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Um estudo da Universidade do Colorado, nos EUA, ainda em revisão por cientistas e publicado na última semana, mostra que a porcentagem de infecções em um ambiente fechado pouco ventilado pode ser mais de 400 vezes maior do que em um ambiente aberto e bem ventilado, mesmo com todos utilizando máscara e permanecendo no local por pouco tempo, e o cenário piora quanto mais longa a permanência e mais pessoas no espaço. Os próprios autores reconhecem que os números não são definitivos, já que dependem de uma série de fatores como a qualidade das máscaras, mas a pesquisa dá mais pistas para um argumento defendido por outros cientistas: privilegiar ambientes arejados é uma das principais armas para diminuição dos riscos de contaminação pelo coronavírus.
Passados 14 meses desde o início da pandemia, no final de abril a Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou suas diretrizes oficialmente e reconheceu que uma das principais formas de transmissão do coronavírus é por partículas suspensas no ar. Ao mesmo tempo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) confirmou que o risco de contrair Covid-19 pelo contato com superfícies contaminadas é mínimo. Nesse cenário, especialistas recomendam que arejar ambientes e o uso correto de máscara podem oferecer uma proteção muito mais eficaz do que a limpeza constante de superfícies ou a aplicação incessante de álcool em gel nas mãos.
“Você pode desinfetar um teatro ou um cinema da cabeça aos pés, por exemplo, com tudo praticamente esterilizado. Mas, se houver uma ventilação ruim, essa desinfecção não adiantou nada. Tudo bem entrar em uma loja e passar álcool em gel na mão, é saudável, mas, se for só isso, não adianta. Um ambiente aberto é muito mais seguro”, avalia a epidemiologista Denise Garrett. Ela pondera que, em espaçso abertos, cuidados como uso de máscara e distanciamento das pessoas continuam relevantes.
Uma boa ventilação é importante porque dispersa as partículas contaminantes que podem estar suspensas no ambiente, por isso encontros ao ar livre são considerados mais seguros por especialistas do que nos espaços fechados, especialmente em situações de longa permanência no local. O infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia de Belo Horizonte, alerta que o tempo frio do outono e do inverno poderá aumentar os casos de contaminação, já que pessoas tendem a recorrer a locais fechados e pouco ventilados nessa época.
‘Teatro da higiene’ prejudica prevenção
Na perspectiva da vice-diretora do Hospital das Clínicas da Unicamp, a infectologista Raquel Stucchi, as evidências do risco de locais pouco arejados desmontam o chamado “teatro da higiene”, quando estabelecimentos fazem da medição de temperatura, higienização de superfícies e das mãos a principal estratégia de cuidados, mas permitem aglomerações e não se preocupam com a ventilação adequada ou com o uso de máscaras ajustadas. “Isso não é só energia, mas dinheiro desperdiçado. O foco deve ser em manter as mãos limpas, usar máscara e preferir ambientes abertos. Isso pode ficar em segundo plano com medidas sem necessidade como usar tapete sanitizante e passar álcool a cada dez minutos”, diz a infectologista.
O pós-doutorando na Faculdade de Medicina de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR, Vitor Mori, cita as escolas como mais um exemplo: “Seria muito mais importante que a criança ficasse só ao ar livre o tempo inteiro, ou que se verificasse a máscara bem ajustada. Mesmo em locais que têm pátio, quadra, espaço ao ar livre, coloca-se todo mundo na sala e parquinhos são até fechados por medo de transmissão por superfície. Há o argumento de colocar as crianças para lanchar na sala para garantir o distanciamento entre elas, mas isso não faz sentido, elas tiram a máscara para comer. Se alimentar ao ar livre seria muito mais seguro. As coisas estão completamente invertidas”, elabora.
Em seus protocolos de segurança para estabelecimentos, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) citam que a boa ventilação deve ser privilegiada, mas não estabelecem todos os critérios técnicos que precisam ser seguidos para isso. Em nota, a prefeitura pontua que "janelas e portas deverão permanecer abertos e, caso seja necessário o uso de ventilador, é permitido de modo exaustor". A epidemiologista Denise Garrett lamenta que não haja orientações mais detalhadas do poder público sobre ações que possam melhorar a qualidade do ar.
“Em uma escola, por exemplo, você pode colocar um exaustor na janela, pode colocar um medidor de gás carbônico no local e ter noção da troca de ar no ambiente. Se estiver alto, medidas simples podem ser feitas, como abrir determinadas janelas e colocar ventiladores em algumas para trocar o ar. Tudo isso deveria fazer parte de protocolos, explicando o que é uma boa ventilação e quantas trocas de ar são necessárias em ambiente fechado”, exemplifica.
Em Belo Horizonte, segundo a prefeitura, 30 escolas municipais precisaram passar por adequações como ampliação das janelas. Até então, o governo municipal informa ter recebido apenas uma denúncia por falta de manutenção de ar condicionado, em uma academia, o que compromete a ventilação do local.
Em locais pouco ventilados, máscara de qualidade e bem ajustada oferece proteção
Especialmente quem não pode evitar a permanência em local fechado e pouco ventilado precisa utilizar máscaras de boa qualidade e com ajuste adequado ao rosto, destaca o pesquisador Vitor Mori. Tal qual personalidades da saúde no Brasil, como o médico Dráuzio Varella e o biólogo Átila Iamarino, ele recomenda as máscaras do tipo PFF2 para essas situações.
Caso ainda se opte por uma máscara de pano, é importante observar alguns critérios: pela orientação da OMS, ela deve ter três camadas: uma interna e material que absorve água, como algodão; uma intermediária de material sintético ou de algodão e uma externa de material repelente a água, como poliéster. “A principal forma de contágio continua sendo por gotículas que não passam de um metro e meio da pessoa contaminada e máscara de tecido protege nesse caso, desde que seja adequadamente fabricada”, pontua a infectologista Raquel Stucchi. Seja qual for a máscara, ela não pode estar frouxa no rosto e precisa vedar a entrada e saída do ar no queixo, nas bochechas e ao redor do nariz.
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Passados 14 meses desde o início da pandemia, no final de abril a Organização Mundial da Saúde (OMS) alterou suas diretrizes oficialmente e reconheceu que uma das principais formas de transmissão do coronavírus é por partículas suspensas no ar. Ao mesmo tempo, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC) confirmou que o risco de contrair Covid-19 pelo contato com superfícies contaminadas é mínimo. Nesse cenário, especialistas recomendam que arejar ambientes e o uso correto de máscara podem oferecer uma proteção muito mais eficaz do que a limpeza constante de superfícies ou a aplicação incessante de álcool em gel nas mãos.
“Você pode desinfetar um teatro ou um cinema da cabeça aos pés, por exemplo, com tudo praticamente esterilizado. Mas, se houver uma ventilação ruim, essa desinfecção não adiantou nada. Tudo bem entrar em uma loja e passar álcool em gel na mão, é saudável, mas, se for só isso, não adianta. Um ambiente aberto é muito mais seguro”, avalia a epidemiologista Denise Garrett. Ela pondera que, em espaçso abertos, cuidados como uso de máscara e distanciamento das pessoas continuam relevantes.
Uma boa ventilação é importante porque dispersa as partículas contaminantes que podem estar suspensas no ambiente, por isso encontros ao ar livre são considerados mais seguros por especialistas do que nos espaços fechados, especialmente em situações de longa permanência no local. O infectologista Unaí Tupinambás, membro do comitê de enfrentamento à pandemia de Belo Horizonte, alerta que o tempo frio do outono e do inverno poderá aumentar os casos de contaminação, já que pessoas tendem a recorrer a locais fechados e pouco ventilados nessa época.
‘Teatro da higiene’ prejudica prevenção
Na perspectiva da vice-diretora do Hospital das Clínicas da Unicamp, a infectologista Raquel Stucchi, as evidências do risco de locais pouco arejados desmontam o chamado “teatro da higiene”, quando estabelecimentos fazem da medição de temperatura, higienização de superfícies e das mãos a principal estratégia de cuidados, mas permitem aglomerações e não se preocupam com a ventilação adequada ou com o uso de máscaras ajustadas. “Isso não é só energia, mas dinheiro desperdiçado. O foco deve ser em manter as mãos limpas, usar máscara e preferir ambientes abertos. Isso pode ficar em segundo plano com medidas sem necessidade como usar tapete sanitizante e passar álcool a cada dez minutos”, diz a infectologista.
O pós-doutorando na Faculdade de Medicina de Vermont (EUA) e membro do Observatório Covid-19 BR, Vitor Mori, cita as escolas como mais um exemplo: “Seria muito mais importante que a criança ficasse só ao ar livre o tempo inteiro, ou que se verificasse a máscara bem ajustada. Mesmo em locais que têm pátio, quadra, espaço ao ar livre, coloca-se todo mundo na sala e parquinhos são até fechados por medo de transmissão por superfície. Há o argumento de colocar as crianças para lanchar na sala para garantir o distanciamento entre elas, mas isso não faz sentido, elas tiram a máscara para comer. Se alimentar ao ar livre seria muito mais seguro. As coisas estão completamente invertidas”, elabora.
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“Em uma escola, por exemplo, você pode colocar um exaustor na janela, pode colocar um medidor de gás carbônico no local e ter noção da troca de ar no ambiente. Se estiver alto, medidas simples podem ser feitas, como abrir determinadas janelas e colocar ventiladores em algumas para trocar o ar. Tudo isso deveria fazer parte de protocolos, explicando o que é uma boa ventilação e quantas trocas de ar são necessárias em ambiente fechado”, exemplifica.
Em Belo Horizonte, segundo a prefeitura, 30 escolas municipais precisaram passar por adequações como ampliação das janelas. Até então, o governo municipal informa ter recebido apenas uma denúncia por falta de manutenção de ar condicionado, em uma academia, o que compromete a ventilação do local.
Em locais pouco ventilados, máscara de qualidade e bem ajustada oferece proteção
Especialmente quem não pode evitar a permanência em local fechado e pouco ventilado precisa utilizar máscaras de boa qualidade e com ajuste adequado ao rosto, destaca o pesquisador Vitor Mori. Tal qual personalidades da saúde no Brasil, como o médico Dráuzio Varella e o biólogo Átila Iamarino, ele recomenda as máscaras do tipo PFF2 para essas situações.
Caso ainda se opte por uma máscara de pano, é importante observar alguns critérios: pela orientação da OMS, ela deve ter três camadas: uma interna e material que absorve água, como algodão; uma intermediária de material sintético ou de algodão e uma externa de material repelente a água, como poliéster. “A principal forma de contágio continua sendo por gotículas que não passam de um metro e meio da pessoa contaminada e máscara de tecido protege nesse caso, desde que seja adequadamente fabricada”, pontua a infectologista Raquel Stucchi. Seja qual for a máscara, ela não pode estar frouxa no rosto e precisa vedar a entrada e saída do ar no queixo, nas bochechas e ao redor do nariz.