O ex-presidente Michel Temer revelou durante entrevista nesta segunda-feira que ligou para seu sucessor Jair Bolsonaro para dar ‘palpites’ sobre o modo de governar o país, especialmente durante a pandemia de COVID-19.


No vídeo, produzido pelo site Conjur, Temer disse que sugeriu ao atual presidente da República que determinasse medidas de isolamento social no país e que falasse menos com a imprensa.


“Num dado sábado, resolvi ligar para o presidente Bolsonaro. Pedi licença e dei dois palpites. O primeiro é que ele deveria decretar um isolamento social por 10, 12, 15 dias, dizendo que iria fazer uma revisão dali a 15 dias”, disse Temer em um vídeo que contou com a participação dos também ex-presidentes Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, com mediação de Nelson Jobim, ex-ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal (veja o vídeo). https://www.youtube.com/watch?v=AavJLt0hi0M&feature=emb_logo


Temer completou, sobre o segundo conselho. “Segundo, que não falasse todo dia com a imprensa. Aquela coletiva que ele dá de manhã. O presidente muitas vezes faz a pauta do país. Ele diz de manhã e passa em conflituosidades o dia todo pelo que disse. Você precisa ter um porta-voz para falar o que aconteceu durante o dia e você fala uma vez, duas vezes por semana”.


Entretanto, apesar de ter ouvido as recomendações, Bolsonaro parece não tê-las acatado, segundo Temer. “Foram dois palpites que eu dei. Ele até recebeu muito bem, mas percebo que depois conduziu-se outra maneira. Afinal ele é o presidente”, disse.Manifestações contra STF e Câmara

Michel Temer recriminou a participação de Bolsonaro em manifestações contra os poderes Legislativo e Judiciário. De acordo com o ex-presidente, o clima bélico criado por esses atos não é característico do povo brasileiro.


“Essa coisa de participar de eventos detrimentosos, desvalorizadores do Legislativo e do Judiciário, especialmente do Supremo, vai gerar um certo ódio. Uma raivosidade no pais, que não é típica do brasileiro”, analisou.


Fernando Henrique Cardoso também criticou a forma agressiva com a qual Bolsonaro tem conduzido sua carreira política, sobretudo no comando do Executivo nacional.

“O momento é muito delicado e, como está existindo um esfacelamento de poder, cada Poder da República quer ocupar espaço. É preciso contenção. O presidente da República é um pouco como um poder moderador. Ele é Executivo, mas como chefe da nação tem que ouvir a todos e fazer a composição. O presidente atual, como vai para a agressão e não a coesão, abre espaço para que outros poderes queiram cumprir funções que são próprias do Executivo”, afirmou FHC.