Por aí também o seu coração foi tomado por uma imensa alegria ao ver o nome de Democracia em Vertigem, ou melhor, The Edge of Democracy, entre os cinco indicados ao Oscar 2020 de melhor documentário? É a primeira vez que um filme brasileiro aparece nesta categoria. E mais: é dirigido por uma jovem mulher, a mineira Petra Costa, e trata de um tema importante de ser debatido internacionalmente. Ou seja, a frágil democracia brasileira.
Bom, esta foi a maior surpresa da lista divulgada na segunda, 13 de janeiro. Já na categoria principal, confirmou-se o esperado. Coringa terá seu embate direto com 1917, longa dirigido por Sam Mendes e que vem ganhando destaque nas últimas semanas. Assim, o embate será entre o contemporâneo e o histórico.
Isso porque Coringa é, para mim, um sintoma da sociedade em que vivemos. Já 1917, embora com novas propostas de linguagem, é mais um drama histórico sobre guerras. A polarização da discussão sobre o Oscar 2020 não envolve mais o embate com o streaming. Será um duelo mais temático do que tecnológico.
Acho isso ótimo porque a discussão no Oscar 2020 volta a ser o filme e não a plataforma. Em resumo: ganha o cinema. Confira outros pontos que chamaram a atenção na lista dos Indicados ao Oscar 2020.
O que a presença de Democracia em Vertigem no Oscar representa para o Brasil?
Democracia em Vertigem é uma interpretação muito pessoal de Petra Costa sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef. Independentemente da posição dela, à medida em que o longa ganha tamanha projeção internacional a discussão sobre a democracia no Brasil se amplia. Talvez tenha sido justamente este o objetivo dela ao fazer o filme.
E mais: como é relevante que um filme nacional tenha este reconhecimento justamente no ano em que o atual presidente tenta com todas as foças destruir o cinema brasileiro. Representa força, resistência.
Renovação entre as atrizes
A lista de melhor atriz revela uma renovação em Hollywood. Nada de veteranas tipo de Meryl Streep. A favorita – e sumida – Renée Zellweger, que completa 51 anos em 2020, é a mais velha entre as concorrentes. Saoirse Ronan, apesar de mais nova, com 26 anos, soma quatro indicações. Entre elas, estão Charlize Theron (45), Scarlett Johansson (36) e Cynthia Erivo (33). Inclusive: palmas e mais palmas para Scarlett que emplacou duas indicações: melhor atriz principal e também coadjuvante por Jojo Rabit.
Veteranos entre os atores
Já entre os atores coadjuvantes o quadro é outro. Brad Pitt, aos 56 anos, é o caçula da lista que também tem Tom Hanks (64), Joe Pesci (77), Anthony Hopkins (82) e Al Pacino (80). Este, por sua vez, é o que mais vezes apareceu na lista da Academia. Foram nove indicações. Aliás, todos os candidatos já têm uma estatueta do Oscar em casa. Somente Brad ainda não recebeu como ator e sim como produtor de 12 anos de escravidão.
O triunfo do estrangeiro
Uma produção sul coreana ser indicada ao Oscar de Melhor Filme. E mais: longa internacional, roteiro e direção. Isso depois de ganhar a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Se Hollywood já estava de braços abertos para os mexicanos, Bong Joon Ho entrou para o time dos estrangeiros queridinhos. Merecido. Parasita é mesmo um dos melhores filmes do ano. Deve levar na categoria de filme internacional mas só ampla presença já valeu.
Temas relevantes
A maior parte dos filmes que concorre à categoria principal propõe discussões relevantes para os dias de hoje. Por exemplo, se Coringa fala, entre outros temas, sobre saúde mental, Parasita discute desigualdade social. O Irlandês, por sua fez, fala sobre a corrupção política e Ford Vs Ferrari reflete sobre os limites do marketing. Adoráveis mulheres estimula o discurso feminista. História de um casamento aborda a complexidade das relações humanas. Jojo Rabbit e 1917 entram na cota da guerra e, por fim, Era uma vez em… Hollywood fala sobre cinema. Sendo assim, sobre a tradição do cinema, algo que a indústria tem valorizado bastante.