Lugar onde a Princesa Isabel passou uma temporada em 1870, a cidade que faz parte do Circuito das Águas é cheia de vida e tem muitos “causos” para contar.
Caxambu é uma cidadezinha cativante do Sul de Minas Gerais. Como tantas outras pequeninas que se espalham de Sul ao Norte do Brasil, guarda cenários mágicos. Como o verde repleto de florezinhas multicoloridas que abraça as suas paisagens urbana e rural, as suas estreitas ruas de paralelepípedo e as águas termais, a sua maior estrela. Elas moram no Parque das Águas, onde 12 fontes esbanjam diferentes propriedades do líquido, dos que são úteis para combater os problemas do fígado ou de pressão arterial aos que favorecem a beleza e o rejuvenescimento.
As águas estão ali disponíveis para qualquer um experimentar. Mas isso é só o começo. Situado aos pés do Morro de Caxambu, o parque guarda uma instigante preciosidade: um gêiser, o único existente no País. Só uma pergunta: você faz parte do seleto rol de privilegiados mortais que já viu um deles ao vivo e em cores? Não. Então, aproveite a rara oportunidade. É verdade que terá de ter paciência, mas isso nesta pacata cidade interiorana não tem a menor importância.
Temperamental, o gêiser surge apenas uma vez por dia, quando a explosão de seus gases subterrâneos impulsiona as águas e os vapores em jatos superfície acima a uma altura de até oito metros e a uma temperatura de 27º C, num hipnotizante ritual que fascina adultos e crianças. Nem tente perguntar o horário – disse que era intempestivo, não disse? Assim, o show pode acontecer em qualquer horário da manhã, tarde ou noite.
Com tantos caprichos, você deve estar pensando que não terá a menor chance de assistir ao espetáculo oferecido por este emblemático deus da natureza. Está enganado! Enquanto a apresentação não acontece, aproveite que está em uma cidade do interior e entre no clima de um lugar onde tudo parece ter parado no tempo. Revista-se de paz, respire o ar puro das montanhas e reserve um dia de sua agenda para passar ao lado do gêiser.
Ele surge em uma colorida escultura de cogumelo, onde você vai poder ser “massageado” pelos seus impetuosos jatos de água e vapor. Acredite, vai valer muito a pena! Se, depois disso, quiser aproveitar ainda mais dos benefícios das águas minerais caxambuenses, saiba que ali também funciona o balneário hidroterápico, com piscina térmica, banhos termais, massagens e terapias, como a hidroterapia e cromoterapia, por exemplo. Para desfrutar os serviços, terá de pagar uma pequena taxa.
Pelo balneário passou a Princesa Isabel nos tempos de Brasil Imperial. Aliás, a imperatriz que em 1888 assinou a Lei Áurea, dando um ponto final à escravidão no País, chegou à cidade em 1870 em busca da cura de sua infertilidade. A temporada em Caxambu e as suas imersões nas águas medicinais deram certo: em outubro de 1875, a princesa deu à luz ao primeiro de seus três filhos, Pedro de Alcântara de Orléans e Bragança – o Príncipe do Grão-Pará.
Em agradecimento, a imperatriz e o seu marido, o Conde D’Eu, financiaram a construção da Igreja de Santa Isabel da Hungria, outro lugar que você pode conhecer na cidade. A igreja começou a ser construída em 1868, exibe arquitetura neogótica e tem um altar todo talhado em madeira com a imagem da santa. É tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais.
Sotaque da terra
Tão delicioso quanto os banhos termais é o “tiquim” de prosa que você vai ter com os moradores de Caxambu. Nas barraquinhas de artesanato existentes na lateral do Parque das Águas, nos passeios de charrete que de suas proximidades partem, nas lojas, nas farmácias, nos bares, restaurantes, hotéis… Enfim, em qualquer cantinho da cidade, você logo vai sentir o “jeitim mineirim” de ser e de receber dos caxambuenses. Sorridentes, sempre com um “causo” ou mais para contar, são muito prestativos e nem sabem o que fazer para te agradar.
“Trem danado de bão” também é a culinária mineira. Com seu cafezinho, pão de queijo, queijos de diferentes tipos, feijão-tropeiro, tutu-de-feijão, pernil ou frango com couve, doces de leite e de frutas e cachaças. Hummm! Sabores irresistíveis. Mas, entre as tentações, uma que você só vai encontrar em Caxambu: o engana aquático, um biscoito que derrete na boca. Você pode comprá-lo na Feira de Orgânicos, que acontece aos sábados na Praça XVI de Setembro, ou nas lojas de queijos e doces, barraquinhas de beijus artesanais e no balaio das quitandeiras.
Impossível falar da gastronomia de Minas sem mencionar os tropeiros, homens que nos idos do Brasil colonial, principalmente nos séculos 17 e 18, saiam em tropas percorrendo os difíceis e acidentados terrenos tupiniquins a cavalo, transportando mercadorias em lombos de mulas e burros, para vendê-las em povoados localizados entre as regiões Sul e Sudeste. As viagens eram longas e os tropeiros precisam se alimentar durante o trajeto.
As facilidades dos tempos modernos, como o fogareiro, o isopor e a geladeira, não existiam e a comida não podia estragar. Assim, as tropas levavam para comer em suas paradas o feijão misturado à farinha de mandioca, torresmo, linguiça, ovos, alho, cebola e tempero. O prato básico do cardápio desses homens deu origem ao nome do feijão-tropeiro, numa referência direta aos integrantes das tropas.
Passando dos sabores aos aromas, Caxambu está a quase 1.100 metros de altura acima do nível do mar. É circundada por montanhas e pelo verde da Serra da Mantiqueira, tem ar puro e o doce perfume de mata. Bucólica e cheia de glamour, oferece boa infraestrutura de lazer, serviços e hospedagem, desde pousadas aos hotéis tradicionais e bem familiares. Caso do União, que atualmente é comandado por Raul Spinelli, a terceira geração da família desde que o hotel foi inaugurado em 1943.
Não pense que por ter 75 anos, o empreendimento permaneceu no passado. Ao contrário. Com visual – interno e externo – repaginados, disponibiliza internet e seus 77 apartamentos são equipados com tevê a cabo, telefone, ar-condicionado e aquecimento central. Possui ainda piscinas adulto e infantil (são aquecidas no Inverno) com bar, salão de jogos, sala de leitura, salas de convenções e estacionamento. Seu restaurante mescla pratos com o melhor da comida mineira com os de gastronomia internacional.
Entre as vedetes do cardápio, destaque para as tradicionais receitas portuguesas, como o bacalhau, o caldo verde e os pastéis de Belém, e para as regionais, como o lombo de porco com tutu-de-feijão e o frango à mineira. As refeições são servidas pelos simpáticos garçons do hotel e você pode repeti-las quantas vezes conseguir. Mas, deixe um espaço para a sobremesa. No bufê, tortas e doces caseiros em compotas e em caldas e o delicioso (e famoso) queijo mineiro, preparado com leites selecionados.
Bem legal do União também é que os funcionários da recepção podem te ajudar a explorar a região, fazendo roteiros com dicas para você conhecer algumas das atrações vizinhas. Entre as opções de tours: “Águas Mineiras” (em Caxambu e em São Lourenço), “Místico e Exótico” (São Tomé das Letras), “Histórico” (Tiradentes, São João Del Rei e Campanha) e “Religioso (Baependi e Aparecida do Norte (SP).
Missão de fé
Baependi, por sinal, é um capítulo à parte, especialmente se você é católico. Fica a menos de 15 minutos de Caxambu e atualmente é ponto de parada obrigatório dos roteiros de turismo religioso comercializados pelas agências de viagens. Foi em seu solo que viveu Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica (1810/1895). Filha de escrava, a menina morou na senzala até os 8 anos, mudando-se ainda pequena para Baependi.
Pobre e analfabeta, perdeu a mãe ainda na infância, aos 10 anos, quando teve de cuidar do irmão de 12 anos. Sua herança? A fé em Deus e uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, deixada pela mãe. Humilde, a fervorosa devota da santa, ainda jovem, decidiu dedicar a sua vida em auxílio do próximo, a quem oferecia conforto, preces e orientações espirituais. Nunca se casou. A bondade com que acolhia a pobres e a ricos se espalhou.
A cada dia, mais e mais fiéis a procuravam, pedindo orações e conselhos para solucionar as dificuldades. Com as contribuições que eles lhe davam depois de atendidos, Nhá Chica mandou construir uma capelinha em homenagem à Nossa Senhora da Conceição. No pequeno altar, a imagem da santa herdada da mãe. Pela sua inquebrantável fé em Deus e em Jesus e abnegação, à religiosa foram atribuídos muitos milagres.
Nhá Chica morreu aos 87 anos. Anos mais tarde, em 1998, foi beatificada pelo Vaticano. Hoje, a cidade preserva a casinha simples onde ela morou, com seus poucos e antigos móveis e objetos pessoais, e a capelinha, hoje transformada em um santuário, onde peregrinos de todos os cantos chegam em busca de sua intercessão, de esperança e também para agradecê-la pelas graças alcançadas. Ali também se encontram os seus restos mortais.
De volta a Caxambu, você pode voltar à infância e embarcar em uma mágica aventura: o teleférico. Ele percorre 760 metros e conduz ao pico do Morro do Cruzeiro, a aproximadamente 1.090 metros de altitude e a 186 metros acima do Parque das Águas. O passeio de 7 minutos e meio te dá direito a admirar a uma linda vista panorâmica da cidade e das montanhas da Serra da Mantiqueira.
Cortando o lago e a mata nativa é possível avistar toda a beleza do Parque das Águas e lá, em cima, visitar o Cristo Redentor, admirando o conjunto urbanístico da cidade e as irretocáveis paisagens que a abraçam. O teleférico funciona todos os dias das 9h às 18h e o ingresso custa R$ 20 por pessoa. Lá no alto, além dos cenários cinematográficos, um restaurante com o melhor da culinária mineira e lojas de artesanato e de doces e queijos caseiros te esperam. Uai, “cê” precisa mais “di” quê?
SERVIÇO
Em Caxambu
Parque das Águas: Rua João Carlos, 82, tel. (35) 3341-5107.
Igreja de Santa Isabel da Hungria: Rua Monsenhor João de Deus, 92, centro.
Teleférico: tel. (35) 3480-0278.
Hotel União: Av. João Pessoa, 284, tel. (35) 3341-3333, site hoteluniao.com.br.
Para saber mais: vemvivercaxambu.com.br
Em Baependi
Casa e Santuário Nhá Chica: Rua da Conceição, 165, centro, tel. (35) 3343-1077, site nhachica.org.br. App disponível no Google Play: app.vc/nhachica.