“Minha filha só tinha 14 anos. Não merecia isso. Tinha a vida pela frente”, lamentou a mãe de Raissa Sotero Rezende, torturada e assassinada por duas adolescentes de 15 anos na Praia de Maria Farinha, em Paulista, Região Metropolitana do Recife. Ocorrido na manhã de ontem, à beira da água da praia, o crime foi gravado e viralizado nas redes sociais pelas próprias jovens suspeitas de cometerem o ato. Elas foram apreendidas pela Polícia Civil e encaminhadas à Unidade de Atendimento Inicial (Uniai) da Funase, onde seguem à disposição da Justiça.

A mãe, o padrasto e o namorado de Raissa ainda estavam perplexos com o ocorrido, ao chegarem no início da noite de ontem ao Instituto Médico Legal (IML), em Santo Amaro. O homicídio aconteceu por volta das 9h. A vítima teria sido levada do colégio onde estudava, localizado no bairro dos Coelhos, no Recife, até o local do crime, onde sofreu diversos atos violentos e morreu. 

As adolescentes suspeitas foram apreendidas em flagrante por ato infracional equiparado ao homicídio, duplamente qualificado. A Lei Maria da Penha também se aplicou à situação pelo contexto: Raissa e uma das meninas que aparecem no vídeo gravado tiveram um relacionamento no ano passado e, mesmo separadas, a vítima era alvo de constantes assédios e perseguições da suspeita.

Na época em que tiveram um caso, a vítima morava com o pai e a avó, no bairro da Caxangá, Zona Oeste. No auge do relacionamento, chegou a ficar quase dois meses fugida de casa, junto da ex, para desespero da família. Ao retornar para casa, se separou. Queixava-se de agressões constantes com faca e queria outro rumo para a vida. 

As investidas eram tantas que motivaram a jovem a trocar de escola e ir morar com a mãe, nos Coelhos. Não adiantou: segundo os familiares, a ex continuou a perseguição, até que descobriu o novo colégio que Raissa estudava. E ontem ela teria sido atraída a entrar em um carro e ir à praia, onde foi assassinada. 

De acordo com fontes na Polícia Civil, a apreensão das adolescentes foi complicada. Em um primeiro momento, foram encaminhadas à Delegacia de Homicídios de Paulista e depois para a Delegacia de Maria Farinha. Durante todo o trajeto, xingaram e tentaram agredir os agentes, segundo as fontes. Houve um momento em que ficou insustentável a coleta de depoimentos das duas. 

Feminicídio

Apesar de ter existido um relacionamento entre a vítima e a agressora, a polícia descarta, neste primeiro momento, qualificar o caso como um feminicídio. “A hipótese vai ser apurada, mas pelo que elas (as adolescentes apreendidas) estavam contando, não havia uma relação de menosprezo por ser mulher”, explica o delegado Alvaro Muniz, responsável pela autuação. 

Bianca Rocha, diretora de enfrentamento à violência de gênero da Secretaria da Mulher de Pernambuco, endossa o ponto de vista. “Se, de fato, a motivação for comprovada por ser uma questão de ciúmes, pode até se caracterizar um feminicídio. Mas pela forma com que o crime foi executado, com crueldade, acho que seria banalizar o termo”, aponta.