Luis Kawaguti e Marina Lang
Do UOL e colaboração para o UOL, no Rio
O delegado Willians Batista informou no final da manhã desta terça-feira (24) que dois homens presos hoje por suspeita de envolvimento em dois assassinatos na Baixada Fluminense também são investigados pelas mortes da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes.
O ex-PM Alan Nogueira e o ex-bombeiro Luis Cláudio Ferreira Barbosa foram presos por suspeita de participar dos homicídios de um PM e um ex-PM em Guapimirim, na Baixada Fluminense, em fevereiro de 2017, supostamente a mando de Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, chefe de uma quadrilha de milicianos. Os três foram indiciados nesta terça por duplo homicídio neste caso da baixada.
Segundo o delegado, esse caso foi delatado à polícia por testemunha que apontou o envolvimento dos três no assassinato de Marielle. "O teor dessa participação, de que forma eles teriam agido no caso Marielle, ainda está sob investigação", disse Batista, que confirmou que Nogueira e Barbosa são considerados suspeitos de envolvimento nas mortes da vereadora e de seu motorista.
O jornal "O Globo" informou nesta terça que o ex-PM Nogueira seria um dos ocupantes do carro em que estavam os assassinos da vereadora e de seu motorista. Segundo a publicação, a informação partiu do homem considerado testemunha-chave do caso. Um investigador do caso confirmou ao UOL que Nogueira supostamente estaria no carro, mas não deu detalhes.
O PM reformado Alan Nogueira nega envolvimento nos crimes, segundo informou hoje sua defesa. Conhecido como Cachorro Louco, ele foi detido por volta das 6h em sua casa em Olaria, zona norte carioca. O carro de Nogueira, um Honda Civic branco, foi apreendido.
Segundo a polícia, Nogueira é suspeito de integrar o bando de Araújo, que foi transferido em junho para a penitenciária federal de Mossoró (RN). Investigadores dizem que o Honda Civic apreendido teria sido usado para ajudar a desovar os corpos dos mortos na baixada.
Questionado sobre o envolvimento de seu cliente no assassinato de Marielle, o advogado Leonardo Lopes afirmou que "ele desconhece totalmente o caso. Ele não sabe nem o que está acontecendo".
Lopes também negou envolvimento do ex-PM com a quadrilha de milicianos supostamente chefiada por Araújo e disse que ele não tem ligação com os dois homicídios. "Ele nunca participou de nada", afirmou o defensor a jornalistas na porta da DH.
O UOL não localizou a defesa do ex-bombeiro Luis Cláudio Ferreira Barbosa.
Sobre as acusações de que Araújo seria chefe da quadrilha responsável pelos homicídios na baixada, o advogado Renato Darlan disse que se trata de uma manobra da polícia para incriminar seu cliente. "Isso é novo para a gente, não tivemos como apurar isso ainda. Sem dúvida, a polícia está tentando incriminar e descredibilizar o Orlando para encobrir a atuação desastrosa no caso Marielle", afirmou.
No início de maio, uma testemunha, em depoimento à Delegacia de Homicídios do Rio, disse ter presenciado conversas entre o vereador Marcelo Siciliano (PHS) e Araújo nas quais supostamente teriam discutido o assassinato de Marielle. Ambos negam qualquer envolvimento no crime.
À polícia, o delator narrou que as conversas sobre a morte da vereadora teriam começado em junho do ano passado depois de ela ter passado a promover ações comunitárias em bairros da zona oeste --os quais, embora controlados por traficantes, seriam de interesse da milícia.
Preso preventivamente por outros dois crimes (homicídio e posse ilegal de armas), Araújo afirmou na ocasião que a testemunha é um PM da ativa que estaria agindo por vingança.
De acordo com a testemunha, após a morte de Marielle, pelo menos dois outros assassinatos foram cometidos como "queima de arquivo": dois dias depois da morte de Alexandre Cabeça, em 8 de abril, foi assassinado a tiros o subtenente reformado da PM Anderson Claudio da Silva, suspeito de envolvimento com milicianos.