com mais um contrato fechado para 2018 e outros dois para o ano que vem, com até 500 convidados.
Porém, há dificuldades para encontrar fornecedores. “Informo o nosso direcionamento, com clareza, mas apenas 30% deles respondem”, diz Elismar.
Recentemente, o tratamento dado ao cerimonial por uma casa de eventos mudou de “cortesia para grosseria” quando os proprietários descobriram que o casamento era entre pessoas do mesmo sexo. “Cancelamos e eles perderam R$ 4 mil e outras parcerias futuras”, lembra o dirigente da In Par.
“Pedi para o funcionário anotar o modelo e o ano dos carros. Descobrimos que os casais gays têm, em média, os melhores veículos” (Ddouglas Drumond, dono do Green Park Motel)
Alto poder aquisitivo leva gays a desembolsar mais
O poder aquisitivo é uma das explicações para o alto consumo do público gay. Segundo o Censo IBGE 2010, enquanto as famílias brasileiras formadas por pessoas de gêneros diferentes representam 3,41% da parcela que recebe de cinco a dez salários mínimos, casais LGBTs chegam a 9,55% desse grupo.
Como a maioria não tem herdeiro, fica livre de arcar com alimentação e educação. “Não existe esse planejamento de ‘quando eu morrer vou deixar para os meus filhos’, e a grande parte quer mais é gastar”, frisa Douglas Drumond, também proprietário do Motel Green Park.
Foi na hospedagem que o empresário comprovou o poder de compra LGBT. “Pedi ao funcionário da portaria para anotar o modelo e o ano dos carros que entravam. Descobrimos que, em média, os casais gays têm os melhores veículos”, conta.
“A população LGBT tenta se fazer respeitada e entendida de diversas formas, e uma das grandes forças que ela tem é a de consumo”, explica Ricardo Gomes, presidente da Câmara de Comércio e Turismo LGBT do Brasil. Ele lembra a máxima de que o cliente pode fechar uma empresa ao gastar em outros lugares.
Dono de um cerimonial para casais homoafetivos, Elismar diz que muitos fornecedores precisam enxergar o potencial desse novo mercado
Sem confusão
Produtor da festa Caramelo Sundae, realizada há oito anos, Eduardo Ponzio crê que o consumidor homossexual, além de gastar mais, ainda promove ambiente agradável. “Nunca vi confusão em eventos que abarcam o público. Por isso, heterossexuais acabam frequentando locais destinados aos LGBTs, onde se sentem mais à vontade”, afirma.
A bartender Giselle Salviano, funcionária de uma boate LGBT, também percebe o potencial de compra dessa parcela da população. “Vendo drinks que geralmente custam mais de R$ 20. Ninguém reclama do preço. O público é bem fiel, e não para de beber”.
Giselle integra o segmento e avalia que BH ainda precisa ofertar mais opções de diversão. Assim como Douglas Drumond, para quem um dos poucos atrativos na cidade é a Parada Gay. “Mas deveria ser vinculada a um feriado”, diz.