Vila de pescadores reúne, num pequeno trecho paradisíaco, águas calmas e ótimas opções de hospedagem e alta gastronomia
São quase 18h de um sábado quente de novembro. O sol ainda brilha de forma intensa, mas já caminha avançado para se esconder atrás do manguezal, do outro lado do rio. Após uma volta de pouco mais de 5 km de bicicleta no chão de terra batida da ruazinha principal – e praticamente única da vila –, da sombra de uma castanheira no Porto da Barra, onde há um pequeno banco de madeira, observa-se o vaivém de barcos coloridos de pescadores, alternando o fim e o começo do expediente.
Aproveitando-se da influência da maré no estuário, onde as águas salgadas do mar se misturam com as doces do João de Tiba, um grupo de cinco garotos põem-se a atravessar de uma margem à outra aquele trecho de água. Depois de centenas de braçadas, freneticamente coordenadas com o movimento das cabeças, indo de um lado para o outro e sempre fora d’ água, muitas gargalhadas. Os vencedores, descansando num banco de areia, fazem troça, aos gritos, da disputa dos retardatários. É apenas mais um dia na vila de Santo André.
O lugarejo, encravado na chamada Costa do Descobrimento (sim, os portugueses chegaram ao Brasil por aqui), pertence a Santa Cruz de Cabrália e está a apenas 30 km de Porto Seguro, onde a maioria dos turistas desembarca via aeroporto para conhecer esse pedaço do litoral baiano. De lá, chega-se a Cabrália de carro, onde a travessia do rio por uma balsa já dá uma dimensão do cenário dali para frente: mangue, casario simples, intercalado por mansões de alto padrão de arquitetura e uma atmosfera de sossego.
Santo André é banhada de forma privilegiada pelo mar e por dois rios, o Santo Antônio e o João de Tiba. Esse encontro de águas deixa o mar da vila com uma cor menos azul ou esverdeada se comparado ao de praias vizinhas, como Coroa Vermelha ou Arraial d’Ajuda. Por lá, o tom do mar e até mesmo da areia é puxado mais para o castanho. Mas isso é apenas um detalhe. As águas, sejam da praia ou dos rios, são perfeitas para banho. A caminhada pelas areias quase sempre desertas da região amplia a sensação de descanso em um paraíso bem próximo da civilização.
Outro diferencial de Santo André é a capacidade de abrigar alguns dos melhores restaurantes, hotéis e pousadas do país sem perder o ar charmoso da pequena vila de pescadores nem se deixar ser invadida por multidões de turistas. Aliás, quando se pensa em camarões, lagostas e outros frutos do mar, come-se muito bem na vila, com preços até 30% mais baratos em relação a outros destinos badalados do litoral brasileiro.
Muito além de Porto Seguro
“Santo André tem um brilho intenso e próprio. Muitas vezes as pessoas chegam até aqui, mas estão hospedadas em outras praias. O nosso trabalho, junto com os donos de hotéis e restaurantes, é depender cada vez menos da indução do turismo de Porto Seguro. A vila tem um diferencial especial em relação a outras praias da região”, defende a secretaria municipal de Turismo, Cultura, Esporte e Lazer de Santa Cruz de Cabrália, Patrícia Martins.
Segundo ela, a atual gestão trabalha para um redescobrimento da região.
Curiosidades e dicas
João de Tiba. O rio, de águas calmas e cor azul escura, é um dos destaques da viagem. Seu nome original é Sernambetiba, mas foi rebatizado, reza a lenda, em razão de um famoso colonizador português da região. Há quem também credite essa mudança de nome como homenagem a um pescador antigo da vila.
Como chegar: De Belo Horizonte, a melhor opção é ir de avião até Porto Seguro e de lá para a balsa em Cabrália – táxi (a combinar), Uber (R$ 44) ou transfer do hotel. A balsa custa R$ 1 a pé e R$ 13 por veículo.
*O repórter viajou a convite do resort Costa Brasilis.