TRADIÇÃO

Quem for comprar ovos de chocolate nesta semana deve encontrar preços mais elevados em comparação ao mesmo período do ano passado. Estudo feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead/UFMG) aponta que, em Belo Horizonte, os produtos tiveram um aumento de 12%.

O aumento no custo do chocolate não é uma especificidade da época, mas, devido a questões climáticas que afetam os maiores produtores de cacau do mundo, a expectativa é de que o valor siga alto.

Para não perder o consumidor, as fábricas de chocolate adotaram diferentes táticas, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab). Muitas resolveram absorver parte do aumento dos custos da matéria prima e repassar um valor menor, enquanto outros decidiram diversificar a quantidade de produtos e os tamanhos dos ovos de Páscoa para agradar uma base maior de possíveis consumidores.

O uso de itens como castanhas, pistache, amendoim e frutas também ajudam a reduzir o aumento no preço dos ovos de chocolate. A Abicab destacou que, neste ano, as fabricantes colocaram no mercado 803 produtos, contra 611 no mesmo período do ano passado. A intenção é diversificar a quantidade de ovos de Páscoa para atender a diferentes demandas, o aumento no uso de castanhas e frutas, que registraram menor aumento no custo ao longo deste último ano, e a diminuição do uso de chocolate faz com que o aumento do preço do cacau seja compensado.

"(A medida) Tem a ver com os fabricantes tentando manter as apresentações parecidas dos ovos, mas com menos chocolate, menos cacau, para não elevar tanto o preço. No caso de outros produtos, as empresas têm buscado diminuir a quantidade de chocolate, misturar com outros tipos de produtos, de modo a evitar o aumento exponencial dos produtos, além do ovo de Páscoa", afirmou o economista Diogo Santos do Ipead.

E a estratégia vem apresentando resultados, segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Minas Gerais deve ter vendas que cheguem a mais de R$ 352 milhões. "Nossos lojistas buscam garantir variedade, qualidade e ofertas atrativas, em ambientes acolhedores e preparados para celebrar essa data tão especial”, pontua Rafael Papa, gerente de Marketing da GSA Ativos, empresa focada na gestão de imóveis comerciais.

A principal responsável pelo aumento nos preços do chocolate, segundo Santos e a Abicab, são os problemas climáticos que afetaram países da África ocidental, que são os maiores produtores de cacau do mundo, principalmente Costa do Marfim e Gana.Os efeitos do El Niño na região quase triplicaram o preço da tonelada do produto de US$ 2.500 para US$ 8.000, causando um déficit de 700 mil toneladas no mercado.

"Como o mundo inteiro compra das mesmas regiões, isso gerou um aumento do preço exponencial do cacau, já passando de 150% ao longo do último um ano e meio. Em 2024, não ocorreu esse efeito. Os ovos vendidos em 2024 eram da safra anterior, ou seja, não pegou esse efeito que aconteceu ao longo do ano. Além disso, a desvalorização do real ao longo de 2024 também faz com que tudo que a gente importa fique mais caro", analisou Diogo Santos.

A preocupação dos chocólatras e entusiastas ocasionais do produto podem durar mais alguns anos. Santos alega que a fruta demora a atingir a produção máxima e que isso pode manter os preços de ovos, barras e bombons elevados.

"Para o próximo período não há previsão de normalização da produção do cacau. O cacau é uma fruta de lavoura permanente, demora anos para um pé chegar na sua produtividade máxima, pode demorar até 10 anos. Não há, no curto prazo, uma forma de substituir uma produção que caiu deste produto", alertou.

Buscando alternativas para não desagradar os consumidores, a iniciativa privada e o governo federal vem buscando alternativas para aumentar a produção nacional. A Comissão Especial do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) do Ministério da Agricultura, já conta com um projeto desde o final de 2023, o Plano Inova Cacau, que prevê dobrar a produção dos atuais 200 mil toneladas para 400 mil toneladas até 2030.

A Abicab informou também que o presidente da associação, Jaime Recena, se reuniu como o ministro Carlos Fávaro e que está previsto o lançamento de duas linhas de crédito para custear o manejo da terra, buscando resultados mais imediatos, e uma para compra de máquinas e equipamentos, visando estratégias de médio e longo prazo.

Varejo

As vendas do comércio varejista em Minas Gerais registraram estabilidade em fevereiro, registrando uma leve alta de 0,1% sobre o mês anterior, segundo análise do Núcleo de Estudos Econômicos da Fecomércio MG, com base em dados do IBGE.

Na comparação com fevereiro de 2024, o varejo mineiro expandiu 2,2%, um desempenho inferior ao observado no ano anterior (6,8%). No contexto nacional, o crescimento foi de 1,5%. No acumulado do ano, Minas Gerais registra alta de 3,2%, superando a média nacional (2,3%).

Nos últimos 12 meses, o estado acumula avanço de 2,9%, contra 3,6% no país. “O setor de comércio em Minas Gerais demonstra resiliência, com crescimento nas vendas do varejo, mas em ritmo inferior ao observado no Brasil”, afirma a economista da Fecomércio MG, Fernanda Gonçalves.