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A taxa de 0,21% é a menor para abril desde 2020 (-0,01%). À época, a economia brasileira sentia os impactos iniciais das restrições da pandemia, o que dificultava o consumo fora dos lares e eventuais pressões de demanda sobre os preços.
O IPCA-15 surpreendeu o mercado financeiro ao ficar abaixo da mediana das previsões em abril. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,29%.
Com o novo resultado, o índice atingiu 3,77% no acumulado de 12 meses, o menor patamar desde julho de 2023 (3,19%). Nesse recorte, a taxa era de 4,14% até março.
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para os preços no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
O IPCA, também calculado pelo IBGE, é o índice oficial de inflação do país. Serve como referência para o regime de metas do BC (Banco Central).
A coleta dos preços do IPCA-15 ocorre entre a segunda metade do mês anterior e a primeira metade do mês de referência da divulgação. Neste caso, a pesquisa contemplou o período de 15 de março a 15 de abril.
A coleta do IPCA, por sua vez, é realizada somente no mês de referência do levantamento. Por isso, o resultado de abril ainda não está fechado. Será divulgado pelo IBGE no dia 10 de maio.
TRANSPORTES RECUAM COM PASSAGEM AÉREA E COMBUSTÍVEIS EM BAIXA
Dos 9 grupos pesquisados no IPCA-15, apenas 1 registrou queda de preços em abril. É o caso dos transportes, que ajudaram a frear o índice.
Os preços desse segmento recuaram 0,49% neste mês, após alta de 0,43% em março. O grupo teve impacto de -0,1 ponto percentual no indicador geral.
A baixa dos transportes está associada à queda dos preços da passagem aérea (-12,2%) depois do período das férias de verão. Outro fator por trás do resultado é o recuo dos combustíveis (-0,03%).
Individualmente, o bilhete de avião teve a maior contribuição entre as baixas no IPCA-15 (-0,09 ponto percentual). O indicador é composto por 367 subitens (bens e serviços).
Nos combustíveis, somente o etanol (0,87%) teve alta em abril, enquanto o gás veicular (-0,97%), o óleo diesel (-0,43%) e a gasolina (-0,11%) registraram queda dos preços.
ALIMENTOS SOBEM MENOS, MAS AINDA PRESSIONAM
O grupo alimentação e bebidas desacelerou o ritmo de aumento para 0,61% neste mês, após taxa de 0,91% em março. Ainda assim, gerou a maior pressão entre os segmentos pesquisados no IPCA-15 (0,13 ponto percentual).
Dentro desse grupo, a alimentação no domicílio subiu 0,74%, depois da alta de 1,04% na divulgação anterior. O IBGE destacou a carestia do tomate (17,87%), do alho (11,6%), da cebola (11,31%), das frutas (2,59%) e do leite longa vida (1,96%).
O tomate, aliás, teve a maior contribuição individual do lado das altas no IPCA-15 (0,05 ponto percentual).
A batata-inglesa (-8,72%) e as carnes (-1,43%), por outro lado, ficaram mais baratas neste mês. A alimentação fora do domicílio (0,25%) desacelerou em relação à leitura anterior (0,59%).
Outro grupo que pressionou o IPCA-15 foi o de saúde e cuidados pessoais. O segmento teve alta de 0,78% em abril, após avanço menor, de 0,61%, em março. O novo resultado gerou impacto de 0,10 ponto percentual no índice.
Segundo o IBGE, a maior contribuição para a carestia de saúde e cuidados pessoais veio dos produtos farmacêuticos (1,36%). A situação ocorre após a autorização do reajuste de até 4,5% nos preços dos medicamentos a partir de 31 de março.
A alta do plano de saúde (0,77%) também impactou o grupo. Os preços desse serviço voltaram a incorporar as frações mensais dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2023 a 2024, indicou o IBGE.
RESULTADO É BOM, MAS RISCOS PERMANECEM, DIZ ECONOMISTA
O economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), avalia que a leitura do IPCA-15 é positiva, ao confirmar uma inflação mais baixa no Brasil.
Ele, porém, diz que ainda há "muitas nuvens no horizonte". Entre os riscos citados pelo pesquisador, estão os possíveis impactos do dólar mais alto com a preocupação fiscal no país e os eventuais reflexos do clima sobre os preços ao longo do ano.
No cenário externo, os alertas vêm das cotações de parte das commodities e dos potenciais efeitos de tensões geopolíticas. "É um bom resultado [do IPCA-15]. A gente comemora enquanto pode, mas tem desafios pela frente", afirma Braz.
Segundo Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, a surpresa baixista com o IPCA-15 de abril foi concentrada em componentes bastante voláteis, como energia elétrica, gasolina, passagem aérea e combo de telefonia.
Por outro lado, produtos farmacêuticos, higiene pessoal e vestuário vieram mais fortes do que o esperado, diz a analista. Por ora, a Warren espera IPCA de 0,39% em abril e de 0,33% em maio.
A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, aponta que a desaceleração do IPCA-15 veio espalhada por vários preços, mostrando uma "composição benigna".
Ela, contudo, afirma que a inflação de serviços subjacentes, que exclui subitens mais voláteis e que é analisada pelo BC, segue pressionada pelo mercado de trabalho aquecido.
Conforme Moreno, os serviços subjacentes subiram 0,38% em abril, acumulando alta de 4,9% em 12 meses. Na visão da economista, trata-se de um "patamar bastante elevado".
Com a perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos por mais tempo, o cenário pode alterar o plano de voo do BC, diz Moreno.
Em outras palavras, isso significaria uma redução no ritmo do próximo corte da taxa básica de juros no Brasil, a Selic, de 0,5 para 0,25 ponto percentual
O Copom (Comitê de Política Monetária) volta a se reunir nos dias 7 e 8 de maio para definir o patamar da Selic, atualmente em 10,75% ao ano.
PREVISÃO É DE IPCA ABAIXO DO TETO DA META
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC é de 3% nos 12 meses de 2024. A tolerância é de 1,5 ponto percentual para menos ou para mais. Ou seja, a medida será cumprida se o IPCA ficar no intervalo de 1,5% (piso) a 4,5% (teto) no acumulado deste ano.
O mercado financeiro projeta que o índice oficial fechará 2024 em 3,73%, conforme a mediana da edição mais recente do boletim Focus, divulgada pelo BC na terça (23). A previsão está abaixo do teto da meta (4,5%).
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