A quantidade de produtos abandonados em caixas de supermercados teve uma alta de 63,2% no terceiro trimestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2021, segundo uma pesquisa elaborada pela consultoria Nextop. De acordo com o levantamento, foram mais de 285 mil produtos deixados para trás.
O resultado da pesquisa, feita com 982 estabelecimentos, não chega a ser uma novidade para Igor Guimarães, gerente do supermercado Paizão, em Santa Luzia, na Grande BH. Ele conta que este tipo de movimento tem sido comum no estabelecimento.

“Nos produtos de hortifrúti é até mais comum. As pessoas se assustam com o preço depois que pesam o produto e, às vezes, deixam na banca mesmo, nem levam para o caixa”, conta.
O motivo principal desse fenômeno, de acordo com o levantamento, é que a renda dos brasileiros não tem acompanhado o ritmo de crescimento da inflação. Por causa disso, muitas pessoas acabam se surpreendendo no caixa, ao perceber que o dinheiro gasto em uma compra não é suficiente para repetir as compras nos meses seguintes.

“Mesmo com a deflação vista nos últimos meses, os produtos não baixam de preço nas prateleiras dos supermercados e, com certeza, o consumidor não tem condições de levar tudo que precisa”, comenta Juliano Camargo, CEO da Nextop, responsável pela pesquisa.

A renda média da população chegou a registrar uma melhora neste ano. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a média dos salários dos brasileiros é de R$ 2.754,00, uma alta de 2,9% em relação à renda registrada em janeiro. Mas ainda muito menor que a inflação de 6,47% registrada em 2022, de acordo com o IPCA, índice oficial de preços utilizado pelo governo.

“Esse tipo de fenômeno é a própria vivência da inflação e não existe muita expectativa de melhora”, comenta a economista Mafalda Valente. Segundo ela, o hábito de compra dos brasileiros inclui um “acompanhamento mental” daquilo que está sendo colocado no carrinho. Porém, “de pouco em pouco”, a pessoa ultrapassa o limite e desiste da compra, situação que deve se tornar mais comum nos próximos meses, diz a economista.

“Estamos entrando em um novo ciclo inflacionário que deve voltar a pressionar os preços no início do próximo ano e o consumidor ainda deve conviver com este tipo de situação nos próximos meses”, avalia.