Na semana passada, o dólar voltou a fechar no maior valor nominal desde a criação do real, atingindo R$ 4,393 na sexta-feira
O dólar comercial, que chegou a passar dos R$ 4,40 nos últimos dias, não deve ser vendido a um valor abaixo de R$ 4 – pelo menos até o fim de 2020, segundo analistas de mercado.


Além do crescimento da busca pela moeda americana, como resultado da epidemia de coronavírus, fatores internos do Brasil têm puxado o câmbio. “Há uma desvalorização mundial de moedas em relação ao dólar, mas o Brasil tem desvalorizado mais”, afirma o economista Guilherme Tinoco.

Aliado à queda da taxa básica de juros para 4,25%, ao que o ministro da Economia Paulo Guedes tem atrelado a alta da moeda americana, o economista Guilherme Tinoco vê algumas medidas internas como motivos para tal movimento. 

“Os investimentos produtivos de estrangeiros que esperávamos que fossem acontecer no ano passado acabaram não ocorrendo com a força imaginada”, frisa Tinoco, que acredita que o otimismo do mercado interno não é compartilhado pelos investidores de fora.

A pauta ambiental e a instabilidade política são elementos que têm afastado a injeção de dinheiro estrangeiro e que, somados às incertezas da economia global, dão pouca margem para o real se valorizar.

Nas próximas semanas, inclusive, espera-se uma alteração para baixo da projeção de crescimento do Brasil no ano. “São fatores difíceis de reverter no curto prazo. É muito difícil o dólar descer para menos de R$ 4. Mesmo se o cenário melhorar e as reformas saírem, hoje em dia seria uma previsão super otimista”, afirma o economista.

Setores


O primeiro segmento a sentir os reflexos da alta do dólar é o turismo internacional. Mas o setor continua otimista para o ano de 2020, com projeção de crescimento de 5% a 8%, segundo a Associação brasileira de Agências de Viagens (Abav). 

É que o mesmo coronavírus que eleva a valorização da moeda tem efeito inverso no preço das passagens.


“As empresas aéreas terão prejuízo mundial de US$ 30 bi no ano, portanto precisam fazer ofertas nas tarifas. Os descontos oferecidos têm compensado e o valor em reais não subiu”, afirma Alexandre Brandão, presidente da Abav em Minas Gerais.

Importações, claro, também são diretamente afetadas. “Nossa moeda é euro e dólar. Então, atrapalha a importadora que fez orçamento por um valor, agora terá que pagar uns 15% a mais ou esperar para ver se abaixa”, afirma o presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei). Ele afirma, no entanto, que o câmbio atual está dentro da projeção do boletim técnico da entidade para 2020.