Do UOL, em São Paulo
O desemprego no país foi de 12,9%, em média, no trimestre encerrado em abril, de acordo com dados do IBGE. O índice subiu em relação ao trimestre anterior (12,2%), mas caiu na comparação com o mesmo trimestre do ano passado (13,6%).
Segundo o IBGE, o número de desempregados no Brasil nos três primeiros meses de 2018 foi de 13,4 milhões de pessoas. Isso representa alta de 5,7% em relação ao trimestre anterior. Na comparação com o mesmo período do ano passado, são 600 mil desempregados a menos, uma queda de 4,5%.
As movimentações no mercado de trabalho indicam que há trabalhadores desistindo de procurar emprego diante da instabilidade da economia e das incertezas políticas. E as perspectivas são de mais piora no curto prazo, mesmo que pontual, devido à greve dos caminhoneiros, que entrou em seu nono dia.
Os dados foram divulgados nesta terça-feira (29) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. A pesquisa não usa só os trimestres tradicionais, mas períodos móveis (como fevereiro, março e abril; março, abril e maio etc.).
Segundo o IBGE, o corte de vagas foi puxado pelo comércio, que perdeu 439 mil postos de trabalho em relação ao trimestre anterior.
Greve dos caminhoneiros deve afetar o emprego
O mercado de trabalho reflete a instabilidade vista na atividade econômica brasileira, em meio à uma cena política que afeta a confiança. No mais recente episódio, a greve dos caminhoneiros que já dura mais de uma semana e provoca desabastecimento generalizado em todo o país pode afetar, ainda que pontualmente, o emprego.
"Ainda esperamos melhora adicional na taxa de desocupação nos próximos meses. Porém, a estabilidade registrada no primeiro trimestre pode se estender ao segundo, por conta dos efeitos da greve dos caminhoneiros", avaliou a consultoria Rosenberg & Associados em nota.
Para o IBGE, o impacto maior deve ficar para aqueles que trabalham indiretamente para os caminhoneiros, como carregadores, estivadores, ou vendedores em centrais de abastecimento, e que recebem por jornada diária, impactando no resultado de emprego de maio.
"São pessoas informais mais afetadas pela greve do que os próprios caminhoneiros. Aquele que sai de uma comunidade e vai para uma central de abastecimento ficou sem trabalhar ou trabalhou menos do que o normal. Ele vai entrar na pesquisa como desocupado ou subempregado por ter trabalhado menos horas que o normal", disse Azeredo.
Trabalhadores desistem de procurar emprego
A queda no número de desempregados em relação ao mesmo período do ano passado se deve ao desalento dos trabalhadores, e não à melhora do mercado de trabalho, de acordo com o IBGE. O desalento se refere às pessoas que já desistiram de procurar uma vaga. Nos três meses até abril, o país somava 65,176 milhões de pessoas fora da força de trabalho, contra 64,868 milhões no trimestre até março.
Na pesquisa anterior, a subutilização da força de trabalho (pessoas que gostariam de trabalhar mais horas) e o desalento no Brasil já haviam batido recorde.
"O mercado de trabalho está sem força por conta de um cenário econômico que não estimula. Pelo contrário, o movimento é de dispensa e de pessoas desistindo de procurar", explicou o coordenador do IBGE, Cimar Azeredo. "Estamos num ambiente de crise econômica, política e incerteza por parte dos empresários", acrescentou.
Em abril, o número de pessoas ocupadas chegou a 90,733 milhões, acima das 90,581 milhões até março e das 89,238 milhões nos três meses até abril de 2017.
Vagas com carteira assinada caem
O mercado continua registrando fechamento de vagas com carteira assinada, uma vez que o contingente de empregados formais caiu 1,7% nos três meses até abril em relação ao ano anterior, para 32,729 milhões.
Temos um mercado de trabalho que perde população ocupada, perde emprego com carteira e com sinais de algum desalento na população fora da força de trabalho. A queda contínua na carteira de trabalho é negativa, porque isso afeta qualidade do emprego
Cimar Azeredo, coordenador do IBGE
A pesquisa mostrou ainda que o rendimento médio do trabalhador foi de R$ 2.182 nos três meses até abril, sobre R$ 2.174 em março e R$ 2.165 no mesmo período do ano passado.
Metodologia da pesquisa
Os dados fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. São pesquisadas 211.344 casas em cerca de 3.500 municípios. O IBGE considera desempregado quem não tem trabalho e procurou algum nos 30 dias anteriores à semana em que os dados foram coletados.
Existem outros números sobre desemprego apresentados pelo Ministério do Trabalho, com base no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Os dados são mais restritos porque consideram apenas os empregos com carteira assinada.