O tombo das bolsas de valores nas últimas semanas, embora deflagrado pelo coronavírus, tem causas mais estruturais e antigas. A pandemia expôs toda a fragilidade dos mercados financeiros, movidos há anos por um sistema de liquidez artificial, baseado em altíssimos níveis de endividamento e de especulação e sustentado por injeções de dinheiro fictício, criado do nada pelo banco central dos EUA, o Fed, gestor da moeda de reserva internacional, o dólar. Uma hora a casa tinha que cair.

Desde 2008, quando a engrenagem financeira quebrou, sabia-se que o sistema era insustentável. Não poucos alertaram que era questão de tempo até uma nova pane, espécie de segunda onda ou repique de 2008, só que muito mais agravada. Agora, todos estão mais endividados: empresas, consumidores, governos.

Esqueçam o papo furado dos bancos, e de Donald Trump, de que o sistema hoje está mais preparado e forte para uma crise financeira. Nunca esteve, nem estará. As bases do sistema já estão ruindo. O furdúncio financeiro que vem aí é inimaginável.

Depois da crise de liquidez, que já começamos a viver, virá inevitavelmente uma onda de insolvência. Inadimplência em massa e moratórias em série. Bancos não têm como escapar de uma crise que atinge em cheio os seus clientes e correntistas. De novo, como há 10 anos, bancos vão quebrar.

O Fed, é claro, fará novas derramas de dinheiro, em volume inédito, para irrigar o sistema financeiro e através dele o setor corporativo. E será seguido por bancos centrais no mundo todo; quem não emitir moeda fará mais dívida, como o Brasil. Mas não se sabe se, desta vez, a política de soltar dinheiro dará certo. A crise que há dez anos estava na especulação financeira agora chegou à economia real.

Uma hora o pandemônio vai passar. Mas, até estabilizar o sistema, ou reinventá-lo, salve-se quem puder!