DEBATE

Nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas com vídeos em que crianças aparecem, geralmente sozinhas, falando palavrões após ganhar um passe-livre de suas mães e pais. A trend do momento – um desafio que consistem em ligar a câmera e soltar o verbo, sem censura – vem repercutindo na internet e até surpreendendo. Afinal, incentivados pelos adultos, alguns desses meninos e meninas podem até ficar em expressões mais infantis, mas outros acabam impressionando pelo amplo repertório de termos ofensivos e obscenos que conhecem.

Alguns desses vídeos já alcançaram expressivos números de visualizações e comentários, que permitem inferir que muita gente acha essa tendência divertida e inocente, elogiando a espontaneidade e a criatividade das crianças ou demonstrando surpresa com o palavreado delas. Outros, porém, criticam a exposição e a educação dos pequenos, e alertam para os riscos de usar a imagem das crianças de forma inadequada. A neuropedagoga, educadora parental e escritora Maya Eigenmann faz parte deste último grupo.

Expoente da educação positiva no Brasil – uma abordagem que defende uma educação respeitosa, considerando as necessidades e os sentimentos dos filhos, sem deixar de colocar os limites necessários na criação –, Maya usou seu perfil no Instagram para criticar a trend que, para ela, não passa de uma “tremenda barbaquice”. No vídeo, ela critica os adultos por estarem usando a imagem das crianças de forma depreciativa para gerar conteúdo e risadas na internet, comparando a situação com outras que envolvem jogar ovo ou queijo na cabeça das crianças. “Não é fácil ser criança nesse mundo”, desabafou.

Por que crianças falam palavrões e o que fazer diante disso?

Em uma entrevista a O TEMPO, em que falou sobre como a exposição à tela e a conteúdos nas redes sociais influenciam as crianças, a educadora parental Fernanda Teles lembrou que elas aprendem palavrões e xingamentos por imitação, ouvindo os adultos ou de colegas, repetindo essas expressões sem saber muito bem o que significam, embora percebam que elas causam reações nas pessoas, como risos ou broncas. Por isso, indica, elas as usam para chamar a atenção, expressar emoções ou testar limites.

Obviamente, Fernanda lembra ainda que as crianças também são influenciadas pelo que assistem na internet, por exemplo, pelos youtubers, onde podem ter contato com termos chulos.

De maneira geral, ela indica que os pais devem estar atentos ao vocabulário dos filhos e orientá-los sobre o uso adequado da linguagem, explicando que existem palavras que são ofensivas, que podem machucar os sentimentos dos outros e que não são aceitas em certos ambientes, como a escola ou a casa dos avós. Também é preciso dar o exemplo, evitando falar palavrões na frente das crianças ou rir quando elas falam.