A hemorragia pós-parto é uma complicação marcada por um sangramento aumentado logo depois do nascimento do bebê. Ela é decorrente, em maior frequência, de uma falha na contração do útero. O problema atinge entre 1 e 5% das mulheres e representa uma das principais causas de morte materna em todo o mundo. No Brasil, é a segunda maior.

Apesar de apresentar uma incidência praticamente homogênea entre os países, a mortalidade por hemorragia é inúmeras vezes maior em países e locais de baixa e média renda, demonstrando que, mais do que sua ocorrência por si só, são as demoras relacionadas ao diagnóstico oportuno e ao tratamento adequado que aumentam a probabilidade de desfechos graves.

Existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento da complicação, como descolamento prematuro da placenta, gestação de gêmeos, infecções, obesidade e hipertensão, além de problemas associados à própria cesariana.

Além da perda de sangue aumentada após o parto, os sinais e sintomas mais observados são a queda da pressão arterial, o aumento da frequência cardíaca, sudorese, mal-estar, agitação ou confusão mental e anemia — todos em graus variáveis de acordo com a quantidade de sangue perdido.

É importante esclarecer que o sangramento depois do parto pode se tornar volumoso em questão de minutos, embora esses sinais e sintomas possam se apresentar de maneira mais clara apenas tardiamente. Por esse motivo, a identificação de risco e a assistência por uma equipe profissional qualificada são essenciais para reduzir o risco de complicações graves. Medidas corretivas devem ser imediatamente iniciadas assim que existir a suspeita de que algo não vai bem.

O tratamento dessa hemorragia visa justamente cessar a perda sanguínea corrigindo o fator que levou à complicação: falha na contração do útero, retenção da placenta, lacerações, alterações na coagulação do sangue… Ao mesmo tempo, busca fornecer o suporte para a manutenção da pressão arterial e dos níveis de oxigênio da mãe. Além de medicações específicas e hidratação com soro, podem ser necessárias a transfusão de sangue e, em alguns contextos, até mesmo a retirada do útero.

A prevenção da hemorragia pós-parto começa com a realização de um bom acompanhamento pré-natal. Isso permite identificar e intervir em situações de risco, assim como planejar um local seguro para o parto, o incentivo pelo parto vaginal e o uso criterioso de medidas para garantir a proteção da mãe e do bebê. Outra estratégia é a recomendação, para todas as mulheres, de medicações que atuem na contração uterina logo após o nascimento da criança.

Muito tem se investido em todo o mundo para melhorar o atendimento das mulheres no parto e reduzir a mortalidade por hemorragia. Diversos treinamentos e cursos para os profissionais de saúde têm sido promovidos por instituições nacionais e internacionais. Também existem estudos em andamento para avaliar a efetividade de novos medicamentos para a prevenção do quadro, além de projetos visando à ampla disponibilização de materiais e insumos, como balão intra-uterino, de maneira acessível em locais de baixa renda.

Todos esses esforços têm e terão um impacto positivo para a preservação da vida e da saúde das mulheres.

* Dra. Samira Haddad é obstetra e doutora em ciências médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Fonte:saude.abril.com.br