Depois de cinco anos estagnada, a produção de cana-de-açúcar em Minas Gerais vive fase de recuperação e aponta crescimento este ano, enquanto a previsão é de pequena queda no país. Dados da Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) indicam produção de 65 milhões de toneladas na safra 2019/20, iniciada em abril, no estado, aumento de 3% em relação a 2018/19, que foi de 63 milhões de toneladas.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deve produzir safra menor em 2019/20 na comparação com a anterior. O Centro-Sul, maior região produtora do país, pode colher 566 milhões de toneladas, contra 572 toneladas de 2018/19. A área plantada caiu no país em geral, porque muitos produtores trocaram a cana por outras culturas, como soja.

Em Minas, entretanto, o quadro é de otimismo e de crescimento. O presidente da Siamig, Mário Campos, diz que a expectativa é a produção mineira ultrapassar 65 milhões de toneladas por safra nos próximos anos, já que em 2020 serão reativadas duas usinas em Canápolis e Capinópolis, no Triângulo Mineiro, fechadas por causa da crise no setor nos últimos cinco anos.

Com 930 mil hectares plantados, Minas tem 34 usinas de açúcar e álcool, que serão ampliadas para 36 em 2020. Campos lembra que das 80 usinas fechadas no país nos últimos anos, 11 estão no território mineiro.

 Campos acredita que a recuperação do setor no estado “se deve basicamente à grande redução de custos, aumento de produtividade do canavial, flexibilidade de produção e abertura do mercado de etanol”. As indústrias mineiras concentram investimentos na produção de etanol devido ao preço do combustível, bem mais atrativo do que o açúcar. Neste caso, acompanham a tendência nacional, porque, segundo a União da Indústria e Cana-de-Açúcar (Única), mais de 70% das usinas brasileiras preferem produzir álcool. A expectativa é de um verdadeiro salto na produção mineira do combustível, de 2,5 bilhões de litros na temporada 2018/19 para alcançar 3,4 bilhões de litros na próxima.

Mário Campos salienta que a produção de etanol no estado deve crescer mais ainda nos próximos anos. “Antes da crise no setor, o estado já chegou a produzir 4,2 bilhões de litros do combustível por safra”, comenta o presidente da Siamig, lembrando que Minas também busca recuperar o segundo lugar na produção nacional do combustível, hoje ocupado por Goiás, atrás de São Paulo, o primeiro colocado. Campos afirma ainda que as usinas incrementam a produção do álcool hidratado, vendido diretamente na bomba, apostando no aumento do consumo. “Hoje, o uso do etanol é mais vantajoso do que a gasolina”, diz. Minas, segundo ele, apresenta “equilíbrio” na relação produção/consumo do etanol, pois consome a mesma quantidade que produz: 3,2 bilhões de litros por ano.

Na safra 2018/19, a produção de açúcar prevista em Minas é a mesma da anterior: 3 milhões de toneladas. Mário Campos informa que 70% do açúcar produzido pelas usinas mineiras é para exportação. “Só que o mercado internacional do produto vive um período ruim”, diz. Segundo ele, o preço do açúcar sofre quedas no mercado externo por causa de subsídios concedidos em alguns países. Além disso, após décadas, na safra 2018/2019, o Brasil perdeu a liderança na produção da commodity para Índia, que mesmo sendo grande consumidor, também passou a exportar o açúcar com preços subsidiados. A produção brasileira é de 28 milhões de toneladas/ano, enquanto o país asiático tem produção anual de 32 milhões de toneladas, informa Campos.

A Companhia Mineira de Açúcar e Álcool (CMAA) fez investimentos de R$ 100 milhões na revitalização do parque industrial e no plantio e produção da cana-de-açúcar em Canápolis, no Triângulo, região onde tem plantas em Uberaba e Limeira do Oeste. Segundo a CMAA, a partir de 2020 a reativação em Canápolis vai gerar 500 empregos diretos, com prioridade para o etanol.

“Como o grupo vem crescendo em produção, isso não representa queda na produção de açúcar, mas sim manutenção”, informa a CMAA. Outra empresa do setor sucroalcooleiro que programa expansão é a Bevap, de João Pinheiro, no Noroeste do estado.

A companhia divulgou que em 2019 pretende superar 3 milhões de moagem de cana, com a geração de 1.600 empregos diretos e 3.500 indiretos. O grupo anunciou que, com o propósito de “investir em inovação e tecnologia e com foco na sustentabilidade”, vai cultivar e usar o milho para produção de etanol anidro e biodiesel a partir do óleo do cereal, que também será aproveitado para retirada de fontes proteicas para ração animal.

A grande maioria das usinas está preferindo produzir etanol, pelo fato de o combustível ter preços mais atrativos do que o açúcar. Mais de 70% da cana-de-açúcar produzida no país está sendo direcionada para a produção de etanol. A informação é do economista-chefe da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Luciano Rodrigues.

“O primeiro mês da safra 2019/20 apontou para preferência pelo etanol, com preço mais atrativo do que o açúcar.  Ao todo, 71,4% da cana-de-açúcar processada foram direcionados à produção do biocombustível. No ciclo anterior, o percentual foi de 65,9%”, relata Rodrigues.

“Ao longo do ano, a nossa expectativa é que a maior parte da cana-de-açúcar processada seja direcionada para a produção de etanol, seguindo tendência já verificada na safra 2018/19”, acrescenta.

O economista lembra que, na safra 2018/19, o Brasil bateu recorde com produção de 33 bilhões de litros de etanol. “Os preços do petróleo no mercado internacional e o câmbio garantiram melhor receita do etanol aos produtores, algo que deve se manter nessa safra”, observa.

Segundo ele, mesmo com o cenário de redução no crescimento na economia, a expectativa é de que ocorra incremento de 2,5% na demanda por combustíveis leves no país, “também conhecidos como combustíveis do ciclo “Otto”.  O economista diz ainda que também é esperado aumento de cerca de 50% na produção de etanol de milho, pulando de 800 milhões para 1,2 bilhão de litros.

Luciano Rodrigues afirma também que, “mesmo com canavial envelhecido”, há estimativa de aumento médio na produtividade no Centro-Sul de duas toneladas de cana por hectare. “Todavia, informações preliminares ainda em avaliação indicam redução da área a ser colhida, contrapondo a possibilidade de ampliação da oferta de cana-de-açúcar em decorrência de maior rendimento agrícola”, comenta o economista-chefe da Única.

As usinas de cana-de-açúcar pretendem incrementar a produção de energia a partir do bagaço da cana (biomassa) em Minas. Com esse objetivo, a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig) entregou ao governador Romeu Zema o Plano de Expansão da Bioetricidade, que prevê a implantação de projetos para comercialização do excedente de energia produzida por 23 indústrias do setor no estado, envolvendo investimento da ordem de R$ 1,6 bilhão.

O plano estipula crescimento de 74% na produção de energia de biomassa no estado, devendo passar dos atuais 2,9 milhões de MWh para 5 milhões de MWh. A capacidade instalada deverá chegar a  260 MW, com elevação prevista de 22%.

Hoje, segundo a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), as usinas de açúcar e álcool mineiras geram aproximadamente 55 mil empregos diretos. O Plano de Expansão da Bioeletricidade prevê a geração de mais 11,2 mil empregos diretos até 2022.

Para alcançar as metas estabelecidas, o setor reivindica “Trabalho conjunto do governo do estado e Cemig para desenvolver mecanismos que minimizem entraves burocráticos”, “expansão da rede de distribuição do sistema elétrico da Cemig”, “incentivo à comercialização da energia de biomassa” e “legislação de incentivo à produção do biogás e geração distribuída”.

Fonte: Estado de Minas/em.com.br