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Virou mantra na elite econômica a ideia de que o Brasil voltará a crescer quando investidores externos recuperarem a confiança no país e mandarem para cá os seus capitais. A boa notícia é que o dinheiro já está chegando, feito enxurrada. Segundo o Banco Central, o Investimento Direto no País (IDP) atingiu US$ 35,1 bilhões este ano até maio, contra US$ 26,8 bi no mesmo período de 2018. O lado ruim é que o mantra não está funcionando: a dinheirama estrangeira não tem movimentado a economia nem gerado empregos. Os economistas e empresários erraram?
Na teoria o mantra parece irrepreensível. Mas na prática tudo é mais complexo. A enxurrada de IDP não está expandindo negócios nem gerando trabalhos, como esperado, porque vem sendo usado no grosso para aquisição de concessões, terras, empresas, pré-sal, etc. O Brasil ficou barato. E o estrangeiro está vindo comprar ativos. Mas, daí a arriscar capital para produzir mais, vai uma longa distância.
Há diferença entre comprar e expandir um negócio. Ambas as operações são investimentos; quando o estrangeiro compra uma empresa no Brasil, o seu dinheiro entra como IDP. Só que esse tipo de investimento nem sempre amplia a atividade econômica de imediato. Para exemplo: um grupo chinês comprou quatro usinas da Cemig em leilão em 2017, mas até onde se sabe não aplicou nenhum tostão em expansão ou melhorias nas hidrelétricas; portanto, esse investimento ainda não gerou mais PIB e emprego.
Este ano, o governo federal já leiloou duas áreas portuárias e doze aeroportos. Para setembro está previsto o leilão das rodovias BR-364 e BR-365. O setor de concessões em infraestrutura está andando; aliás, essa é a área onde o governo Bolsonaro tem funcionado melhor.
Pela previsão do BC, e pelo ritmo observado até aqui, não faltará dinheiro para os leilões de concessões. O IPD pode atingir este ano mais de US$ 90 bilhões, contra US$ 59 bi no ano an passado; de um ano para o outro, o aumento é explosivo, em torno de 60%.
Em tese, os investimentos em concessões e aquisições provocam aqueles outros investimentos, produtivos, que geram empregos. O investidor compra um aeroporto, por exemplo, e depois tem que fazer as melhorias previstas no contrato de concessão. O problema é que ninguém investe para aumentar produção de bens ou serviços se não houver demanda para isso.
Para explicar melhor, outro exemplo de aeroporto: a 4ª pista de pouso de Viracopos, embora prevista na concessão em 2012, não tem data para sair porque a empresa concessionária não vislumbra movimento de passageiros que justifique a obra. Esse é o cerne da questão: os investimentos que geram empregos só ocorrem se e quando há consumidores para garantir o retorno.
Até que a demanda interna se aqueça, os estrangeiros vão continuar comprando o Brasil. Para investir depois, quando der. Se der. A economia não se move sem investidor, é fato. Mas, também é verdade que o investidor não se move sem ver demanda. No frigir dos ovos, o que parece estar faltando no Brasil não é capitalista e sim consumidor.
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Capitais externos ficam imobilizados em ativos, sem girar economia; entradas crescem 60% este ano
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Na teoria o mantra parece irrepreensível. Mas na prática tudo é mais complexo. A enxurrada de IDP não está expandindo negócios nem gerando trabalhos, como esperado, porque vem sendo usado no grosso para aquisição de concessões, terras, empresas, pré-sal, etc. O Brasil ficou barato. E o estrangeiro está vindo comprar ativos. Mas, daí a arriscar capital para produzir mais, vai uma longa distância.
Há diferença entre comprar e expandir um negócio. Ambas as operações são investimentos; quando o estrangeiro compra uma empresa no Brasil, o seu dinheiro entra como IDP. Só que esse tipo de investimento nem sempre amplia a atividade econômica de imediato. Para exemplo: um grupo chinês comprou quatro usinas da Cemig em leilão em 2017, mas até onde se sabe não aplicou nenhum tostão em expansão ou melhorias nas hidrelétricas; portanto, esse investimento ainda não gerou mais PIB e emprego.
Este ano, o governo federal já leiloou duas áreas portuárias e doze aeroportos. Para setembro está previsto o leilão das rodovias BR-364 e BR-365. O setor de concessões em infraestrutura está andando; aliás, essa é a área onde o governo Bolsonaro tem funcionado melhor.
Pela previsão do BC, e pelo ritmo observado até aqui, não faltará dinheiro para os leilões de concessões. O IPD pode atingir este ano mais de US$ 90 bilhões, contra US$ 59 bi no ano an passado; de um ano para o outro, o aumento é explosivo, em torno de 60%.
Em tese, os investimentos em concessões e aquisições provocam aqueles outros investimentos, produtivos, que geram empregos. O investidor compra um aeroporto, por exemplo, e depois tem que fazer as melhorias previstas no contrato de concessão. O problema é que ninguém investe para aumentar produção de bens ou serviços se não houver demanda para isso.
Para explicar melhor, outro exemplo de aeroporto: a 4ª pista de pouso de Viracopos, embora prevista na concessão em 2012, não tem data para sair porque a empresa concessionária não vislumbra movimento de passageiros que justifique a obra. Esse é o cerne da questão: os investimentos que geram empregos só ocorrem se e quando há consumidores para garantir o retorno.
Até que a demanda interna se aqueça, os estrangeiros vão continuar comprando o Brasil. Para investir depois, quando der. Se der. A economia não se move sem investidor, é fato. Mas, também é verdade que o investidor não se move sem ver demanda. No frigir dos ovos, o que parece estar faltando no Brasil não é capitalista e sim consumidor.